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Tudo a Ler

Menos de um ano depois de Édouard Louis agitar festas e Felipe Neto movimentar seguranças, a Flip volta a Paraty. São apenas nove meses desde a última edição, o menor intervalo da história, porque a festa literária volta agora a ocupar seu período tradicional, pela primeira vez desde 2019.

O evento retorna ao inverno e a cidade histórica fluminense conta com uma programação agitada e convidados animados para se aquecer. Curadora pela segunda vez, Ana Lima Cecilio garante à Folha que a mudança da data não prejudicou os convites, pelo contrário, alguns autores célebres que não conseguiram comparecer em 2024 agora podem marcar presença.

Um deles é Ilan Pappe, o historiador israelense que ilustra o tom mais acentuadamente político desta Flip. Sua postura crítica ao estado de Israel ganhará uma mesa própria, mostrando que a curadoria de Cecilio não tem medo de controvérsia, como ela mesma afirma.

Outra convidada que abre polêmica é a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente. Após ser desrespeitada em sessão do Senado em maio deste ano, ganha na Flip o espaço para falar sobre preservação das florestas e a rumorosa COP 30, em Belém.

Para equilibrar a balança, Cecilio fez questão de incluir poesia e humor na programação principal. Combinados, os elementos que compõem a curadoria desenham o legado do homenageado Paulo Leminski, figura de vida artística admirada e trajetória pessoal controversa.

Leminski é hoje um autor clássico da poesia dita marginal. Como escreve o crítico Italo Moriconi: “Ele é o poeta que duvida de si, mas prossegue determinado na obsessão da escrita, perseguindo um sentido na vida e nos discursos que acaba lhe escapando pelas entrelinhas e pelas espirais da linguagem”.

Acabou de Chegar

“A Astrologia de Liv Strömquist” (trad. Kristin Lie Garrubo, Quadrinhos na Cia, R$ 99,90, 184 págs.) investiga com bom humor o que os astros no céu tem a dizer sobre a vida na Terra. A sueca Liv Strömquist é ambígua, aponta a repórter especial Anna Virginia Balloussier. Na obra, a autora é confessadamente aleatória traçando paralelos divertidos do zodíaco sem fazer juízo de valor sobre astrologia.

“Noite Devorada” (Círculo de Poemas, R$ 69,90, 120 págs.), de Mar Becker, fala de amor “mantendo o feminino no núcleo de seu universo”, como escreve a jornalista Victoria Damasceno. Conhecida por trazer as dores e belezas femininas no centro de suas produções, Becker já teve sua obra descrita como “evânica”, em referência à personagem bíblica.


“Análise” (Zahar, R$ 69,90, 208 págs.) traz a psicanalista e colunista da Folha Vera Iaconelli como autora e personagem do seu próprio processo psicanalítico. “O resultado é uma reflexão sobre confrontar-se com a herança dos pais, implicar-se na própria história e sustentar o próprio desejo diante do mundo, tendo a psicanálise como ferramenta”, conta o repórter especial Maurício Meireles.

E mais

Para Sérgio Rodrigues, a inteligência artificial inaugura uma nova era das letras. Em conversa com o repórter Eduardo Sombini, o escritor e colunista da Folha diz que entramos em um tempo em que escrever é uma escolha e quem não quiser fazê-lo pode terceirizar o trabalho a robôs que imitam a linguagem humana.

Em “Vocês da Imprensa”, o jornalista João Paulo Saconi explora como a hostilidade contra a mídia se intensificou desde 2013, encontrando eco na direita e na esquerda. A violência contra a imprensa acontece porque, segundo o autor afirma ao repórter Arthur Guimarães de Oliveira, os dois lados da polarização brasileira acreditam que o jornalismo faz movimentos que fogem ao que essas ideologias políticas acreditam.


Impactado pela notícia da transição de gênero de sua filha, Cadão Volpato começou a escrever um livro. “Notícias do Trânsito” sai pela Seja Breve, editora recém fundada por ele em parceria com o também escritor Bernardo Ajzenberg. A empreitada nasceu de uma coincidência significativa. Em um encontro casual, os dois autores descobriram que ambos têm filhos trans e estavam escrevendo sobre o tema.

Fuvest

Pela primeira vez a Fuvest, vestibular que dá acesso à USP, adota uma lista de leituras obrigatórias composta 100% por autoras mulheres, muitas delas estreantes na seleção. Tanta novidade pode assustar os estudantes, mas traz novos debates para a sala de aula.


“Nebulosas”, de Narcisa Amália, é uma coletânea de 44 poemas líricos que caiu no esquecimento após seu lançamento de sucesso em 1872 e só recebeu uma segunda edição 145 anos depois. Sua autora foi uma mulher transgressora que se divorciou duas vezes (algo incomum no século 19) e despertou a admiração de grandes nomes da literatura e história brasileira, entre eles o escritor Machado de Assis e o imperador dom Pedro 2º.

Além dos Livros

O Jabuti Acadêmico anunciou na última semana os finalistas de sua segunda edição. Entre os nomes da não ficção brasileira se destacam o do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que concorre na categoria de livros de direito com seu “Democracia e Redes Sociais: o Desafio de Combater o Populismo Digital Extremista”, e o da antropóloga e imortal da Academia Brasileira de Letras Lilia Schwarcz.

“Véspera”, a nova série nacional da HBO Max, é uma adaptação do romance homônimo de Carla Madeira. A produção, que teve as gravações finalizadas mês passado, conta as repercussões de um ato intempestivo, quando uma mãe abandona um filho. Gabriel Leone, Camila Márdila e Bruna Marquezine fazem parte do elenco, conta o repórter Leonardo Sanchez.

Como falamos na última semana, por falta de verba, o governo Lula comprou apenas livros de português e matemática para o ano letivo de 2026. A aquisição, feita pelo FNDE, órgão ligado ao MEC, teria agora verba garantida, segundo o próprio fundo. Ainda assim, o problema afeta da educação fundamental ao ensino médio e a previsão é de que a demanda seja atendida apenas parcialmente, como mostra a reportagem de Bruno Lucca.