Parece sem sentido falar em números com um artista, mas não há como fugir a eles quando o nome em questão é o ilustrador belo-horizontino Nelson Cruz, de 68 anos. São quase 30 livros autorais e mais de 150 em parcerias (textos de outros autores).
Seus oito troféus Jabuti – inclusive de Livro Infantil e Livro do Ano, em 2021, por “Sagatrissuinorana” (Editora ÔZé), com João Luiz Guimarães – poderão ganhar neste ano um novo companheiro.
Mais uma vez, Cruz está entre os semifinalistas do principal prêmio literário do país. Concorre, por Ilustração, por “Bento vento tempo” (Companhia das Letrinhas). Sua mulher, a também ilustradora Marilda Castanha, está na mesma categoria do Jabuti por “Entre tantos” (Maralto).
A “disputa” dentro de casa não é novidade para o casal, que trabalha lado a lado em um ateliê em casa, em condomínio em Santa Luzia. Tampouco o reconhecimento – Cruz já venceu, entre outros, prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, da Academia Brasileira de Letras, da Biblioteca Nacional e da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.
Quatro livros por ano
São 35 anos de carreira e uma média de quatro livros por ano. Dois deles serão lançados com uma semana de diferença. “A profecia animal” (Peirópolis) terá tarde de autógrafos neste sábado (4/10), na Quixote. “Gran Circo” (ÔZé), este com texto de José Rezende Jr., será lançado no próximo sábado (11/10), na Livraria Aluá.
É tanta coisa que Cruz chegará na tarde de hoje à Quixote vindo de outro evento. Pela manhã, as ilustradoras Amma e Carol Fernandes conversam com ele sobre os livros “Sagatrissuinorana”, “Benjamina” e “Se os tubarões fossem homens”, na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de BH.
Livro para criança, jovem ou adulto, não faz diferença. “Para mim, literatura é uma coisa só”, afirma Cruz, que já se debruçou sobre a obra de cânones como Machado de Assis, Murilo Rubião e Bertolt Brecht. Ele considera texto e ilustração “parceiros”. “Muitas vezes, a ilustração não carece do texto, mas é bonito de ver quanto os dois fazem uma parceria fechando a ideia do livro.”
Ele começou “A profecia animal” a partir do texto, que veio, no entanto, por meio de uma imagem que nunca esqueceu. “Em 1982, fiz um passeio no Jardim Zoológico de Belo Horizonte. Ele não era nada parecido com o que temos hoje. A condição dos animais era muito triste. Vi numa jaula muito apertada um babuíno com um dos olhares mais tristes que já presenciei na vida. Nunca esqueci o instante em que o meu olhar cruzou com o dele, sofrendo na jaula, aprisionado, para o meu lazer.”
Quarenta anos depois, de tanto observar o comportamento das pessoas com os animais, Cruz percebeu que não consegue “conceber a ideia de um ser humano que pode se considerar proprietário de um ser vivo.” O olhar do babuíno foi o norte para criar a história de “A profecia animal”.
Trama do livro
No futuro, os animais vão desenvolver sua própria linguagem – e todos eles, do ar, das águas, da terra, vão conseguir se entender. A linguagem será também compreendida pelos humanos, que vão receber as reivindicações dos bichos. “Eles vão querer o direito de ter família, de não serem usados como experiência científica, vão exigir que não sejam castrados”, conta Cruz, a respeito da trama.
Já “Gran Circo” nasceu da amizade de Cruz com José Rezende Jr., jornalista mineiro radicado em Brasília. Há muito queriam fazer um livro juntos. “É uma história da infância dele em Aimorés, que vai ao encontro da minha própria, e a experiência com os circos.” Na trama, o garoto Luizinho, encantado com o zumbido das asas da trapezista, resolve fugir com o circo.
Autodidata em desenho, Cruz estreou no mercado editorial no final da década de 1980, com o livro “Mário ganhou um canário”, de Cláudio Feldman. Entre 1990 e 1994, foi ilustrador do extinto “Diário da Tarde”, dos Diários Associados. “Foram cinco anos de Redação, até que, um dia, decidi que precisava rever minha trajetória. Vi que o mercado editorial poderia ser o meu caminho”, conta ele, que, assim que pediu demissão, passou a trabalhar exclusivamente com livros.
Mesmo com tanto tempo de estrada, Cruz permanece fiel ao papel. “É claro que acompanho o que existe em termos de tecnologia, e a própria ilustração passa por uma evolução, seja de linguagem ou de narrativa. Mas o ato de pensar, de contar histórias (em texto ou desenho) é como se fosse um companheiro que vai junto com a gente. E isso não muda”, afirma.
“A PROFECIA ANIMAL”
• De Nelson Cruz
• Peirópolis
• 48 páginas
• R$ 69
• O livro será lançado neste sábado (4/10), às 13h, na Quixote Livraria (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi).
“GRAN CIRCO”
• Texto de José Rezende Jr. e ilustração de Nelson Cruz
• ÔZé
• 44 páginas
• R$ 58
• O livro será lançado no dia 11/10, às 15h, na Livraria Aluá (Rua Mármore, 654, Santa Tereza)
PROJETO LIVRO CONVIDADO
As ilustradoras Amma e Carol Fernandes conversam com Nelson Cruz sobre os livros “Sagatrissuinorana”, “Benjamina” e “Se os tubarões fossem homens”, neste sábado (4/10), às 10h30, na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de BH, Rua Espírito Santo, 593, Centro. Entrada franca.
MP
Mariana Peixoto – Estado de Minas