O jornalista e escritor potiguar Tony Lucas, de 27 anos, mestrando em Estudos da Mídia pela UFRN, está entre os 150 semifinalistas do concurso nacional Livros do Futuro, promovido pelo TikTok em parceria com as editoras Record (Galera), Globo (ALT) e Harper Collins. A iniciativa busca revelar novas vozes da literatura brasileira em três categorias: Romance Jovem Adulto, Suspense e Fantasia, e oferecer aos vencedores contrato de publicação, investimento em divulgação e apoio editorial.

Tony concorre na categoria Suspense com a obra inédita Sina, romance psicológico que une mistério, terror e elementos sobrenaturais em uma narrativa marcada pelo olhar nordestino. O livro acompanha Samuel, um homem gay que retorna ao sítio da infância, no interior do Rio Grande do Norte, dez anos após o pai cometer uma chacina e tentar tirar a própria vida. A reunião com o namorado e a mãe é interrompida por assassinatos brutais, sonhos perturbadores e fenômenos estranhos que o fazem questionar sua sanidade. Entre suspeitas da comunidade e vozes do passado, o protagonista descobre no tarot e na mediunidade familiar caminhos para enfrentar seu destino.

@tonylucas13 “Sina” é meu primeiro romance. Um suspense sobrenatural que se passa no interior do Rio Grande do Norte e é recheado de mistérios, reviravoltas, representatividade (nordestina e LGBTQIAPN+) e casos do acaso bem marcado em cartas de Tarot. Será que a gente consegue fugir do nosso destino? Para descobrir você precisa votar em mim na segunda etapa do #LivrosdoFuturo que começa nesta quarta (1º) e vai até o dia 11 de outubro. Quando estiver disponível o link para votação estará na minha bio. Preciso de vocês! Realizem o sonho desse autor potiguar de ser publicado! ❤️ Vídeo roteirizado, dirigido e editado por @Lucas Góis #booktok #booktokbrasil #suspense #sina ♬ som original – tonylucas13

“‘Sina’ nasce de um olhar nordestino sobre o próprio Nordeste, sem caricaturas, com emoção e complexidade. É uma forma de mostrar que nossas histórias também são universais”, afirma Tony.

Antes de chegar até aqui, Tony já havia publicado em 2016/2017 o livro de poemas O garoto que só queria ser amado. O lançamento, no entanto, não alcançou a repercussão esperada e acabou provocando um afastamento do autor da carreira literária.

“Vendi poucas cópias e passei despercebido. Isso mexeu muito comigo e fez com que eu deixasse de lado a carreira de escritor, ao ponto de nem falar para as pessoas que escrevia. Estar agora entre os semifinalistas me deu um gás para lutar e fazer essa história ser publicada.”

A seleção no concurso foi recebida como um gesto de validação e também de cura pessoal. “Eu estava tão sem expectativas que nem olhei o site. De repente recebi um e-mail me parabenizando. Saí correndo para contar para minha mãe, que acompanhou de perto tudo que passei nessa trajetória. Foi um momento de alegria e de reencontro com a minha própria história”, conta ele.

O Nordeste como inspiração e cenário

Grande parte da trama de Sina é inspirada em vivências reais do autor. Tony cresceu em um sítio em Tangará, no interior do RN, e decidiu transportar esse universo para seu romance.

“O sítio Lagoa do Feijão, onde vivi, é pequeno e afastado. Muitas vezes falta energia de repente, e esse tipo de experiência aparece no livro em momentos-chave da narrativa. Também trouxe o modo de falar da minha família e o sentimento profundo de pertencimento que tenho quando volto para casa. É como na frase de O Mágico de Oz: ‘Não há lugar como o lar’”, relembraRespostas para o Saiba Mais.

Para ele, a participação no concurso também tem um significado coletivo: “Vai fazer o pessoal olhar para o Rio Grande do Norte com outros olhos. Temos autores potiguares incríveis, como Pedro Rhuas e Ilustralu, mas ainda falta mais reconhecimento. Eu espero que tanto a mídia local quanto a nacional passem a ficar mais atentas à produção literária potiguar, que é potente e merece ser lida”Respostas para o Saiba Mais.

Tarot, cinema e acadêmia

Sina também reflete referências pessoais e culturais do autor. Tony é tarólogo desde 2022 e decidiu integrar essa prática à narrativa de forma criativa. Cada capítulo do romance leva o nome de uma carta do tarot, e os acontecimentos se conectam diretamente com o significado das lâminas.

“A mediunidade sempre esteve presente em mim, mas ganhou força quando comecei a ler tarot. Desde então, vivi experiências tão intensas que muita gente não acredita quando conto. Achei que seria uma boa ideia trazer esse universo para o livro. Para quem já conhece as cartas, será uma experiência de identificação; para quem não conhece, pode despertar curiosidade e interesse”Respostas para o Saiba Mais.

Além do tarot, o cinema de terror e suspense também inspira sua escrita. Filmes como A Herança, Eu sei o que vocês fizeram no verão passado, Pânico e Hereditário, além do livro Objetos Cortantes de Gillian Flynn, serviram de referência para a criação da trama.

No campo acadêmico, Tony investiga a representação do Nordeste no BookTok, comunidade literária que movimenta milhões de leitores e editores no TikTok. Sua pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN) analisa como os algoritmos impactam a visibilidade da literatura nordestina e como essa produção dialoga com novas formas de circulação cultural. “Mesmo que indiretamente, tento contribuir para a divulgação da literatura nordestina, seja como pesquisador, jornalista ou escritor”, resume.

O concurso segue agora para a segunda fase: entre 1º e 11 de outubro, os semifinalistas devem produzir vídeos no TikTok, que serão submetidos à votação popular no site oficial do projeto. Os mais votados avançam para a final, quando os manuscritos completos serão avaliados por um júri especializado.

No dia 12 de janeiro de 2026, os três vencedores de cada categoria serão anunciados. Cada um receberá R$ 10 mil, além de contrato de publicação com as editoras parceiras e apoio para marketing e divulgação.

Independentemente do resultado, Tony já se sente vencedor: “Estar aqui vai muito além de sonhos, é representação e identidade. É o reencontro com a minha voz e, ao mesmo tempo, a chance de mostrar que a literatura potiguar e nordestina têm muito a dizer.”