Alexey Filippov / RIA Novosti
Soldados do Exército da Rússia a cavalo
O exército russo planeia ressuscitar o uso de cavalos no campo de batalha. Os antigos Regimentos de Cavalaria foram há décadas substituídos pelos seus descendentes diretos — as unidades de Artilharia Móvel e de Cavalaria Mecanizada. Mas a Rússia tem cada vez menos blindados operacionais.
A nostalgia parece estar a tomar de assalto as hierarquias militares das duas maiores potências do Mundo.
Demos há dias notícia de que o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou estar a ponderar trazer de volta os couraçados, que se tornaram obsoletos há décadas.
Provavelmente mais por necessidade do que por nostalgia, a Rússia não deixa os créditos por mãos alheias e parece estar também a preparar-se para uma viagem ao passado.
Segundo o jornal Kommersant, o exército russo planeia ressuscitar unidades de cavalaria a funcionar em pleno, e os seus soldados poderão em breve estar a combater a cavalo.
Foram relatados anteriormente casos de soldados russos a usar cavalos e burros para transportar mantimentos nas linhas da frente. Contudo, nota o Kommersant, o uso de transportes com tração animal na guerra da Ucrânia tem sido atribuído a episódios esporádicos de improvisação no terreno.
Mas segundo o jornal russo, os testes da Rússia com unidades de cavalaria em pleno funcionamento são “em muitos aspetos sintomáticos do impasse a que a tecnologia moderna chegou numa frente eletronicamente sobrecarregada”.
O Kommersant cita uma entrevista da Russia Today com o comandante de uma unidade de forças especiais “Storm”, que disse ao canal de televisão estatal que as suas tropas já estão a aprender equitação.
O treino baseia-se no pressuposto de que os “instintos” de um cavalo tornam os animais menos propensos a pisar minas terrestres e mais capazes de navegar no escuro e em condições fora de estrada.
“A tática envolve dois homens a montar num único cavalo: um conduz e o outro dá cobertura de fogo. Ao chegar ao local de assalto, ambos os combatentes desmontam e tomam o próximo bastião inimigo”, explia o comandante citado pelo Kommersant.
Ao contrário dos veículos militares, os cavalos são extremamente ágeis em trilhos fora de estrada e muito menos propensos a ativar minas terrestres com dispositivos magnéticos, o que poderia proporcionar uma vantagem real em mobilidade em terreno difícil.
Contudo, o peso de um cavalo pode acionar minas terrestres. Além disso, os cavalos requerem treino e alimentação, e têm uma capacidade de carga muito inferior à dos veículos, pelo que é improvável que o exército russo empregue cavalos em combate em grande escala, diz o Kommersant. “No geral, a tentativa de trazer cavalos de volta ao campo de batalha moderno é largamente simbólica“.
“Em conflitos armados que se tornaram palco para mostrar inovações tecnológicas, quando as tecnologias modernas se revelam vulneráveis, os participantes são mais uma vez forçados a depender de ferramentas básicas, desde linhas telefónicas analógicas a animais de carga e carroças”, nota o jornal.
Há casos documentados de tropas russas com meios de transporte alternativos na linha da frente, incluindo motociclos, trotinetas elétricas e até monociclos, nota o portal russo independente Meduza. Contudo, segundo os meios de comunicação estatais russos, estes meios apenas foram usados em casos isolados.
Também a Ucrânia já usou a imaginação e técnicas inovadoras para garantir a mobilidade das suas tropas. Em agosto, as tropas ucranianas testaram o envio de drones com bicicletas elétricas para trás das linhas inimigas para facilitar a evacuação de militares presos ou feridos.