Os passatempos de Krystal Sheehan incluem passear cães no Arboreto Nacional dos Estados Unidos, alimentá-los com chantili e dormir com eles no seu sofá.
No entanto, Sheehan, 23, não tem um cão. Ela adora passar tempo com eles, mas não tem tempo para cuidar de um todos os dias, diz.
Apesar disso, ela convive com um quase todas as semanas, através de um abrigo de animais em Washington D.C. que incentiva as pessoas a levarem os seus cães a passear por algumas horas. É um dos muitos programas que surgiram nos Estados Unidos nos últimos anos, que dão às pessoas e aos cães a oportunidade de passarem tempo juntos sem terem de assumir um compromisso maior.
A psicóloga Kerri Rodriguez, que lidera um grupo de pesquisa na Universidade do Arizona sobre as interacções entre os animais e os humanos, disse que passar apenas cinco ou dez minutos com um cão pode tornar as pessoas mais felizes e diminuir o stress.
Krystal Sheehan
De facto, pesquisas mostraram que, quando as pessoas interagem com cães, a oxitocina — conhecida como a hormona do amor — aumenta em ambas as espécies. Isso é verdade mesmo quando se dá festinhas ao cão amigável de outra pessoa.
“Eles amam-nos incondicionalmente”, disse Rodriguez sobre os cães. “E, para muitas pessoas, isso pode ser, por si só, muito terapêutico, poder apenas criar laços com este animal, sem fazer quaisquer perguntas.”
A Brandywine Valley SPCA lançou o programa de “empréstimo” de cães, chamado “Shelter Skip Day”, nas suas duas instalações em Washington D.C., na Primavera. Claire Morse, de Greenbelt, Maryland, foi uma das primeiras voluntárias.
Morse relatou que adora cães, mas que não tem energia para cuidar de um todos os dias (em vez disso, tem dois gatos, o Moogle e a Jeannie). Ela já levou “emprestado” um cão da Brandywine Valley SPCA cerca de 15 vezes, e normalmente vai com eles ao Arboreto Nacional ou ao distrito de Union Market.
Morse fica igualmente contente a tomar conta de cães que preferem ficar a descansar quando fora do abrigo, como um que dormiu com ela algumas horas no seu Toyota Camry com ar condicionado e outro que saltou para um banco no Arboreto Nacional e fez uma sesta.
Embora alguns cães pareçam nervosos ao sair do abrigo, Morse afirmou que eles vão ficando mais à vontade com ela ao fim das poucas horas que passam juntos.
“As pessoas dizem: ‘Oh, és tão simpática por fazeres isso’ ou elogiam-me por ser uma boa pessoa”, disse Morse, 30, especialista em gestão de programas na Universidade de Maryland. “Mas, para mim, é meio egoísta. Eu simplesmente gosto daquilo.”
A maioria dos abrigos fornece aos voluntários uma trela, sacos para recolher os dejectos, biscoitos, brinquedos, e uma tigela para a água, e pede que tragam os cães de volta antes da hora de fecho, à noite. Alguns também dão às pessoas ideias de actividades que podem fazer.
Bam, seis anos, descansa durante um encontro
Claire Morse
O Animal Care Centers of NYC, que chama ao seu programa BoroughBreak, dá aos voluntários cartões de bingo com uma tarefa em cada quadrado, como “brinca na água”, “tira uma foto com um ponto turístico em Nova Iorque” e “grava um vídeo a fazer um truque básico”. O abrigo oferece cartões de oferta e merchandising às pessoas que ganharem o bingo.
Os canis, muitos dos quais superlotados, esperam que os passeios aumentem as chances de os seus cães serem adoptados. A Brandywine Valley SPCA faz cartões de visita para cada cão e dá aos voluntários mochilas pretas com as inscrições: “Estamos numa excursão. Pode adoptar este cão. (Não faz mal ficar entusiasmado).” Os abrigos incentivam as pessoas a postarem fotos e vídeos dos cães, que usam coletes a dizer “Adopta-me”, nas redes sociais.
Sheehan, professora de uma creche em Washington, D.C., viu uma publicação no Facebook sobre uma experiência do Shelter Skip Day em Maio e visitou a Brandywine Valley SPCA, no nordeste de Washington, no dia seguinte. Sheehan, que cresceu em Council Bluffs, Iowa, com um cão arraçado de husky siberiano chamado Angel, sentia falta de conviver com cães, mas não estava pronta para ter um.
Passar cerca de duas horas com uma cachorrinha chamada Jetta conquistou Sheehan e o seu namorado, Tycho Janssen. Desde então, eles já foram buscar um cão “emprestado” ao abrigo algumas 20 vezes.
Se o abrigo der a Sheehan e Janssen um cão energético, eles passeiam e brincam no Rock Creek Park ou no Arboreto Nacional. Se estão ocupados ou o abrigo lhes emprestar um cão calmo, eles aconchegam-se com o cão no seu apartamento.
Eles têm uma regra: dão a cada cão uma taça de chantili da Dunkin ou da Starbucks. “Isso deixa-nos sempre a sentirmo-nos melhor no final do dia”, disse Sheehan.
Cada cão tem de ser devolvido até às 16h. Alguns cães ficam tão cansados após o passeio, que ronda quase as quatro horas, que adormecem no caminho de regresso. Sheehan costuma sentar-se no banco de trás do seu Hyundai Sonata com o cão com que passeou nesse dia para poder passar mais alguns minutos com ele.
Sheehan disse que fica triste cada vez que devolve um cão. Mas depois ela lembra-se: pode fazer tudo novamente com outro cão na semana seguinte.