Martin Shkreli, o “empresário mais odiado do Mundo”
O famigerado Martin Shkreli vai ser processado por ter copiado um álbum único dos Wu-Tang Clan, decidiu um tribunal norte-americano. A obra, comprada pelo empresário por 2 milhões de dólares, foi confiscada em 2018 pelo governo norte-americano e vendida a um coletivo de arte.
Já não falávamos dele há uns três anos, essencialmente porque tem estado preso: Martin Shkreli, o “empresário mais odiado do mundo”, está de novo nas notícias; desta vez, por ter copiado e difundido online um singular álbum dos Wu-Tang Clan, de que existe apenas um exemplar — que chegou a ser seu.
O empresário, que fez fortuna na indústria farmacêutica, começou cedo a cultivar o ódio de estimação que ainda hoje milhões de “fãs” lhe dedicam.
Em 2015, a sua Turing Pharmaceuticals adquiriu um medicamento usado para tratar doenças como a SIDA e a toxoplasmose, e a primeira coisa que fez foi aumentar-lhe o preço de 12 para 670 euros.
Ao longo dos anos, Shkreli alimentou o seu estatuto de personagem ignóbil, e até tirou partido disso. Em 2016, leiloou um murro na (sua) cara para angariar receitas a favor de uma criança, filho de um amigo, que tinha leucemia. As licitações chegaram aos 79 mil dólares.
Em 2015, o empresário fez uma das suas mais revoltantes patifarias: “desviou” dos fãs dos Wu-Tang Clan a única cópia de “Once Upon a Time in Shaolin“, que a banda tinha criado como uma peça de arte, pela qual Shkreli pagou 2 milhões de dólares num leilão.
Não se pode dizer que pagar uns milhões de dólares por alguma coisa seja propriamente um roubo, mas foi assim que os furiosos fãs da banda norte-americana de hip-hop o encarou.
Shkreli levou as suas patifarias longe demais: cometeu crimes de fraude financeira, conspiração para cometer fraude e conspiração para transferências fraudulentas, pelos quais foi em 2018 condenado a 7 anos de prisão. Em 2022, foi banido da indústria farmacêutica para sempre.
Na sequência da sua condenação, o Governo dos EUA confiscou ao antigo gestor de fundos um conjunto de bens, que foram posteriormente vendidos — entre os quais, precisamente, a cópia única de “Once Upon a Time in Shaolin”, que em 2021 foi vendida em leilão, por 4 milhões de dólares, à PleasrDAO.
Acontece que o empresário, que tinha copiado o álbum, decidiu recentemente transmiti-lo online em direto para os seus seguidores. Sim, Martin Shkreli tem seguidores.
Quem não gostou da sessão artística foi a PleasrDAO, organização autónoma fundada em 2021 por colecionadores, artistas e entusiastas de criptomoedas, que se dedica a recolher e salvaguardar arte digital e NFTs culturalmente significativos — e que detém o álbum e os seus direitos.
Segundo a Reuters, Shkreli terá agora de enfrentar um processo movido pela PleasrDAO, que acusa o antigo executivo farmacêutico de apropriação de propriedade intelectual e uso da mesma sem autorização.
Numa decisão de 32 páginas, proferida esta quinta-feira, a juíza do Tribunal Distrital dos EUA Pamela Chen determinou que Shkreli terá de responder às acusações movidas pelo coletivo de arte, que exige indemnizações e lucros não especificados e a devolução de todas as cópias de “Shaolin” que Shkreli possa ainda ter.
É pouco provável que o empresário consiga sair-se airosamente do processo, uma vez que até já confessou publicamente ter copiado o album: em junho de 2024, quando um membro da PleasrDAO publicou no X uma foto da caixa da singular obra, Shkreli não resistiu e comentou: “LOL, tenho os MP3s, seu idiota”.
Alguém é idiota. O tribunal determinará quem.