Os últimos meses têm sido pródigos no ditado da Administração Trump aos anais da história do que é o perfil desejado pelos novos republicanos para o país e para o arquétipo do cidadão americano. No dia da tomada de posse do 47.º presidente dos Estados Unidos vimos um Donald Trump animado enquanto dançava no meio do Village People. Talvez um equívoco do milionário, agora dedicado a perseguir a diversidade e em busca de uma certa ordem para a América.

Esta terça-feira, Donald Trump rumou à base e centro de treino dos fuzileiros na Virgínia para explicar essa lista de prioridades ao aparelho militar americano. Donald Trump terá sido igual a si próprio, num discurso centrado em si mesmo e apontando a todos aqueles que considera seus inimigos, o que por norma vale observações que têm tão pouco de lisonjeadoras como de verdadeiras contra os jornalistas, os adversários democratas, muitas das vezes apontados não como adversários mas como inimigos, e contra os legisladores que o contrariam.

Foi o que aconteceu esta tarde em Quantico, mas o violento discurso entregue por Trump à elite militar do país, de acordo com a France Presse, foi acolhido por um silêncio dos generais e almirantes reunidos na base militar dos fuzileiros. Igual para o apelo às altas chefias no sentido de se mobilizarem contra o “inimigo interno”.

Rotulando de “inimigo interno” essa agenda MAGA de luta contra os imigrantes indocumentados, contra o jornalismo e a oposição em Washington. Trump ter-se-á lançado em Quantico numa diatribe violenta contra os seus ódios de estimação, com a agência France Presse a sublinhar que não é normal um presidente entrar pela via das considerações partidárias quando perante este tipo de plateias. Mas Trump não é um presidente normal no respeitante ao politicamente correto.

Quando deixava a Casa Branca para se dirigir a este encontro de generais, afirmou: “Se houver alguém de quem não goste, despeço-o imediatamente”. Reafirmaria depois esta ideia dizendo diretamente às altas patentes que quem não estivesse com ele podia ir-se embora.

Hegseth quer limpar os destroços

Sobre o inimigo interno agora nomeado, Trump falou das cidades “geridas pelos democratas da esquerda radical (…) San Francisco, Chicago, Nova Iorque, Los Angeles”.

“São lugares perigosos. E nós vamos colocá-las em ordem uma a uma e isso será algo muito importante para algumas pessoas nesta sala. É também uma guerra. É uma guerra interna”, afirmou o presidente, lamentando as críticas que mereceu por ter enviado militares para várias cidades para combater a criminalidade e a imigração ilegal.

Pete Hegseth, estrela da Fox News e agora líder do Pentágono – o novíssimo Ministério da Guerra de Donald Trump, anteriormente designado por Ministério da Defesa –, tinha apontado a decadência do setor militar para dizer que o exército devia virar as costas a “décadas de declínio” devido às políticas de diversidade.

“Estamos a limpar os destroços”, afirmou Hegseth, a quem incomodam os cabelos compridos e as barbas no exército.

“Tornámo-nos no Ministério do woke, mas isso acabou”, anuncio o chefe do Pentágono, para assegurar que a escolha dos militares passaria a obedecer “apenas ao mais elevado padrão masculino”.

A observação do secretário da Defesa foi mais longe, com Pete Hegseth a apontar a um modelo em que os militares passarão a estar bem barbeados, com cabelo curto e na melhor forma física: “[É] inaceitável ver generais e almirantes com excesso de peso”.

A luta contra as alterações climáticas, o assédio, líderes “tóxicos” ou ainda a promoção baseada na raça e no género são outros “resíduos ideológicos” que Hegseth diz deixados pela anterior administração e que promete apagar no seu ministério.


Pete Hegseth não se coibiu de enunciar um lema para estes tempos que aí vêm: “FAFO”. Numa tradução livre desta sigla teremos “F* Around and Find Out”, que funciona como uma ameaça: “Faz m* e vais ver”.


O chefe dos militares prometeu mudanças profundas na forma como as queixas de discriminação são tratadas e como as acusações de má conduta são investigadas no Pentágono, afirmando que o sistema atual deixa os altos dirigentes a andar sobre ‘casca de ovo’.