Antonio Pitanga aborda a terrível prática do racismo por meio da evocação da Revolta dos Malês, que ocorreu em Salvador, em 1835, liderada por integrantes — escravizados e libertos — da população negra muçulmana. Discriminados no Brasil, sem direito ao pertencimento, os negros procuraram preservar vínculos com a própria religião e com a origem africana. “A vida que nos roubaram na África não existe mais. É como se não tivéssemos mais terra para voltar”, diz Manoel Calafate (Bukassa Kabengele), um dos representantes do movimento.
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Na direção, Pitanga conduz os filhos, escalados para papéis importantes. Camila Pitanga interpreta Sabina da Cruz, que delata o Levante dos Malês, e Rocco Pitanga surge como Dassalu, abruptamente separado da noiva, Abayome (Samira Carvalho). Acumulando funções, Antonio Pitanga também atua. Imprime autenticidade como Pacífico Licutan, escravizado impedido de exercer a liberdade.
Autora do roteiro, Manuela Dias entrelaça a luta comum (o combate à violência e ao aprisionamento impostos pelos brancos) com as jornadas particulares dos personagens (em especial, na esfera conjugal). Mais do que isso, revela perspectivas de mundo contrastantes — uma centrada na valorização da coletividade e outra norteada pela priorização dos interesses individuais.
Apesar de certa irregularidade, o filme se destaca pela possibilidade de estimular o espectador a traçar articulações entre passado e presente, pela qualidade do elenco e por inspiradas contribuições — caso da trilha sonora de Antonio Pinto e Barulhista.
Cotação: bonequinho olha.