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Mais do que noticiar, eles foram testemunhas de um capítulo doloroso da história brasileira e ajudaram a construir a memória coletiva sobre o maior acidente radiológico do mundo

Publicado em: 27/09/2025 12:28

Última atualização: 30/09/2025 9:44

Trabalhador com roupa especial ajudava a isolar peças de roupa contaminadas pelo Césio-137 (Foto: Carlos Costa)

Trabalhador com roupa especial ajudava a isolar peças de roupa contaminadas pelo Césio-137 (Foto: Carlos Costa)

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Esthefany Araújo

No dia 27 de setembro de 1987, Goiânia descobriu a origem de uma ameaça invisível que já se espalhava silenciosamente: a pedra brilhante encontrada em um aparelho de radioterapia abandonado era, na verdade, o Césio-137, um material altamente radioativo. O pó azul encantava crianças e despertava curiosidade em adultos, mas escondia um perigo mortal. Tudo havia começado em 13 de setembro, quando dois catadores retiraram o equipamento de uma clínica de radioterapia desativada. Mas foi apenas duas semanas depois que médicos e autoridades confirmaram: a cidade enfrentava o maior acidente radiológico do mundo em área urbana.

Naquele momento, além das vítimas diretas, outro grupo foi lançado no centro da crise: os profissionais de imprensa. Jornalistas, cinegrafistas e fotojornalistas tiveram a missão de traduzir para a sociedade o que poucos compreendiam. O jornalista Carlos Magno conta que recebeu a pauta acreditando se tratar de uma cobertura comum. A surpresa veio quando chegou ao Estádio Olímpico, onde as vítimas estavam concentradas. Os detalhes você confere abaixo no documentário 38 anos do Césio-137: a tragédia que marcou Goiás e o Brasil, lançado neste sábado (27/9), via MaisGoiás.doc:

“Quando cheguei ao Estádio Olímpico, vi um cenário de guerra: pessoas isoladas, ambulâncias, médicos sem saber exatamente o que fazer. Foi um choque enorme perceber que não era uma matéria comum, e sim algo muito maior, que ninguém sabia muito bem o que era.”

Ele lembra que o desafio era informar em meio ao medo, enquanto testemunhava momentos inesquecíveis.

Jornalista Carlos Magno trabalhou na cobertura do acidente radiológico (Foto: Mais Goiás)Jornalista Carlos Magno trabalhou na cobertura do acidente radiológico (Foto: Mais Goiás)

“A gente não falava só para Goiás, falava para o Brasil inteiro. E nesse processo presenciei histórias emocionantes, curiosas e muito tristes: famílias separadas, crianças assustadas com o isolamento, a morte de animais. Era uma mistura de dor, desespero e também de solidariedade. Eu nunca mais esqueci.”

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Se o desafio da televisão era encontrar palavras para o que ninguém compreendia, o fotojornalismo tinha a missão de registrar o invisível. O fotógrafo Carlos Costa acompanhou de perto a tragédia.

“Fotografar aquele momento era uma contradição. Eu precisava registrar, mas não podia me aproximar demais. Era uma tragédia sem cor, sem cheiro, sem forma… e a fotografia precisava traduzir aquilo para o mundo.”

Fotojornalista Carlos Costa registrou tragédia com o Césio-137 (Foto: Mais Goiás)Fotojornalista Carlos Costa registrou tragédia com o Césio-137 (Foto: Mais Goiás)

Trinta e oito anos depois, tanto Carlos Magno quanto Carlos Costa reconhecem que o trabalho da imprensa foi essencial para que a sociedade compreendesse a gravidade do que acontecia em Goiânia.

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