A aplicação Tea Dating Advice, que permite a partilha, entre mulheres, de informações de homens com quem se relacionaram, foi hackeada e cerca de 72 mil imagens, incluindo selfies das utilizadoras, foram divulgadas.

O ataque aconteceu depois de, na última semana, a app ter chegado ao primeiro lugar de downloads da App Store da Apple nos EUA, o único país onde está disponível.

Lançada em 2023, a Tea Dating Advice apresenta-se como uma “app obrigatória, que ajuda mulheres a evitarem red flags (comportamentos alarmantes) antes dos seus encontros, dando-lhes conselhos e mostrando quem está de facto por trás do perfil da pessoa com quem se vão encontrar”. O criador Sean Cook diz ter decidido criar a aplicação depois de ter testemunhado a experiência “aterradora” da sua mãe no mundo do online dating.

A aplicação disponibiliza as fotos de homens, os nomes e localização. Todas estas informações são inseridas pelas utilizadoras. As restantes podem reagir à publicação com bandeiras verdes ou vermelhas, consoante a avaliação que fazem do comportamento da pessoa, podem também comentar, pedir conselhos ou trocar informações.

Há também a possibilidade de ver o background dos homens, investigar potenciais traidores, procurar registos criminais ou fazer uma pesquisa reversa das fotografias, para perceber se determinado perfil se trata de catfishing (pessoas que usam fotos de outras nos seus perfis, com intenções enganadoras).


Não é a única ferramenta para quem procura ter encontros mais seguros — ou perceber se está a ser traída ou a sair com alguém comprometido. Por todo o mundo, existem grupos no Facebook onde mulheres partilham experiências e inquietações. Em Fevereiro último, o Guardian deu conta de existência de grupos deste género com 150 mil membros, como era o caso do de Londres. Identificou outro em Nova Iorque, com 164 mil membros; em Toronto, com 81 mil e em Sydney, com dez mil.

Em Portugal, o grupo Are we dating the same guy?, com mais de dois mil membros, apresenta-se como uma ajuda para “navegar no mundo dos relacionamentos de forma mais informada, consciente e segura”. Avisa que apenas mulheres podem fazer parte e incentiva à partilha de experiências positivas. “É extremamente proibido difamar o sexo masculino e feminino”, alertam as administradoras.

Desde o lançamento da Tea Dating Advice, as reacções foram polarizadas: alguns congratularam uma nova forma de proteger as mulheres de homens potencialmente perigosos; outros disseram ser uma violação da privacidade e potencial veículo de difamação de homens. Esse medo criou até um mercado paralelo, com pessoas a pedirem dinheiro aos que quisessem saber o que por lá era dito sobre eles.

Recentemente, teve um pico de crescimento. De acordo com a PeakMetrics, citada pela Business Insider, a partir do dia 17 de Julho verificou-se um pico nos downloads – uma data que se alinha com o episódio da kiss cam no concerto dos Coldplay, que desvendou um caso extraconjugal.

Foi depois desse crescimento que a app foi hackeada. Segundo o New York Times, a informação exposta pertencia a utilizadores que se inscreveram na aplicação antes de Fevereiro de 2024 – nomeadamente as selfies necessárias para fazer um registo. Terão sido divulgadas mais de 72 mil imagens, entre fotografias e outras informações. Até 2023, as utilizadoras tinham de incluir no registo a sua localização, data de nascimento e fotografia da identificação.

De acordo com a política de privacidade da Tea Dating Advice, as selfies inseridas são apagadas do sistema pouco depois de ser verificada a autenticidade dos perfis, mas as imagens divulgadas terão sido guardadas “em conformidade com os requisitos das autoridades em relação à prevenção do ciberbullying” e não terão sido transferidas para sistemas mais recentes e mais bem protegidos.

Depois do ataque, a Tea Dating Advice disse estar a trabalhar na segurança da aplicação e referiu que não há provas de que mais conteúdo tenha sido divulgado.