Há autarquias onde o resultado de 12 de outubro terá peso nacional: são populosos, têm vários candidatos a presidente e há possibilidade de troca de protagonistas. Em Braga, dois favoritos querem suceder a quase 50 anos em que a cidade teve apenas dois presidentes
Braga (CNN Autárquicas 2025) – “A campanha está completamente em aberto”, dizia esta quinta-feira Rui Calafate na CNN Portugal sobre Braga. E assim é porque, continuava o analista, para lá de António Braga do PS, e João Rodrigues do PSD – “sendo que João Rodrigues do PSD é o favorito”, no combate com força estão também o Chega, o independente Ricardo Silva – “que era o presidente da maior Junta de Freguesia de Braga [com cerca de 25 mil eleitores], São Victor” – e Rui Rocha, “um homem que era líder da iniciativa Liberal e aceita ir à sua terra combater”, sendo que esta “é a grande batalha mediática da Iniciativa Liberal” nestas autárquicas. “Vai haver voto útil e pode haver muitas surpresas”, concluiu Rui Calafate.
Boletim: quem é quem?
Braga tem mais de 200 mil habitantes, dos quais quase 170 mil são eleitores. A cidade prepara-se para escolher o seu terceiro autarca em democracia. Não, não é erro: é mesmo o terceiro. Primeiro foi o socialista Mesquita Machado, no cargo durante uns impressionantes 37 anos. Seguiu-se o social-democrata Ricardo Rio, com mais 12 anos, que interrompe devido às regras da limitação de mandatos. Quem se segue? Os perfis não podiam ser mais diferentes.
Comecemos por João Rodrigues, atual vereador, pela coligação liderada pelo PSD. Tem 37 anos, uma idade que contrasta com a do principal rival. Mas é pela família que o candidato tem sido falado dentro e, sobretudo, fora de Braga. João Rodrigues é filho de Joaquim Barros Rodrigues, o dono da gasolineira de Braga que era cliente da Spinumviva, a empresa familiar de Luís Montenegro. E é marido de Inês Varajão Borges, advogada que substituiu Montenegro como especialista de proteção de dados na Spinumviva – inicialmente identificada num comunicado como Inês Patrícia.
Para recuperar o antigo bastião, o PS – coligado com o PAN – aponta um histórico. António Braga para Braga. E se pelo menos o apelido do candidato combina na perfeição com a cidade, a verdade é que a escolha gerou muitas críticas nas estruturas locais. António Braga, que chegou a ser secretário de Estado, tem 72 anos, tinha-se ausentado da política. Havia quem defendesse um corte com o passado, uma vez que António Braga foi vereador de Mesquita Machado, condenado em 2019 a três anos de prisão com pena suspensa, por ter beneficiado a filha e o genro num processo de expropriação.
Mesmo que PSD e PS se afirmem como as forças dominantes em Braga, a verdade é que há candidaturas que prometem dificultar as contas. Em especial a de Rui Rocha, antigo presidente da Iniciativa Liberal, filho da terra, que já afastou um acordo pós-eleitoral com o PSD devido às ligações ao caso Spinumviva. Os liberais têm conseguido, ao longo dos últimos sufrágios, bons resultados em Braga.
Depois há o Chega, que tem vindo a reforçar a sua influência em Braga. Foi o terceiro mais votado no concelho nas últimas legislativas, com uma distância minima do PS. A aposta foi feita em Filipe Aguiar, candidato a Vieira do Minho em 2021. Nesse ano, obteve apenas 90 votos, um desaire que quer evitar em Braga.
Chegou ainda a falar-se de uma coligação de esquerda, que não avançou. Por isso, a CDU aposta em João Baptista, o Bloco em António Lima e o Livre em Carlos Fragoso. Na corrida estão ainda o independente Ricardo Silva, o ADN com Francisco Pimental Torres e o MPT com Hugo Varandas.
João Rodrigues quer dar continuidade à governação de Ricardo Rio (Facebook)
Arsenal de campanha
Braga sofre com as dores de crescimento. E, por isso, surge logo um tema nas prioridades eleitorais: a mobilidade. Muitas têm sido as queixas no que respeita a congestionamentos ou sobre a falta de uma rede de transportes públicos que permita uma ligação eficaz às periferias. Os candidatos acenam com propostas nesta área. Uma das repetidas, mas também fraturantes, é a do metrobus ou metro de superfície. A construção de uma circular externa também alimenta discussões na cidade.
Outro dos impactos do crescimento de Braga, também à custa da imigração, em especial da comunidade brasileira, está na habitação. O acesso a casas que as famílias consigam pagar também é um problema em Braga. Daí a promessa da construção de novos fogos públicos para a classe media.
A melhoria da qualidade de vida em Braga passaria também pelo desenvolvimento de mais espaços verdes e pelo reforço da segurança nas ruas, defendem os candidatos.
Imigração tem trazido novas realidades a Braga (Pixabay)
Currículo de guerra
O passado importa na hora de medir as probabilidades que cada força política tem. Veja como evoluíram as principais forças políticas neste concelho.
Nota: nesta comparação foram apenas tidos em conta os cinco partidos com maior peso eleitoral nas últimas eleições autárquicas, de 2021. Nesse ano, o PSD concorreu em coligação com o CDS-PP e PPM.