Renato Soares, fotógrafo que coloca os povos originários no centro de suas lentes desde os anos 80, é o entrevistado do Provoca desta terça-feira (30).
Na edição, apresentada por Marcelo Tas e exibida às 22h, o convidado relembra seu início na fotografia, compartilha como conquista a confiança de seus fotografados e faz uma crítica aos governantes por não darem poder efetivo aos indígenas.
Em uma aldeia Krahô, eternizou o último suspiro de uma criança nos braços da avó, sendo este um dos trabalhos mais marcantes de sua trajetória.
“Escorria dos olhos da avó uma lágrima e ela para no ar aqui, e a criança dá o último suspiro. Quando eu revelei aquilo e ampliei, eu vi que no reflexo da gota da lágrima se refletia quase que o ambiente ali. (…) [Isso] me causou uma transformação”, conta.
Foi a partir desse momento que Soares decidiu retratar “o que o outro tem de melhor”, já que, segundo ele, a fotografia costuma premiar a dor e a guerra, mas seu compromisso pessoal e profissional passou a ser com a dignidade e a beleza.
A arte sempre esteve presente em sua vida. O fotógrafo cresceu em um lar musical, onde a mãe cantava e o pai tocava instrumentos, mas foi aos 16 anos, durante uma viagem com os amigos à Serra da Cantareira, que teve o primeiro contato com a câmera. Ao avistarem o caminhão de uma construtora despejando lixo no local, tiveram a iniciativa de registrar para denunciar.
“Peguei a máquina e disse: ‘deixa que eu fotografo’”, lembra. Ele ainda revela que esse ocorrido foi o responsável por descobrir sua vocação e o poder da fotografia, já que, mais tarde, a empresa disponibilizou caminhões para fazer um mutirão e recolher lixos, mudando a realidade.
No bate-papo, Renato também faz uma crítica aos governantes ao ser provocado por Tas sobre a frase: “A esquerda, quando chega ao poder, deixa de ser esquerda e se torna apenas poder”. Do ponto de vista dele, nenhum presidente realmente ajudou o meio ambiente e os povos originários, ainda que, no cenário atual, com Lula como chefe de Estado, houveram avanços, mas ainda é necessário firmeza: “O governo atual escuta mais, dá voz aos indígenas, mas não deu poder a eles. Dar voz é uma coisa, dar poder é outra. Executar aquelas ações é necessário”, expõe.
Sobre Renato Soares
É fotógrafo e documentarista indigenista, com quase 40 anos de dedicação à cultura e à memória dos povos originários do Brasil. Seu primeiro grande contato com as comunidades ocorreu ainda no fim dos anos 1980, com os Xavantes, e pouco depois no Vale do Javari, onde fez a foto que marcaria sua vida: a do menino Matsé submerso na água.
Ao longo da carreira, teve imagens publicadas em veículos como National Geographic e Scientific American, realizou exposições em instituições como o MASP e a Caixa Cultural, e publicou livros de referência, entre eles “Krahô”, os “Filhos da Terra” (1996), “Universo Amazônico” (2012) e a coleção contínua “Povos Originários”, dentro do projeto “Ameríndios do Brasil”. Parte da renda de seu trabalho é revertida às comunidades retratadas, em um modelo de valorização e sustentabilidade cultural.