Ela sempre mexeu com o imaginário coletivo de Jaraguá. Muitos acreditavam piamente na lenda urbana de que a casa era “giratória”; outros se impressionavam com o tamanho e a ousadia arquitetônica da época que foi construída.
Erguida nos anos 1970 pela família Kohlbach, a icônica Casa Redonda no Morro do Carvão é até hoje um dos imóveis mais emblemáticos da cidade. Ela se mistura com a história de Jaraguá, pois carrega a marca de um casal visionário que ajudou a transformar o município em um verdadeiro polo industrial, a partir de uma trajetória que marcou gerações.
Foto: Larissa Hofelmann/JDV
Por tamanha importância, o JDV em parceria com a Poder Imóveis recuperou essa história, e aproveitou para fazer uma visita ao local. Queríamos ver de perto como ela está hoje, o que ainda guarda dos seus tempos de glória e o que pode estar reservado para o futuro.
Spoiler: apesar da passagem do tempo, a casa segue incrivelmente imponente, preservada e com potencial para continuar fazendo parte de Jaraguá do Sul de forma viva e pulsante!
Um marco arquitetônico com vista incrível para a cidade
Vista de um dos cômodos da Casa Redonda. | Foto: Gabriela Bubniak/JDV
A Casa Redonda começou a ser erguida em 1972 e levou quatro anos para ser concluída. Seu formato circular refletia o gosto pessoal dos seus primeiros proprietários: Heinz Rodolfo e Berta Gertrudes Ilse Goetzke Kohlbach.
Segundo a neta do casal Katia Kohlbach, uma das proprietárias do local, antes da construção, o casal já havia morado em casas redondas. E, sempre que construíam moradias em formatos tradicionais, costumavam inserir elementos arredondados no projeto.
Janela redonda reflete estilo moderno da Casa Kohlbach | Foto: Gabriela Bubniak/JDV
O projeto da “casa da oma”, como ficou conhecida entre os descendentes da família, foi assinado pelo engenheiro Heino Willy Kude. Com estrutura de alvenaria, influências da arquitetura moderna e uma vista privilegiada do centro de Jaraguá do Sul, o imóvel rapidamente virou assunto na cidade.
Está localizada na Rua Irmãos Maristas e é ladeada por vegetação exuberante.
Clique na imagem para explorar a região pelo Google Maps. | Imagem Google Earth
Com mais de 1.500 m² divididos em quatro andares, a casa tem 20 cômodos. No primeiro andar ficam as áreas mais íntimas: a suíte do casal, a suíte de visitas, um quarto para hóspedes e um escritório.
Tudo gira em torno de uma ampla sala central, onde está a lareira em formato cônico – um dos elementos mais marcantes da casa.
Fotos: Gabriela Bubniak/JDV
No segundo andar, estão alguns dos principais ambientes sociais da residência. A ampla sala de jantar, com janelas generosas e iluminação natural, se conecta às elegantes salas de estar – espaços pensados tanto para o convívio familiar quanto para receber visitas.
O destaque aqui é a cozinha original, apelidada pela família de “cozinha dos Jetsons”. O apelido não é à toa: o ambiente combina cores vibrantes, como o verde dos azulejos e o branco dos armários, com uma distribuição inusitada dos móveis, todos planejados sob medida – com uma ilha para uma bancada com fogão.
A mesa redonda central, rodeada por cadeiras giratórias, reforça o clima futurista que marcou o imaginário a década de 1970.
No terceiro andar, está localizada a área de festas da casa, um dos espaços mais versáteis da construção. Ali, uma cozinha de apoio e uma churrasqueira interna se integram ao ambiente de forma prática e elegante, pensadas para receber eventos familiares e encontros sociais.
Um bar com balcão fixo, em estilo retrô, reforça o clima descontraído do pavimento. Ao lado, a sala de jogos, ainda equipada com móveis originais, dialoga com outro ambiente de estar, que conta com janelas amplas e vista privilegiada da cidade. Todo o andar foi projetado para o lazer, refletindo o gosto dos antigos moradores por celebrar momentos em boa companhia.
Já no último piso, ficam a piscina aquecida, um banheiro de apoio e acesso ao jardim. Durante a nossa visita este espaço estava fechado para reparos.
Todos os andares são conectados por um elevador feito sob medida para duas pessoas (hoje não mais em funcionamento) – mais um detalhe que surpreende, considerando a época em que foi construído.
Lustres, luminárias, papéis de parede e elementos decorativos vindos de várias partes do mundo ajudam a compor o cenário. Cada detalhe revela uma intenção de conforto, originalidade e memória afetiva.
Em 2023, a Casa Redonda foi oficialmente tombada como patrimônio histórico de Jaraguá do Sul. O pedido partiu da própria família Kohlbach, que procurou voluntariamente o município com a intenção de garantir a preservação do imóvel para as próximas gerações. A decisão foi homologada por decreto do, então, prefeito Antídio Lunelli e reconheceu a residência como “exemplar da arquitetura modernista”.
O tombamento não apenas protege a estrutura física da casa, como também reconhece seu valor cultural, histórico e afetivo para a cidade. Desta forma, a família optou por transformar a casa em um símbolo coletivo.
Da oficina de rádios à indústria internacional
Heinz e Ilse Kohlbach nasceram na Alemanha, se casaram no Brasil na década de 40 e se mudaram para Jaraguá do Sul por volta de 1948. Começaram com uma pequena oficina de conserto de rádios, que evoluiu para a fabricação de dínamos e, mais tarde, motores elétricos.
Assim nasceu a Kohlbach Motores Elétricos, que foi a primeira empresa brasileira a fabricar motores elétricos em escala industrial. A companhia chegou a empregar mais de 2 mil pessoas, exportar para diversos continentes e concorrer com gigantes como GE e Buffalo. Heinz cuidava da parte técnica e comercial, enquanto Ilse liderava o setor administrativo.
Foto: redes sociais/Wilian Dierschnabel
O casal também comprou a fabricante de máquinas Famac, expandindo os negócios para o setor de motobombas. Ambos se afastaram da direção nos anos 80, e em 1997 a família vendeu o controle da empresa.
A casa redonda foi o cenário onde Heinz e Ilse viveram até seus últimos dias. Hoje, o imóvel pertence aos netos Katia, Rodolfo e Tissiane.
Veja fotos antigas da casa:
Imagens cedidas pela família Kohlback.
O que o futuro guarda para a casa redonda?
Apesar de estar bem conservada, a casa hoje não tem um destino definido. A família estuda possibilidades de uso que respeitem a história do lugar e, ao mesmo tempo, ajudem a viabilizar sua preservação.
Ainda não há projetos concretos em andamento, mas algumas ideias já foram cogitadas – como abrir o espaço para eventos culturais, exposições, filmagens e até locações pontuais para celebrações privadas.
Também existe o desejo, por parte dos herdeiros, de que a casa possa um dia se tornar um museu ou espaço cultural da cidade. Mas, por enquanto, tudo segue no campo das possibilidades.
Como isso impacta sua vida?
A Casa Redonda é parte da memória afetiva e histórica de Jaraguá do Sul. Sua preservação ou reinvenção pode transformar um marco familiar em um novo polo cultural e turístico para a região. Relembrar essa história também é uma forma de reconhecer quem ajudou a construir a identidade local.
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