“Podia correr muito bem ou muito mal. Isso é que é um desafio”, começa por dizer Nuno Azevedo, que juntamente com Vítor Oliveira forma o atelier Artequitectos. Onde uns viam impossibilidades, esta dupla viu uma oportunidade para o projecto Habitação CL, em Guimarães. A ideia para esta habitação era “conceber uma casa de linhas contemporâneas, contida mas expressiva, onde a relação com o exterior, a simplicidade dos gestos e a autenticidade dos materiais fossem estruturantes”.
O muro de contenção funcionou como alavanca para o resto do projecto — é a partir dele que tudo o resto se ergue. Este elemento “denso e estruturante” é a linha de base de toda a arquitectura. A moradia tem um só piso e propõe “uma forma serena de habitar”. “Houve alguns desafios na construção desta casa – desde logo porque é um terreno muito inclinado e porque o muro que, de certa forma, delimitava a propriedade, nem sequer estava rematado”, afirmou Nuno Azevedo.
Ao P3 o arquitecto contou que o que destaca esta casa é a “honestidade dos materiais”. Betão, madeira e travertino convivem em harmonia. O betão aparente marca uma estrutura e impõe a escala. É “muito arriscado” trabalhar com uma quantidade tão pequena de materiais e conseguir conjugá-los, mas é “mesmo esse o trabalho de que gostamos”, acrescentou o arquitecto. A grande dificuldade de trabalhar com, e em torno de, betão passa por ser um produto em bruto, a aparência é a mesma ao longo de todo o processo. O cliente é “um apaixonado por mármore”, razão pela qual um dos materiais que marcam o projecto ser o travertino. A madeira termo-modificada surge como elemento de ligação, além de contribuir para a privacidade, deixando à vista nada mais do que o essencial — como mostram as fotografias de Ivo Tavares.
A casa ilustra o “diálogo entre topografia, matéria e modo de habitar”. Nesta moradia térrea “dissolvem-se os limites entre o interior e a paisagem construída”. Na busca por um espaço recolhido, os ambientes habitacionais estão em constante comunicação com o exterior, articulando-se “com clareza as zonas sociais e privadas”.
Texto editado por Ana Maria Henriques