Feira das Colheitas. Criada em 1944, o emblemático evento cultural do concelho de Arouca ganhou contornos pouco vistos nas últimas semanas. Tudo aconteceu porque a feira, que decorreu entre quinta-feira e domingo, coincidiu com a marcação do Arouca-FC Porto, jogo que o Município local considerou colocar em causa a segurança na cidade, pela elevada mobilização de policiamento. O parecer foi confirmado pela Proteção Civil e, a cerca de duas semanas desta partida da sétima jornada do Campeonato Nacional, a Liga Portugal comunicou o adiamento para o dia seguinte, ajustando ainda o Famalicão-Rio Ave, que passou para domingo, para o espaço horário do jogo de Arouca e à mesma hora que decorria o lotado concerto dos Némanus, que encerrou a Feira das Colheitas. Como não podia deixar de ser, estas mudanças motivaram diversas críticas dos dragões, que chegaram a ameaçar recorrer a uma providência cautelar para “anular o jogo de Arouca”, bem como dos rio-avistas.
A poucas horas da partida, André Villas-Boas recorreu ao seu editorial na revista Dragões para criticar os “calendários erráticos, decisões tardias e leituras enviesadas dos regulamentos” que “minam a competitividade” num “futebol português transformado num palco de trapalhadas em catadupa”. “O que tem feito o principal responsável [Reinaldo Teixeira] pela resposta a este adivinhado declínio? Pouco. Muito pouco. Traz respostas, mobiliza os clubes para uma resposta coletiva e organizada? Não. É inócuo e vazio na sua liderança dos clubes portugueses”, escreveu o presidente portista. Questionado pelos acontecimentos, o presidente da Liga Portugal remeteu a sua resposta para a Assembleia Geral desta terça-feira. Ainda assim, a cidade de Arouca acordou esta segunda-feira com diversas mensagens críticas da autoria da claque Super Dragões: “Liga do Teixeira? Saiu colheita podre”, “Teixeira em part-time? Uma vergonha por inteiro” ou “Margarida Belém [presidente da Câmara] adia o Dragão para dar vantagem ao lampião”, foram algumas das frases escritas em diferentes pontos da cidade.
Ficha de jogo
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Arouca-FC Porto, 0-4
7.ª jornada da Primeira Liga 2025/26
Estádio Municipal de Arouca
Árbitro: Fábio Veríssimo (AF Leiria)
Arouca: João Valido; Tiago Esgaio, Matías Rocha, Boris Popovic, Arnau Solà; Taichi Fukui, David Simão (Espen van Ee, 79’); Alfonso Trezza (Brian Mansilla, 56’), Pablo Gozálbez (Miguel Puche, 65’), Naïs Djouahra (Dylan Nandín, 65’); Iván Barbero (Romualdas Jansonas, 78’)
Suplentes não utilizados: Nico Mantl; Amadou Danté, Omar Fayed e Alex Pinto
Treinador: Vasco Seabra
FC Porto: Diogo Costa; Martim Fernandes, Jan Bednarek, Jakub Kiwior, Francisco Moura (Zaidu Sanusi, 68’); Alan Varela, Victor Froholdt, Gabri Veiga (Pablo Rosario, 50’); Pepê (Alberto Costa, 68’), Borja Sainz (Dominik Prpic, 68’) e Samu Aghehowa (Deniz Gül, 46’)
Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos; William Gomes, Yann Karamoh e Rodrigo Mora
Treinador: Francesco Farioli
Golos: Samu (12’), Gül (51’), Moura (60’) e Zaidu (85’)
Ação disciplinar: cartão amarelo a Trezza (3’), Martim (6’ e 48’), Popovic (33’), Gül (63’), Gozálbez (64’), David Simão (69’) e Esgaio (74’), vermelho a Martim (48’)
No que ao futebol diz respeito, o FC Porto inaugurou em Arouca uma sequência louca de três jogos em sete dias, que contempla a receção ao Estrela Vermelha, na Liga Europa, e termina com o clássico frente ao Benfica, também no Estádio do Dragão. Ainda assim, a equipa de Francesco Farioli encarava a semana antes de mais uma pausa para os compromissos internacionais de bom ar, a viver uma série com sete vitórias nos sete jogos até aqui realizados, com 15 golos marcados e apenas um sofrido. Apesar das dificuldades, a máquina do treinador italiano continua bem oleada, mesmo com pouco tempo para preparar as partidas. Na visita à Serra da Freita, as principais dúvidas prendiam-se com a eventual rotação imposta pelo treinador, bem como com o lado direito da defesa, onde Martim Fernandes e Alberto Costa podiam voltar a jogar, relegando Pablo Rosário para o banco. Domingo foi dia de 132.º aniversário, pelo que o presente mais desejado pelos adeptos podia aparecer já no dia seguinte.
“[O Arouca] é uma das equipas mais interessantes de se ver. Tenho muito respeito pelo que estão a fazer. O treinador deles tem um registo muito bom contra o FC Porto e temos de estar ainda mais bem preparados. Com o Sporting, antes do vermelho, o jogo estava equilibrado e foram corajosos na forma como encararam o jogo. Houve coisas que mudaram a dinâmica do encontro. Tenho alertado toda a gente para o que vamos enfrentar amanhã [segunda-feira]. É bom mostrarmos solidez e capacidade de não sofrer golos. Em Salzburgo foi um dos primeiros jogos em que concedemos oportunidades ao adversário. Mas tudo tem a ver com a fome e o desejo de fazer as coisas. O que pode acontecer e o que não deve acontecer é pensarmos que as coisas se tornam fáceis. Bons resultados não aparecem do nada. Há três meses era difícil ganhar um jogo. Se obtemos estes resultados deve-se ao trabalho que estes jogadores colocam em campo desde julho”, explicou Farioli na antevisão à partida.
Os lobos de Arouca chegaram a este encontro a viver uma boa fase, depois de ter vencido em casa do Nacional na última jornada (2-1). Desde o início da época, os arouquenses só tinham somado duas derrotas, em Alvalade e frente ao Casa Pia, e empatado com o Rio Ave e o V. Guimarães. A expulsão de Jose Fontán na Madeira obrigava Vasco Seabra a mexer na sua equipa, em particular no centro da defesa. “Espero um FC Porto dentro daquilo que tem sido: uma equipa muito agressiva, muito intensa, com muita capacidade e que tem apenas um golo sofrido no Campeonato. Portanto, uma equipa difícil de bater. Queremos fazer a nossa parte, mostrar aquilo que é a nossa identidade, aquilo que é o nosso jogo e competir, que é a palavra-chave para este jogo. Temos de competir com o FC Porto desde o primeiro até ao último segundo”, sublinhou Seabra.
Hoje é aqui ????
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Como seria de esperar, Francesco Farioli concedeu mesmo a titularidade no lado direito da defesa a Martim Fernandes, que relegou Pablo Rosario para o banco de suplentes. Para além dessa mudança, o treinador também mexeu no setor oposto, com Francisco Moura a render Zaidu Sanusi. Antes do apito inicial, Stephen Eustáquio, que estava escalado para o banco de suplentes, sentiu-se indisposto no aquecimento e teve de ser substituído por Dominik Prpic. No Arouca, Vasco Seabra fez quatro alterações na sua equipa. Matías Rocha entrou para o lugar de Fontán, com Arnau Solà a render Amadou Danté no lado esquerdo da defesa. No ataque, Pablo Gozálbez atuou no apoio a Iván Barbero, por trocas com Hyun-ju e Dylan Nandín.
Os arouquenses até entraram destemidos na partida e, no primeiro minuto, visaram a baliza de Diogo Costa, com um remate de longe de Taichi Fukui (1′), mas, com o passar dos minutos, os dragões começaram a impor-se e a encostar o adversário à sua área. Na primeira ocasião, Gabri Veiga desferiu um remate forte que saiu ao lado (5′) e, pouco depois, Jan Bednarek lançou Victor Froholdt no ataque, o médio embrulhou-se com Tiago Esgaio e João Valido, depois de um erro de Boris Popovic, e Samu Aghehowa aproveitou para finalizar para a balizar deserta (12′). A superioridade portista continuou e, depois de um cruzamento de Borja Sainz, Pepê dilatou a vantagem, em mais uma má abordagem da defesa, mas o lance acabou anulado por fora de jogo do espanhol (21′). Já depois de Samu ter ameaçado uma lesão no joelho, o FC Porto voltou à carga no fim do primeiro tempo, com Sainz a obrigar Valido a uma grande defesa (42′) e Moura atirar ao poste com a baliza praticamente aberta (44′).
Ao intervalo, Francesco Farioli retirou mesmo Samu, por precaução, e colocou Deniz Gül no seu lugar. Na primeira jogada de perigo, Francisco Moura acabou a desferir um remate forte para defesa atabalhoada de João Valido, com Borja Sainz a rematar por cima, na sequência do lance (47′). Logo a seguir, Pablo Gozálbez ganhou a bola a meio-campo e acabou rasteirado por Martim Fernandes, que chegou tarde ao lance e viu o segundo amarelo (48′). O treinador respondeu com Pablo Rosario no lugar de Gabri Veiga e, na sua primeira jogada em campo, o novo lateral recuperou a bola em zona subida e colocou-a em Gül, que deixou para Pepê. O internacional brasileiro aproveitou a passividade defensiva para conduzir até à entrada da área e servir o turco que, só com o guarda-redes pela frente, fez o seu golo (51′). Com os dragões em 4x4x1 e confortavelmente em vantagem, Vasco Seabra lançou Brian Mansilla para o lugar de Alfonso Trezza, mas a tendência do desafio manteve-se intocável.
Em mais um lance irrepreensível de contra-ataque, Froholdt serviu de apoio e conduziu para a área, entregou em Sainz, que aguentou e deixou para a desmarcação de Francisco Moura nas suas costas, com o lateral a rematar rasteiro e cruzado para o 0-3 (60′). Já com Miguel Puche e Dylan Nandín no ataque, e Prpic, Alberto Costa e Zaidu na defesa, Jakub Kiwior atira à malha lateral na conclusão de um livre (72′). Para a reta final saíram do banco arouquense Espen van Ee e Romualdas Jansonas, mas quem acabou por aproveitar foram os dragões, em mais um lance em que a defesa deixou muito a desejar. Diogo Costa bateu longo na direita, Alberto e Gül embrulharam-se com um defesa e acabaram por levar a melhor, com o lateral a cruzar rasteiro para o desvio certeiro de Zaidu, em cima da baliza (85′).