Um voo fretado pelos EUA descolou da Louisiana na segunda-feira e estava programado para chegar ao Catar na noite de terça-feira para que os deportados pudessem ser transferidos para um voo com destino a Teerão, disse a autoridade norte-americana.
Este primeiro grupo deverá chegar ao Irão nos próximos um ou dois dias, disse a fonte iraniana.
Ao todo, cerca de 400 cidadãos iranianos, tanto criminosos condenados como imigrantes ilegais nos Estados Unidos da América, serão expulsos ao abrigo da política migratória de Donald Trump, referiu o responsável dos serviços migratórios dos EUA, sob anonimato.
Alguns iranianos, que tentaram entrar ilegalmente dos Estados Unidos, voluntariaram-se para regressar ao seu país depois de terem estado em centros de detenção durante meses.
Fontes iranianas garantem que a maioria consentiu em voltar.
Deportações sob Trump
O diretor-geral de assuntos parlamentares do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão, Hossein Noushabadi, confirmou que as deportações abrangem quatro centenas de pessoas.
“Na primeira etapa, decidiram deportar 120 iranianos que entraram ilegalmente nos EUA, a maioria dos quais através do México”, disse à agência de notícias semioficial Tasnim.
“Alguns tinham autorização de residência, mas, devido a razões referidas pelo gabinete de imigração dos EUA, foram incluídos na lista. É claro que foi obtido o seu próprio consentimento para o seu regresso”, acrescentou Noushabadi. De acordo com fontes citadas pelo jornal New York Times, os que estavam a bordo viram o asilo negado ou ainda não tinham comparecido perante um juiz.
Os EUA deram historicamente abrigo aos iranianos que fugiam da perseguição no seu país, embora alguns tenham sido reenviados no passado.
Trump planeia deportar um número recorde de pessoas que vivem nos EUA sem estatuto legal, após o que descreve como um elevado número de passagens ilegais de fronteiras sob o seu antecessor democrata, Joe Biden.
O seu governo tem lutado para aumentar os níveis de deportação, mesmo tendo criado novas vias para enviar migrantes para outros países que não o seu. Em fevereiro, os EUA deportaram, para o Panamá, 119 pessoas de diferentes países, incluindo do Irão, no âmbito de um acordo entre os dois países.
Noushabadi instou Washington a respeitar os direitos dos migrantes iranianos nos Estados Unidos.
Esta não foi a primeira vez que cidadãos iranianos tiveram problemas com a Administração Trump. Entre agosto de 2019 e janeiro de 2020, entre receios iniciais da epidemia de Covid-19, pelo menos 16 estudantes iranianos foram detidos e deportados após chegarem aos aeroportos dos EUA, apesar de terem vistos de estudante válidos.
Teerão considerou as decisões “ilegais e racistas”.
As autoridades norte-americanas invocaram então preocupações com a saúde, ou com crime e segurança, em que os estudantes deveriam comprovar a sua inocência.
Cerca de 12.000 cidadãos iranianos estudam nos EUA. Os serviços norte-americanos da fronteiras lembraram então que a detenção de um visto não garante entrada automática no país.
Entendimento raro
A transferência iniciada esta segunda-feira, marca uma coordenação pouco habitual entre Washington e Teerão, que há décadas se enfrentam no plano diplomático e económico, pelo controlo do Médio Oriente, em especial sobre Israel e sobre o programa nuclear iraniano, que os EUA afirmam destinar-se a produzir armas nucleares.
A comunidade internacional voltou a aplicar este fim-de-semana sanções ao Irão, por Teerão recusar a entrada a inspetores da Agência para a Energia Atómica da ONU, para reavaliar as capacidades nucleares do país. Os EUA e o Irão não têm laços diplomáticos oficiais e não têm embaixadas nos países um do outro.
Teerão apressou-se a frisar que este acordo de deportação foi consular e não político. Nem a Administração Trump nem o Departamento de Estado dos EUA responderam a pedidos de comentário enviados pela Reuters.
Mas a expulsão coincidiu com a apresentação de Trump do seu plano para Gaza, no final da qual o presidente norte-americano assumiu algum otimismo de uma eventual futura inversão da política iraniana com Israel, que o regime dos clérigos muçulmanos xiitas jurou destruir.
Donald Trump admitiu no final da apresentação da sua proposta de paz para Gaza, que, um dia, o Irão poderá assinar os Acordos de Abraão, que normalizaram as relações de Israel com os Emirados Árabes Unidos e o Bahrain, em 2020.
Trump não especificou se esse momento será protagonizado pelo atual governo dos Ayatollahs, ou se por um eventual governo que suba ao poder depois de derrubar o regime religioso xiita. Os EUA apoiam há décadas movimentos civis de resistência internos iranianos.