Jane Goodall, investigadora de chimpanzés e defensora dos animais, morreu esta quarta-feira aos 91 anos de causas naturais, anunciou o Instituto Jane Goodall.
“O trabalho de Goodall como etóloga revolucionou a ciência. Foi uma defensora incansável da proteção e recuperação do nosso mundo natural”, lê-se no comunicado, citado pela NBC News.
Goodall dedicou décadas da sua vida ao estudo dos primatas. Como lembra a ABC News, em julho de 1960, a investigadora entrou pela primeira vez na Tanzânia para dar início à investigação de chimpanzés. Foi o seu trabalho que mais contribui para a perceção de que estes animais manifestam comportamentos em tudo semelhantes ao dos humanos: entre as capacidades de comunicação, o desenvolvimento de uma personalidade própria e individual, diferenciada de outros elementos do grupo, e também a capacidade de produzir e fazer uso de ferramentas para a realização de tarefas diárias.
Numa entrevista que deu à estação de televisão, em 2020, Jane Goodall elaborava precisamente sobre a ideia de que estes primatas podem ser “tão parecidos connosco”, a espécie humana. “O comportamento deles, com os gestos deles, os beijos, abraços, [a capacidade de] dar as mãos, dar uma pancadas nas costas”, descrevia a investigadora. Mas Goodall referiria, também, “o facto de conseguirem ser violentos e brutais, e ter um certo tipo de guerra, ao mesmo tempo que são carinhosos e altruístas”.
O início da sua carreira como investigadora desta espécie animal deve-se a um misto de interesse próprio e acasos. No final da década de 1950, quando chega ao Quénia para visitar uma amiga, Jane Goodall levava já consigo uma extensa bagagem de pesquisa e estudo sobre os primatas. A trabalhar como empregada de mesa e assistente de produção, chegou a Nairóbi com uma ideia em mente: chegar ao contacto com o investigador conterrâneo Louis Leakey e, com eventualmente, trocar com o palentólogo algumas palavras sobre o seu interesse pelos chimpanzés.
Leakey, conta a BBC, tinha acabado de ficar sem a sua secretária pessoal. E o entusiasmo de Goodall levou-o a propor-lhe que assumisse essas funções. “Foi ele que me disse: ‘Bom, estou à procura de alguém para ir estudar chimpanzés, porque conhecer o comportamento destes animais pode aumentar a nossa compreensão sobre o comportamento dos primeiros humanos”, disse-lhe o investigador — numa conversa que Goodall recordaria cerca de 30 anos mais tarde, em 1986, em entrevista a Terry Wogan.
Seria o início de muitas décadas dedicadas ao estudo destes primatas. “Vestia roupas das mesmas cores todos os dias e acho que o mais importante é que nunca forcei” a aproximação aos animais, contou há cerca de 10 anos também à BBC, para explicar como teve de avançar progressivamente em direção aos habitats dos chimpanzés, para conseguir ganhar a confiança e aproximar-se o suficiente para desenvolver as suas observações.
A informação da morte de Jane Goodall foi avançada pelo instituto a que deu nome. Nas redes sociais, o Jane Godall Institute referiu que a investigadora “morreu de causas naturais” quando se encontrava na Califórnia, “no âmbito da sua tour de intervenções pelos Estados Unidos”.
A ONU lamentou a morte de Jane Goodall, recordando-a como Mensageira da Paz da organização há mais de 20 anos e elogiando o seu trabalho “incansável” em prol do planeta. “A cientista, conservacionista e Mensageira da Paz da ONU trabalhou incansavelmente pelo nosso planeta e pelos seus habitantes, deixando um legado extraordinário para a humanidade e para a natureza”, destacou a instituição nas redes sociais.
O chefe humanitário da ONU, Tom Fletcher, descreveu a etóloga britânica como “pioneira, defensora do nosso planeta e boa ancestral”, numa mensagem de homenagem. A organização sublinhou ainda o papel de Goodall como Mensageira da Paz desde 2002, através do qual ajudou a dar maior visibilidade a questões ambientais e de conservação. Foram também destacados o trabalho do Instituto Jane Goodall em programas de conservação e desenvolvimento em África e o projeto Roots & Shoots, criado para envolver jovens na proteção da natureza.
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