Bob (Leonardo DiCaprio) e Perfidia (Teyana Taylor) fazem parte do grupo revolucionário antifascista 75 Franceses. A missão deles? Mudar o mundo a partir da fronteira entre os Estados Unidos e o México por meio de atos de terrorismo doméstico, principalmente em defesa dos imigrantes. Mas tudo dá errado quando Perfidia é capturada por seu arqui-inimigo, o Coronel Steven J. Lockjaw (Sean Penn). Esse evento, que marcará seu destino para sempre, é o ponto de partida de Uma Batalha Após a Outra, novo filme do cineasta Paul Thomas Anderson que já em cartaz nos cinemas brasileiros.
Dezesseis anos depois, Perfídia se foi, e Bob – frequentemente drogado e paranoico – vive isolado de qualquer façanha revolucionária, dedicado à criação de sua filha adolescente, Willa (Chase Infiniti). Enquanto isso, Lockjaw aspira se juntar a algum tipo de organização maçônica elitista e supremacista. Seu passado, no entanto, ameaça vir à tona e colocar tudo em risco, então ele decide eliminar qualquer vestígio de evidência. Então, Bob, involuntariamente, será forçado a retomar sua antiga luta.
Paul Thomas Anderson adora personagens e histórias extremas e extravagantes. Uma Batalha Após a Outra não é exceção. Nele, o diretor de Licorice Pizza, Trama Fantasma e Magnólia adapta o romance Vineland, de Thomas Pynchon – outra extravagância –, transformando-o em uma crítica mordaz à sociedade atual. E o faz com mérito. Anderson consegue o que parecia impossível: levar a sátira caótica e transbordante de Pynchon para a tela grande, sem perder a ironia nem a profundidade. Apesar das quase três horas de duração, o diretor mantém a pulsação narrativa muito bem, embora a primeira parte sofra com o humor sexual grosseiro e obsceno entre Perfídia e Lockjaw, que pouco contribui para o restante do filme.
Sucessão de tramas malucas
Em Uma Batalha Após a Outra, há intriga, comédia e ação. Há algo do surrealismo dos irmãos Coen, da comédia estrelada por Robert De Niro Fuga à Meia-Noite (1988) e da gravidade do recente Guerra Civil (2024). Na realidade, nos deparamos com uma trama maluca atrás da outra (às vezes absurda demais, como as freiras guerreiras que cultivam maconha), mas todas muito bem montadas.
O filme de Anderson é um verdadeiro coquetel que funciona não só graças ao roteiro e à trilha sonora onipresente de Jonny Greenwood, guitarrista da banda Radiohead e colaborador regular do cineasta, mas também ao elenco. Leonardo DiCaprio está magnífico como Bob (um papel que lembra o seu Dr. Randall Mindy de Não Olhe para Cima). Também brilham os atores coadjuvantes famosos, como Benicio del Toro, e a até então quase desconhecida Chase Infiniti, que faz a filha de Bob.
Cartaz do filme, com os atores Leonardo DiCaprio e Regina Hall em destaque (Foto: Divulgação Prime Video)
De fato, o maior trunfo de Uma Batalha Após a Outra é a personalidade avassaladora de seus personagens: nada neles é ideal, tudo é cheio de falhas, e essa imperfeição confere grande força ao roteiro de Anderson. Isso, e também a capacidade do diretor de criar uma atmosfera hitchcockiana, especialmente presente na longa sequência final na estrada, um clímax tenso e perturbador que encapsula o melhor de seu cinema. Pode não ser seu filme mais completo, mas é um dos mais livres e desafiadores, capaz de fascinar e desconcertar em igual medida.
© 2025 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.
- Uma Batalha Após a Outra
- 2025
- 161 minutos
- Indicado para maiores de 16 anos
- Em cartaz nos cinemas
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