O Banco Central Europeu (BCE) sublinha a importância de manter dinheiro vivo em casa. Num período em que os pagamentos digitais e o uso do cartão são dominantes, a instituição alerta que a experiência das últimas crises mostrou como o dinheiro físico continua a ser indispensável.

Num relatório publicado a 24 de setembro, intitulado “Mantenha a calma e tenha dinheiro vivo: lições sobre o papel único do dinheiro físico em quatro crises”, o BCE destacou o papel “crucial” do numerário em momentos de colapso das infraestruturas digitais, e concluiu que deve ter entre 70 e 100 euros em numerário por cada membro do agregado familiar.

Entre os exemplos está o apagão elétrico que, a 28 de abril, deixou a Península Ibérica às escuras. Naquele dia, as transações digitais colapsaram e o dinheiro físico assumiu-se como único meio de pagamento para milhares de pessoas.

Quando o digital falha

O estudo recorda que, nesse episódio, os pagamentos com cartão caíram 42% face a um dia normal e o comércio eletrónico registou uma quebra de 54%.

Com as redes inoperacionais e muitos caixas automáticos indisponíveis, as notas e moedas continuaram a circular sem qualquer problema, tornando-se a única alternativa fiável.

Além de servir como instrumento de pagamento, o dinheiro físico funcionou também como elemento tranquilizador para a população, mesmo em zonas que não sofreram diretamente os efeitos do apagão.

Outras crises recentes

O BCE cita ainda outros momentos de tensão que evidenciaram a importância do numerário. Entre eles estão a pandemia de Covid-19, a guerra na Ucrânia e a crise da dívida grega.

Durante a pandemia, por exemplo, verificou-se uma procura excecional por notas, com um aumento líquido de mais de 140 mil milhões de euros em circulação até ao final de 2020.

Esse valor representou um crescimento superior a 130% em relação ao aumento médio anual de bilhetes registado antes da crise sanitária.

Peso económico do numerário

Segundo o relatório, os bilhetes em circulação na zona euro representaram, na última década, mais de 10% do PIB. Houve um pico durante a pandemia e, mais tarde, uma descida moderada a partir de 2022, acompanhando a subida das taxas de juro.

Ainda assim, o dinheiro físico mantém-se como pilar essencial do sistema financeiro. Nenhum sistema digital é considerado “infallível” e, por isso, o numerário é visto como uma rede de segurança.

O documento nota que cada vez mais governos tratam o acesso a dinheiro vivo como questão de segurança nacional.

Recomendações aos cidadãos

O BCE refere o exemplo de países como Países Baixos, Áustria e Finlândia, que recomendam aos cidadãos manter em casa dinheiro suficiente para adquirir bens essenciais durante 72 horas.

Nesses casos, aconselha-se ter entre 70 e 100 euros em numerário por cada membro do agregado familiar, de forma a enfrentar eventuais falhas prolongadas dos sistemas digitais.

Na Finlândia, estuda-se até a criação de caixas automáticas resistentes a interrupções, garantindo assim acesso a dinheiro mesmo em situações de emergência.

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