Cientistas anunciaram uma descoberta que eleva Encélado — uma das luas geladas de Saturno — ao topo da lista de corpos no Sistema Solar com grande potencial para abrigar vida. Um estudo recente encontrou, nos jatos de gelo expelidos pela lua, moléculas orgânicas complexas capazes de desempenhar papéis fundamentais em processos que podem levar ao surgimento da vida. Esse resultado vai além de indícios anteriores, fortalecendo a hipótese de que o oceano subterrâneo desse satélite é realmente habitável.

Lua de Saturno

Encélado, com cerca de 505 quilômetros de diâmetro, é pequeno, mas notável: sob sua crosta gelada existe um oceano salino mantido por fontes hidrotermais. Há muitos anos a missão Cassini identificou vapores de água e grãos de gelo sendo ejetados do polo sul da lua, confirmando a existência desse mar oculto.

Também foram detectados vários dos elementos químicos essenciais à vida — carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e fósforo — mas faltava confirmar se essas moléculas vinham diretamente do oceano ou se eram resultado da modificação pelo caminho, como quando ficam no anel difuso de Saturno, o “Anel E”.

O novo estudo focou em grãos de gelo recentemente expulsos, frescos, coletados quando Cassini atravessava os jatos ativos. Devido a sua rapidez e proximidade, essas partículas permitem análises mais confiáveis, sem que passem por erosão, exposição ao ambiente espacial ou mistura com detritos antigos.

Em instrumentos da Cassini, esses grãos frescos soltaram sinais claros de compostos orgânicos com assinaturas consistentes com moléculas contendo nitrogênio e oxigênio — uma combinação altamente relevante, pois essas moléculas são bases químicas comuns em reações biológicas na Terra.

Segundo os autores do trabalho, a presença dessas moléculas no material recém-ejetado implica que o oceano interno de Encélado não só contém os ingredientes da vida, mas que eles estão disponíveis em formas relativamente reativas — ou seja, não apenas armazenados, mas prontos para participar de processos químicos. Esse achado torna mais plausível que, em tais ambientes, surtos de reações orgânicas complexas possam surgir.

Ainda assim, os cientistas reconhecem que habitabilidade não significa automaticamente existência de vida. Há desafios como temperatura, energia disponível, estabilidade química e a possibilidade de ambientes extremos. Porém, essas formas recém-descobertas de moléculas orgânicas complexas reduzem significativamente as incertezas quanto à capacidade de Encélado de sustentar vida microbiana se ela ali se desenvolvesse.

As implicações são enormes: há planos de missões futuras para aterrissar no polo sul da lua nos anos 2040, com o objetivo de coletar amostras diretas ou analisar material geológico em contato com o oceano subterrâneo. Esse tipo de missão pode confirmar ou refutar definitivamente se organismos vivos ou vestígios biológicos persistem nesse oceano escondido.

*Sob supervisão de Fabio Previdelli