“O Afonso é um escalador, um ciclista de montanha. Já mostrou na Volta a Portugal que pode lutar pela geral em voltas de uma semana. Este ano foi convocado para o Giro, o que foi um bom sinal. Só o facto de ter sido convocado para uma das três Grandes Volta mostra que, dentro da estrutura da Bahrain, veem grande valor nele, não obstante da juventude e da falta de experiência. É sinal que os dados são bons e que dá confiança. O primeiro ano dele no World Tour é muito positivo. Voltista? Sem dúvida. Na Volta a Portugal mostrou que pode ser regular. A prova de que ele se pode tornar num voltista foi a chamada ao Giro. Quando um atleta é bom e tem qualidades físicas e mentais, acaba por se revelar. O Joaquim Andrade tem muita experiência, tem levado o Feirense a bons resultados e tem olho para escolher os ciclistas e desenvolvê-los. O que me espanta não é a evolução, é o trajeto que ele fez. Antes do Afonso teríamos que recuar alguns anos para vermos ciclistas jovens que tenham saído diretamente para o World Tour. O Afonso fez a sua evolução numa equipa portuguesa, que não compete internacionalmente como as equipas de Sub-23. O facto de ele se estar a dar bem é bom para o ciclismo português. Os olheiros estão mais atentos ao que se passa em Portugal”, explicou Beltrão.
Quanto ao futuro, o comentador considera que Eulálio vai estar “presente mais vezes em Grandes Voltas” ao serviço da atual equipa. “O Eulálio é um ciclista muito humilde, que parte do princípio de que está ali para aprender. O World Tour é uma coisa completamente à parte, as distâncias são maiores, as horas de corrida são maiores, a diferença de ritmo é abismal e o nível competitivo é maior. Um ciclista com a idade do Afonso Eulálio, que só tinha estado em estruturas portuguesas, competido em Portugal e que de repente cai no World Tour e faz o que ele fez este ano… podemos esperar coisas muito boas dele. Acho que ele pode chegar longe. Não sou visionário, não sou futurologista, mas acho que ele nos vai dar alegrias e que pode fazer uma boa carreira no World Tour. Tem mais um ano de contrato e tem qualidade para se manter”, concluiu Luís Beltrão em declarações ao Observador.
Obrigado Afonso Eulálio por cinco épocas fantásticas de Castelo ao peito!
Boa sorte nos teus novos desafios! pic.twitter.com/GVfU2W21wZ— FEIRENSE – BEECELER (@FeirenseCycling) December 21, 2024
Falar de Afonso Eulálio é falar de um dos melhores ciclistas portugueses da atualidade e de um percurso que esteve longe do convencional. Apesar de ter nascido numa região em que o ciclismo é imagem de marcar, Eulálio fez toda a juventude no BTT e só no segundo de júnior decidiu experimentar a vertente de estrada. A adaptação foi rápida, a progressão não ficou atrás e, no primeiro ano, apresentou-se como um dos juniores mais consistentes, vencendo o Circuito de Argoncilhe, o Memorial aos Ciclistas de São João de Ver e o Memorial Bruno Neves, para lá das oito vitórias que rubricou no BTT. Em 2020 deu o salto do São de Ver para a estrutura principal do Feirense, pela mão de Joaquim Andrade, antigo ciclista que esteve em ação nas décadas de 80 e 90 do século passado, bem como na primeira deste século, e conquistou a Volta ao Algarve, a Volta ao Alentejo e duas etapas na Volta a Portugal. Assim, com apenas 18 anos, o “pequeno” Afonso já se encontrava no topo do ciclismo português e na terceira divisão internacional, a Continental.
“A primeira corrida que vi do Afonso Eulálio foi em setembro de 2019, ainda era júnior. Estava no São João de Ver, equipa parceira do Feirense. Como era um circuito pude presenciar. O que mais me fascinou é que ele não era o mais forte, havia miúdos muito acima, e ele passou sempre em sofrimento. Na parte final vejo-o ao fundo da reta, isolado, com uns metros [de vantagem]. Aproveitou que se estavam a marcar, arrancou de trás e passou direto. Disse: ‘Este gajo tem fibra de ciclista’. Mudança para o Feirense? Penso que foi importante ele sentir aquele apoio, porque tenho a certeza que na altura ele imaginava vir a ser uma pequena parte daquilo que é hoje. É um excelente trepador, que faz muito bem as montanhas longas, e tem um espírito de adaptação. Está sempre disponível para o que a equipa pede, seja atacar em benefício próprio, seja ajudar os colegas. Para mim essa é a característica que o marca e tem ajudado à progressão que tem tido ano após ano”, contou Joaquim Andrade, diretor desportivo da formação sediada em Santa Maria da Feira, que atualmente compete como Feirense-Beeceler.
✍️ We are excited to announce the addition of four talented riders to our roster for the upcoming 2025 season:
Mathijs Paasschens
Afonso Eulálio
Roman Ermakov
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— Team Bahrain Victorious (@BHRVictorious) October 30, 2024
No primeiro ano como profissional, Afonso Eulálio integrou uma equipa bastante jovem, em que o ciclista mais velho era Rafael Reis, com apenas 27 anos. Para além do foguete de Palmela, o menino de 18 anos contou ainda com a experiência de Óscar Pelegrí. Com uma temporada mais reduzida motivada pela pandemia da Covid-19, e que levou a Volta a Portugal a ser organizada pela FPC, Afonso estreou-se no Circuito de Getxo-Memorial Hermanos Otxoa, em que acabou no 97.º e antepenúltimo lugar, mas começou desde logo a competir frente às equipas do World Tour. Seguiram-se os Campeonatos Nacionais, onde foi 18.º no contrarrelógio e 14.º na prova de fundo, ambas no escalão de Sub-23. A fechar a curta época, esteve no Grande Prémio Internacional de Torres Vedras-Troféu Joaquim Agostinho, em que terminou no 63.º lugar da geral e no 14.º da classificação da juventude.
O ano de 2021 ainda foi condicionado pela pandemia, mas permitiu a Afonso Eulálio ter mais dias de corrida (14), distribuídos por pouco mais de dois mil quilómetros. Depois do 37.º lugar na Clássica da Arrábida, o figueirense progrediu nos Campeonatos Nacionais e foi 11.º no contrarrelógio e nono no fundo em sub-23, naquele que foi o seu primeiro top 10 como profissional. Na Volta ao Alentejo, foi o oitavo melhor jovem, seguindo-se mais uma participação simbólica no Troféu Joaquim Agostinho. O ano terminou com três provas internacionais: a Prueba Villafranca-Ordiziako Klasika, em Espanha (não acabou), e a clássica Paris-Chauny (104.º) e o Tour de Vendée (não acabou), ambas em França. O melhor estava por vir e apareceu no ano seguinte, já como ciclista da Glassdrive Q8 Anicolor, formação que, à data, procurava contornar o domínio desportivo da W52-FC Porto.