O grupo parlamentar do PS vai pedir a audição dos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa Nacional sobre os aviões norte-americanos que aterraram na Base das Lajes destinados a Israel. Também o PCP, que recusou pedir, para já, demissões, apresentou um requerimento para a audição dos mesmos dois governantes. Por seu turno, Rui Tavares, co-porta-voz do Livre, sugeriu a demissão do ministro da Defesa Nacional, acusando-o de estar ao lado “de terroristas”. Também o Bloco de Esquerda pediu esta manhã a demissão do ministro da Defesa e acrescenta que Paulo Rangel, que tutela os Negócios Estrangeiros, “não autorizaria a passagem de material militar dirigido a Israel“.
Em declarações aos jornalistas, à margem de uma arruada em Machico, na Madeira, o secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, afirmou que as declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros [Paulo Rangel] “têm gravidade” e devem impor esclarecimentos claros”, referindo que o responsável disse “não ter conhecimento de uma operação aérea que utilizou território nacional e que não terá sido informado, como deveria”.
Também numa acção de campanha para as eleições autárquicas, em Faro, Paulo Raimundo defendeu que Portugal “é um país soberano” e “não se pode dar ao luxo” de deixar que aviões, em particular dos Estados Unidos, aterrem em solo nacional “sem autorização”. O secretário-geral do PCP defendeu que “não vale a pena eles estarem a sacudir as responsabilidades um para o outro”, porque a “responsabilidade é do Governo” e, portanto, “o Governo vai ter de explicar”.
Questionado se lhe parece que o ministro da Defesa Nacional se deveria demitir, Paulo Raimundo considerou que estar agora a “precipitar a consequência da demissão” de Nuno Melo só teria como consequência que se deixasse de explicar o que aconteceu.
“Do lado de terroristas”
Para o porta-voz do Livre, o ministro da Defesa está “do lado de terroristas”. Na quinta-feira, o co-porta-voz do Livre assinalou que “isto não foi conhecido antes das eleições de 18 de Maio” e que “está lançada a baderna e a bandalheira no Governo”, com dois ministros “que não se entendem”.
“Que Nuno Melo, que pelos vistos dá autorização a que aviões que vão fazer operações destas passem por um território português, ainda se venha pôr com lições de moral acerca de quem está com terroristas ou quem não está, quando ele está activamente a deixar passar ou a fechar os olhos aos hábitos de terrorismo de um dos lados é uma farsa de muito mau gosto”, criticou.
Paulo Rangel “não autorizaria”
Já esta manhã, a partir da sede do Bloco de Esquerda, a dirigente Joana Mortágua acusou Melo de autorizar a passagem de aeronaves e material de guerra “para ser utilizado no genocídio do povo palestiniano na base açoriana das Lajes, “à revelia do ministro dos Negócios Estrangeiros”, por saber que Paulo Rangel “não autorizaria a passagem de material militar dirigido a Israel” porque “há um embargo militar a Israel e porque sabia que a passagem de material militar dirigido a Israel, dirigido ao genocídio dos palestinianos pode ser considerado um crime internacional e uma violação do direito português e internacional”.
A bloquista considerou que Portugal “não pode ter um ministro da Defesa cuja lealdade e obediência é ao Governo de Israel e não ao Governo português” e, por isso, Nuno Melo “não tem condições para continuar no Governo”.
“Falha de procedimento”
De acordo com um comunicado divulgado esta quinta-feira pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), três aeronaves norte-americanas fizeram uma escala na base açoriana das Lajes com destino a Israel, sem comunicação prévia ao MNE, uma “falha de procedimento” sobre a qual o chefe da diplomacia portuguesa quer apurar responsabilidades.
A nota refere que esta operação teve “comunicação e autorização tácita (isto é, por decurso do prazo respectivo)” e a comunicação tinha já parecer favorável da AAN (Autoridade Aeronáutica Nacional), que depende do Ministério da Defesa Nacional.
O MNE realça que “a escala e sobrevoo de três aeronaves americanas para entrega a Israel”, ocorrida em 22 de Abril, não significa que “tenha sido estritamente violado o compromisso assumido pelo Ministério ou pelo Governo nesta matéria”, referindo-se ao embargo à venda de armas e passagem pelo território nacional de material militar para Israel, determinado pelo executivo de Luís Montenegro.
Notícia actualizada com a reacção do BE.