Pedro Passos Coelho apareceu esta quinta-feira na campanha eleitoral para “emprestar” à candidata do PSD à Câmara da Amadora, Suzana Garcia, “um bocadinho da dinâmica” da sua candidatura à mesma autarquia, em 1997. Recebido com uma ovação de um restaurante com mais de 300 pessoas, o antigo primeiro-ministro escusou-se a comentar diretamente a atualidade política nacional e disse que está “fora da política ativa” e não voltará a participar em ações de campanha. A não ser, eventualmente, no concelho de Sintra, onde reside.
Passos Coelho reconheceu que a sua presença no jantar comício, num restaurante da Brandoa, podia ser “de uma maneira ou outra, um amuleto” para a candidatura de Suzana Garcia à Amadora, onde o PSD nunca venceu a Câmara. “Eu não consegui. Espero que desta vez o PSD tenha mais sorte do que teve comigo”, disse o antigo primeiro-ministro, que ficou em segundo lugar, mas obteve 31% dos votos e o melhor resultado do PSD no concelho. Suzana Garcia teve o segundo melhor resultado de sempre do sociais-democratas com 24%, em 2021.
Questionado sobre se a conquista da Associação Nacional de Municípios pelo PSD será uma meta difícil de atingir, Passos disse: “Não sei, não tenho uma bola de cristal, não faço ideia”, acrescentando apenas que ficaria “muito contente e muito satisfeito com isso, mas isso não seria uma surpresa”.
Já dentro do recinto de restaurante, o primeiro a tomar o microfone seria Manuel Luís Goucha, mandatário da candidatura de Suzana Garcia. O apresentador de televisão motivou novas ovações a Passos Coelho quando disse que, se lhe tivesse de atribuir um cognome, seria “o desejado” — a expressão facial do antigo Chefe de Governo foi de rejeição à ideia de um regresso à política. Ou novamente quando Goucha disse que Passos Coelho “salvou-nos da falência” e, logo a seguir, sugeriu que poderia ser também ser o mandatário de uma eventual candidatura do antigo primeiro-ministro.
Passos Coelho seria responsável pelo discurso mais longo da noite (15 minutos), após ter dito que a sua intervenção seria “simbólica”. O antigo primeiro-ministro disse ter “imenso respeito” pelos candidatos autárquicos por estes se proporem a “contribuir para felicidade dos outros”. “Essa é no fundo a grande mensagem e razão de ser da política”, afirmou.
Depois, continuou a sua intervenção discorrendo sobre as características que um líder deve ter. “Eu sinceramente acredito que há coisas que só mudam quando nos pomos ao trabalho e acreditamos que elas podem ser diferentes. E as pessoas fazem a diferença. Eu não sei se as guerras napoleónicas teriam existido sem o Napoleão. Ninguém pode dizer o que é que teria acontecido se o Napoleão não tivesse nascido.”
“Esse tempo propício à mudança pode estar a acontecer na Amadora”, sugere o antigo líder social-democrata. Passos Coelho elogiou Suzana García por se ter mudado para o concelho depois de ter perdido as últimas eleições e pela sua vontade de “deixar uma marca” no concelho. “Já é tempo de se fazer alguma coisa que valha a pena na Amadora. As condições podem estar reunidas, porque há um ciclo longo que se esgotou. Vai abrir-se um ciclo novo, é aquilo que me parece”, afirmou sobre os 28 anos de governação socialista no concelho.
Lembrou os seus tempos como governante e disse que sempre teve “respeito pelos que sabem o que querem”. Dirigindo-se a Suzana García, disse que “as pessoas gostam dos políticos que querem alguma coisa. Quem é líder, não é um tirano, mas tem dizer o que quer e para onde vai. É isso que vale a pena. Confiança, é preciso ter confiança, sentir confiança para se chegar a algum lado.”
“As únicas mudanças que duram, que perduram, que ficam, são aquelas que as pessoas sentem que são importantes e que são desejadas”, rematou.
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