Quem passa pela Avenida Paulista, em São Paulo, dificilmente deixa de notar, na altura do número 949, um edifício de janelas quebradas e paredes cobertas por pichações. Trata-se do Torre Paulista, um prédio de arquitetura singular que, em outros tempos, abrigou escritórios respeitáveis e já foi sede de um banco japonês. A construção se destaca pela forma curva e afunilada, relativamente estreita, mas imponente na paisagem. Com 19 mil metros quadrados de área construída sobre um terreno de 2,2 mil m², está localizado em frente ao prédio da Gazeta.

Projetado no início dos anos 1970 por José Gugliota e Jorge Zzupim, o prédio nasceu com o nome de Edifício Aquários. Zzupim, reconhecido também pelo design de mobiliário brasileiro, foi responsável por outros projetos icônicos da cidade, como os shoppings Ibirapuera e Top Center.

Por décadas, o edifício foi ocupado pelo banco japonês Sumitomo, que ali manteve sua sede, e mais tarde recebeu diversos escritórios comerciais. Mas a virada viria em 2018, quando foi anunciado que o espaço abrigaria o primeiro Hard Rock Hotel da capital. A escolha não foi por acaso: bonito, icônico e localizado no centro financeiro e cultural de São Paulo, o prédio parecia ideal para marcar a entrada da rede hoteleira na cidade.

O projeto fazia parte de uma empreitada ousada, que prometia oito unidades da marca Hard Rock no Brasil. Contudo, a realidade foi bem diferente do anúncio: as obras jamais saíram do papel. O prédio até chegou a ser esvaziado para dar lugar ao hotel, mas a própria Hard Rock International não lista mais o empreendimento paulistano em seu site oficial, o que levanta dúvidas sobre sua continuidade.

Nos anos seguintes, pouco se avançou. Em 2023, uma concept store foi inaugurada nos Jardins para divulgar o futuro hotel, mas não durou muito. Enquanto isso, negociações entre a proprietária do edifício, a Savoi, e a empresa responsável pelo projeto, a Residence Club, seguem sem resultados práticos. E, segundo o portal Gazeta de S.Paulo, não há previsão de início das obras ou inauguração.

A Residence Club, criada em 2024 após a aquisição da VCI — empresa que originalmente tocava o projeto e acumulava problemas financeiros e jurídicos — herdou não apenas os empreendimentos em andamento, mas também suas dificuldades. A VCI chegou a anunciar uma criptomoeda e teve seu registro suspenso pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), além de reduzir pela metade o plano inicial de expansão da marca no Brasil. Atualmente, outros projetos da rede, como os de Fortaleza e Ilha do Sol, acumulam atrasos e multas pesadas. Só em 2024, o DECON aplicou R$ 18,6 milhões em penalidades à companhia.

Enquanto isso, o Torre Paulista segue parado, alimentando discussões entre urbanistas e arquitetos. Para Nadia Somekh, professora emérita da Universidade Mackenzie, o prédio precisa ser preservado, mas com um uso ativo. Ela defende que um hotel seria uma opção adequada, lembrando exemplos de cidades como Nova York, onde arranha-céus combinam hospedagem e escritórios.


Giovanna Gomes

Giovanna Gomes é jornalista e estudante de História pela USP. Gosta de escrever sobre arte, arqueologia e tudo que diz repeito à cultura e à história do ser humano.