Foi em setembro de 1989, há mais de 30 anos. Nápoles e Sporting cruzaram-se na primeira ronda da Taça UEFA e ninguém marcou golos, com o nulo a reinar tanto em Alvalade como no San Paolo — a eliminatória só ficou decidida nas grandes penalidades e aí venceram os italianos, mesmo com Diego Armando Maradona a falhar o respetivo penálti e a ter de pagar os 100 dólares que tinha prometido a Tomislav Ivkovic, guarda-redes dos leões, na aposta que ambos fizeram.

O jogo tornou-se mítico para o Sporting. Não tanto pelo resultado ou pela exibição, mas porque Diego Armando Maradona trocou a camisola com Carlos Xavier e andou pelo relvado vestido de verde e branco — deixando fotografias que ficaram para a história. Esta quarta-feira, mais de três décadas depois, o Sporting voltava a Nápoles para defrontar os italianos na segunda jornada da Liga dos Campeões e com a difícil tarefa de alcançar um resultado positivo contra o atual campeão da Serie A.

Ficha de jogo

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Nápoles-Sporting, 2-1

Fase de liga da Liga dos Campeões

Estádio Diego Armando Maradona, em Nápoles (Itália)

Árbitro: Danny Makkelie (Países Baixos)

Nápoles: Milinkovic-Savic, Sam Beukema, Juan Jesus, Miguel Gutiérrez (Mathías Olivera, 81′), Stanislav Lobotka, Leonardo Spinazzola, Matteo Politano (David Neres, 69′), Zambo Anguissa, Kevin De Bruyne (Billy Gilmour, 81′), Scott McTominay (Noa Lang, 69′), Højlund (Lorenzo Lucca, 90′)

Suplentes não utilizados: Alex Meret, Mathias Ferrante, Elif Elmas, Antonio Vergara, Giuseppe Ambrosino

Treinador: Antonio Conte

Sporting: Rui Silva, Iván Fresneda, Eduardo Quaresma (Debast, 67′), Gonçalo Inácio, Maxi Araújo, Hjulmand, João Simões (Morita, 78′), Geovany Quenda, Trincão (Pedro Gonçalves, 45′), Geny Catamo (Luis Suárez, 45′), Ioannidis (Alisson Santos, 67′)

Suplentes não utilizados: João Virgínia, Matheus Reis, Vagiannidis, Kochorashvili, Diomande, Rodrigo Ribeiro, Ricardo Mangas

Treinador: Rui Borges

Golos: Højlund (36′ e 79′), Luis Suárez (gp, 62′)

Ação disciplinar: nada a registar

Rui Borges não realizou a habitual conferência de imprensa de antevisão, já que o voo dos leões rumo a Itália atrasou e motivou uma chegada tardia já durante a noite de terça-feira, mas Frederico Varandas tomou a palavra em nome do clube ainda em pleno Aeroporto Humberto Delgado — e em resposta às críticas que o Benfica tinha feito às arbitragens dos jogos dos leões, numa reação firme que não passou ao lado da campanha eleitoral dos encarnados.

“Este ano disse aos meus jogadores, quando a época arrancou, que o bicampeonato foi uma ligeira convulsão para o futebol português. Há 70 anos que não se via isto, mexeu com muita coisa. O tricampeonato, se acontecer, é um terramoto para o futebol português. E isto assusta muita gente e sei que vai haver muita pressão e muito ruído para que não aconteça. O problema que eles não conseguem perceber é que isso alimenta ainda mais os nossos jogadores e a nossa fome de ganhar. Há 40 anos que esperávamos por isto. Ser o alvo a abater? Há 40 anos que esperávamos por isto. E vou dar uma novidade: não é que não gostemos de estar nesta posição. Sentimo-nos confortáveis e estamos a pensar ficar aqui mais algum tempo”, disse o presidente leonino.

Assim, esta quarta-feira e depois da goleada imposta ao Kairat Almaty no arranque da Liga dos Campeões, Rui Borges surpreendia e deixava Debast, Vagiannidis, Pedro Gonçalves, Morita e Luis Suárez no banco, apostando em Eduardo Quaresma, Fresneda, Geny Catamo, João Simões e Ioannidis. Do outro lado, num Nápoles que perdeu com o Manchester City na primeira jornada e que vinha de outra derrota com o AC Milan, Antonio Conte lançava Højlund como referência ofensiva, sendo que Kevin De Bruyne e McTominay também eram titulares.

Os primeiros minutos de jogo mostraram desde logo o que seria praticamente toda a primeira parte: o Nápoles tinha mais bola, mas o Sporting não se mostrava propriamente preocupado com isso. Os leões apresentavam-se muito confortáveis na partida, conscientes de que podiam oferecer a iniciativa ao adversário se se mantivessem organizados defensivamente, e até a postura de Rui Borges no banco de suplentes dava a ideia de que o plano desenhado estava a ser respeitado.

Num encontro muito disputado na zona do meio-campo e com poucas aproximações às balizas, Kevin De Bruyne teve o primeiro remate do jogo ao atirar por cima ainda de fora de área (5′) e foi preciso esperar muito tempo até ver algo semelhante de um lado ou do outro. O Nápoles atacava essencialmente pela direita e tentava consecutivos cruzamentos inconsequentes, enquanto que o Sporting também apostava mais em Geovany Quenda na direita mas sempre com pouco espaço para desequilibrar no último terço.

Zambo Anguissa imitou De Bruyne e também rematou de fora de área, mas por cima (22′), e João Simões assinou o primeiro pontapé enquadrado do jogo ao atirar de longe para Milinkovic-Savic encaixar (26′). Os leões até beneficiaram do melhor momento na partida a partir da meia-hora, com mais bola e muita presença no meio-campo contrário, mas acabaram traídos: numa altura em que estavam completamente inseridos no último terço adversário, o Nápoles recuperou a bola, De Bruyne soltou Højlund e o avançado dinamarquês atirou rasteiro para abrir o marcador quando só tinha Rui Silva pela frente (36′).

A equipa de Rui Borges sentiu claramente o golo sofrido e até podia ter concedido outro, num lance em que Matteo Politano atirou cruzado na direita e Rui Silva defendeu com uma boa intervenção (41′), e não conseguiu propriamente reagir em tempo útil. Ao intervalo, o Sporting estava a perder com o Nápoles em Itália pela margem mínima.

Rui Borges mexeu logo ao intervalo e lançou Pedro Gonçalves e Luis Suárez, abdicando de Geny Catamo e Trincão, com o jogo a manter a mesma lógica e o Sporting a consentir uma posse de bola controlada do Nápoles para depois tentar encontrar espaço nas costas da defesa adversária — ainda que com uma intensidade bem abaixo dos níveis apresentados na primeira parte, algo que favorecia naturalmente os italianos.

À passagem da hora de jogo, numa altura em que o encontro estava a congelar e sem grandes avenidas para nenhuma das balizas, apareceu o empate. Politano fez falta sobre Maxi Araújo no interior da grande área italiana e Luis Suárez, na conversão da grande penalidade, não falhou (62′). Rui Borges fez mais duas substituições logo depois, trocando Eduardo Quaresma e Ioannidis por Debast e Alisson, e Antonio Conte respondeu ao lançar David Neres e Noa Lang.

O jogo partiu nos últimos 20 minutos e ficava a ideia de que o Sporting tinha mais pernas do que o Nápoles, aproveitando todas as transições rápidas para lançar a velocidade. Quenda rematou rasteiro para Milinkovic-Savic encaixar (75′) e Pedro Gonçalves atirou por cima numa ocasião clamorosa (76′), mas voltou a imperar a eficácia: numa insistência depois de um canto, De Bruyne cruzou na esquerda e encontrou Højlund, que se antecipou a Rui Silva para cabecear e bisar na partida (79′).

Os leões nunca capitularam, procurando insistir até ao fim e criando até uam enorme oportunidade já dentro do período de descontos, com Hjulmand a forçar Milinkovic-Savic a uma grande defesa (90+4′) — mas já nada mudou. O Sporting perdeu com o Nápoles, continua sem ganhar em Itália para as competições europeias e escorregou pela primeira vez na Liga dos Campeões. Não houve o terramoto que Frederico Varandas pretendia, mas a verdade é que a equipa de Rui Borges também não tremeu e só caiu à lei da força.