Muitas vezes eles são motivo de risada e de constrangimento, mas os puns (ou flatos, no termo médico) são parte natural do funcionamento e saudável do nosso organismo. Produzidos durante a digestão, eles podem variar em frequência, cheiro e até barulho. E, embora sejam geralmente inofensivos, em alguns casos podem dar indícios de que algo não vai bem no sistema digestivo.

“Os puns são o resultado da digestão do que a gente come, a partir da fermentação feita pelas bactérias que estão no intestino, principalmente o grosso (cólon)”, explica o gastroenterologista Marlone Cunha, do Serviço de Gastroenterologia do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Além disso, explica Cunha, parte do ar que engolimos ao falar, beber ou mastigar chiclete também acaba saindo em forma de pum.

A gastroenterologista Ana Cristina Teixeira, do Centro Especializado em Aparelho Digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, reforça que os puns são consequência da ação da microbiota intestinal. “A flora intestinal realiza a decomposição de carboidratos, proteínas e gorduras que ainda não foram totalmente digeridos, resultando na produção de gases.”

Veja abaixo as principais dúvidas sobre o assunto.

Os puns são um sinal de que o intestino está funcionando bem, mas é importante buscar apoio ao notar outros sintomas associados Foto: nicoletaionescu/Adobe Stock

1- O pum tem alguma função no organismo?

De acordo com os especialistas, ter gases é absolutamente normal e, mais que isso, é desejável. “Quando a gente produz gases, sabemos que o intestino está funcionando e que as bactérias estão trabalhando. O ideal é ter gases”, diz Cunha. Ana Cristina complementa: “A produção, quando em níveis normais, é um bom indicador da saúde digestiva e do equilíbrio da microbiota. Além disso, evita sintomas como estufamento e dor abdominal.”

2- O que explica o mau cheiro?

A maioria dos puns não tem cheiro forte, mas alguns podem ter odor bastante desagradável. O motivo, na maioria das vezes, está na alimentação. “A decomposição de uma dieta rica em fibras e proteínas, por exemplo, pode gerar gases como metano, hidrogênio e dióxido de carbono, que resultam em odor desagradável. Já os alimentos ricos em gorduras produzem enxofre durante o processo de fermentação no intestino, que também causa mau cheiro”, descreve Ana Cristina.

Além da alimentação, alguns problemas podem alterar o odor. “Sangramentos intestinais, obstruções ou feridas podem dar origem a gases com cheiro muito ruim”, explica o especialista da Unicamp.

3- Quais alimentos mais favorecem os gases?

Feijão, lentilha, grão-de-bico, brócolis, couve-flor, repolho, batata-doce, cebola e bebidas gaseificadas (água com gás, refrigerante e espumantes) estão entre os principais responsáveis por aumentar a flatulência.

“Uma avaliação minuciosa com um gastroenterologista permitirá a identificação de possíveis causas da flatulência, e a adequação da dieta junto a um nutricionista é uma medida importante para o alívio dos sintomas e a promoção da qualidade de vida”, pondera Ana Cristina.

4- Quantos puns por dia são normais?

A quantidade pode variar de pessoa para pessoa, mas, em geral, indivíduos saudáveis costumam liberar de 10 a 25 puns por dia. Cunha comenta que soltar mais do que isso não é motivo para inquietação, desde que não haja sintomas associados.

5- Quando o excesso de gases deve ser motivo de preocupação?

A atenção médica é necessária quando a flatulência estiver acompanhada de outros sinais, como anemia, fraqueza, dor ou distensão abdominal e mudanças importantes no hábito intestinal. “Se a pessoa era constipada e passa a ter diarreia, ou o contrário, ou ainda apresenta um início súbito de excesso de gases, isso merece investigação”, explica Cunha.

Ana Cristina ressalta que a causa da flatulência intensa é complexa, podendo envolver componentes orgânicos e desordens do eixo intestino-cérebro, uma vez que o sistema digestivo possui milhões de terminações nervosas que sofrem influência do sistema nervoso central. “Dentre as causas mais comuns de produção excessiva de gases intestinais destacam-se a intolerância à lactose, a doença celíaca e a síndrome do intestino irritável”, diz.

6- Em quais situações o uso de medicação para gases é recomendado?

O primeiro passo diante do excesso de gases e prisão de ventre deve ser o ajuste da alimentação. Em alguns casos, pode ser indicado o uso de medicamentos antiflatulentos, como a simeticona, que facilita a eliminação dos gases e ajuda a reduzir sintomas como dor, pressão e desconforto abdominal.

No entanto, o gastroenterologista Cunha ressalta que a automedicação não é recomendada. “Antes de usar qualquer remédio, é preciso identificar a causa do excesso de gases. A partir do diagnóstico, pode-se orientar mudanças na dieta e, quando necessário, iniciar um tratamento adequado”, afirma.

7- O barulho indica algum problema de saúde?

Não. De acordo com o especialista da Unicamp, a intensidade do som o pum está ligada à forma como o gás é expelido e à contração da musculatura, mas não a problemas de saúde. “É um fenômeno mecânico, associado também à posição do corpo no momento da eliminação. Se a pessoa estiver em pé ou deitada, por exemplo, o barulho pode ser diferente”, esclarece.

8- O que fazer para reduzir a quantidade de puns?

Identificar quais alimentos desencadeiam maior desconforto é a primeira recomendação. Além disso, mudanças simples ajudam: praticar atividade física, reduzir o consumo de refrigerantes, evitar mascar chicletes e ajustar a dieta com orientação de um nutricionista. “Essas medidas melhoram o trânsito intestinal e diminuem a formação de gases incômodos”, orienta Cunha.

9- Segurar o pum faz mal?

Essa é uma dúvida comum. Cunha diz que não há evidências científicas de que reter gases cause doenças a longo prazo, mas esse hábito pode gerar dor e desconforto.

A médica Ana Cristina ressalta que a eliminação de gases é um processo normal do sistema digestivo e, portanto, “segurar o pum” pode promover aumento da pressão no interior do intestino. Isso é capaz de desencadear sintomas desagradáveis, como dor abdominal e sensação de estufamento. A recomendação é simples: usar o bom senso e escolher o local adequado para liberar os gases para que os puns passem a ser encarados como parte natural do funcionamento do corpo.