A Impresa, dona da SIC e do Expresso, deve concretizar os planos de reestruturação e de entrada de dinheiro fresco de forma a assegurar a continuidade das suas operações futuras. Esta necessidade é sinalizada numa ênfase às contas do primeiro semestre da holding, cujo relatório foi divulgado esta terça-feira, poucos dias depois de serem conhecidas as negociações para a entrada do grupo italiano MFE na dona da SIC, que podem resultar numa mudança de controlo acionista.
Nesta ênfase do auditor são descritas as soluções tentadas pela administração do grupo de media para reforçar a solidez financeira da Impresa. Nomeadamente, a venda do edifício sede com o consequente arrendamento — uma operação que foi anunciada, mas não foi para a frente — e as recentes negociações com o grupo MediaForEurope com vista à aquisição de uma “participação relevante (direta ou indireta) para efeitos de controlo da Impresa e que à data (29 de setembro) não envolviam um acordo vinculativo”.
No relatório de “revisão limitada das demonstrações financeiras consolidadas” às contas do primeiro semestre do grupo, a auditora Deloitte remete para avaliação feita pelo conselho de administração liderado por Francisco Pedro Balsemão sobre a “capacidade da entidade para operar em continuidade, considerando, nomeadamente, as perspetivas de geração de fluxos de caixa para o próximo ano, as linhas de crédito disponíveis e a sua renovação, bem como a concretização de um conjunto de ações em curso relacionadas com a reestruturação operacional e financeira”.
“Consequentemente”, conclui o auditor numa ênfase que se repete nas contas semestrais da Impresa e da SIC, “a continuidade das operações da entidade, a realização dos seus ativos e a liquidação dos seus passivos pelos montantes registados nas suas demonstrações financeiras condensadas consolidadas depende do sucesso das suas operações futuras e da concretização das ações acima referidas“. Esta ênfase não constava do parecer do auditor aos relatórios e contas anteriores, nomeadamente nos de 2024.
No documento de prestação de contas, o conselho de administração identifica as ações em curso para a reestruturação operacional e financeira, destacando um plano de redução de custos para os próximos quatro anos e a otimização da estrutura de financiamento que pode incluir, entre outras iniciativas, “uma eventual operação de sale and lease back do atual edifício sede do grupo” em Laveiras, no concelho de Oeiras. O plano foi anunciado este ano, na sequência da apresentação de resultados negativos de 66 milhões de euros.
Em junho, a empresa comunicou as existência de negociações avançadas para a venda da sede ao BPI Imofomento por 37 milhões de euros, realizáveis em duas tranches — uma imediata após o acordo de 25 milhões de euros e outra de 12 milhões de euros paga ao fim de quatro anos. Durante esse período, a Impresa faria um contrato de arrendamento para ocupar o edifício. No entanto, o negócio caiu em julho por falta de acordo entre as partes. Antes de ser conhecido este desfecho, o CEO da Impresa, Francisco Pedro Balsemão, falou publicamente sobre a reestruturação e admitiu a eventual necessidade de entrada de um novo acionista.
As negociações com o grupo MediaforEurope, da família do empresário e político italiano Sílvio Berlusconi, foram conhecidas na semana passada e este domingo, num segundo comunicado, a Impresa admitiu que poderia estar em causa a venda de uma posição de controlo do grupo que até agora esteve sempre sob o comando do seu acionista fundador, Pinto Balsemão. Esta notícia fez disparar as ações na segunda-feira e terça feira, mas esta quarta-feira o título estava já a deslizar.
A Impresa apresentou resultados semestrais de 5,1 milhões de euros negativos, valor que baixa para 3,9 milhões de euros ajustados os custos de reestruturação. É o quinto semestre consecutivo em que a Impresa está no vermelho. No final de 2023, foram os custos de reestruturação a puxar os resultados para o vermelho e em 2024 foi apresentado o maior prejuízo dos últimos anos, 66 milhões de euros, atribuídos a provisões para processos judiciais e a uma perda por imparidade de goodwill de 60,7 milhões. Esta perda contabilística resultou da reavaliação, em baixa, do ativo SIC em função da estimativa de receitas e ganhos futuros.
A SIC teve prejuízos de 1,1 milhões de euros no primeiro semestre, valor que compara com lucros em igual período do ano passado. A perda é reduzida para 200 mil euros se excluídos os custos de reestruturação. Em 2024, a estação televisiva teve lucros consolidados de 4,8 milhões de euros, menos 42,2% do que em 2023 e as receitas tinham crescido ligeiramente para 157,5 milhões de euros.
Desde 2019 que a SIC tem sido o veículo preferencial para a colocação de obrigações junto de investidores institucionais e de retalho, e uma boa parte do encaixe com estas operações tem sido canalizado para a casa-mãe, a Impresa. As contas da SIC mostram que há dois contratos de empréstimos de 55 milhões de euros e de 30 milhões de euros à holding do grupo e cuja maturidade foi estendida no final do ano passado para o ano de 2039.
O passivo total da SIC atinge os 181 milhões de euros no final de junho, um valor um pouco inferior ao do mesmo período do ano passado que engloba os empréstimos bancários, as obrigações ainda por vencer (houve uma amortização antecipada este ano) e provisões. Entre as provisões está um valor para fazer ao processo que condenou a SIC a pagar 5,7 milhões de euros, valor definido no ano passado, em direitos de artistas no Tribunal da Propriedade Intelectual.
A SIC, em coligação com a TVI, também condenada, interpôs uma ação de condenação contra o Estado português no Tribunal de Justiça da União Europeia a pedir compensação por sentenças diferentes relativas a esta ação. Não obstante, a SIC pediu ao Tribunal para prestar caução através de uma garantia bancária em vez de realizar já o pagamento, invocando os constrangimentos financeiros que tal pagamento teria na sua atividade.
Nos primeiros seis meses do ano, a SIC teve receitas consolidadas de 73,8 milhões de euros, uma queda de 1,1% face ao mesmo período do ano passado. O EBITDA (margem operacional) recuou 43,6% face a igual período de 2024 para 2,6 milhões de euros. E os resultados ajustados sem efeito de reestruturação foram de 0,2 milhões de euros negativos. A empresa reivindicou a liderança das audiências no canal generalista com 14,8% de share.