A activista Greta Thunberg disse às autoridades suecas que está a ser submetida a tratamento severo sob custódia israelita, após a sua detenção a bordo da flotilha que transportava ajuda humanitária para Gaza, de acordo com o The Guardian.
Num email enviado pelo Ministério das Relações Exteriores da Suécia a pessoas próximas a Thunberg, citado pelo The Guardian, um oficial que visitou a activista na prisão afirmou que esta alegou ter sido detida numa cela infestada de percevejos, com pouca comida e água.
“A embaixada conseguiu encontrar-se com Greta”, lê-se no email. “Ela disse que estava desidratada. Recebeu quantidades insuficientes de água e comida. Também afirmou ter desenvolvido erupções cutâneas, que suspeita terem sido causadas por percevejos, e falou sobre tratamento severo, afirmando ter ficado sentada por longos períodos em superfícies duras.”
“Outra detida teria dito a outra embaixada que a viram [Thunberg] a ser forçada a segurar bandeiras enquanto fotos eram tiradas. Ela questionou-se sobre se imagens suas teriam sido distribuídas”, acrescentou o funcionário do ministério sueco.
Thunberg está entre os 437 activistas, que incluem parlamentares, que fazem parte da Flotilha Global Sumud (GSF, na sigla original), uma coligação de mais de 40 embarcações que transportava ajuda humanitária e que tinha por objectivo romper o bloqueio marítimo israelita de 16 anos à Faixa de Gaza.
A deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua, que estava a bordo da flotilha e foi detida pelas forças israelitas, também deixou uma mensagem ao cônsul de Portugal em Israel, a quem afirmou não ter sido bem tratada, e ter ficado “sem comida nem água durante 48 horas”.
Entre quinta e sexta-feira desta semana, as forças israelitas interceptaram todos os barcos da flotilha e detiveram todos os activistas a bordo, dos quais a maioria está detida em Ketziot, também conhecida como Ansar III, uma prisão de alta segurança no deserto do Negev utilizada principalmente para deter prisioneiros palestinianos que Israel acusa de envolvimento em actividades militantes ou terroristas.
A ONG Adalah defende que os direitos dos tripulantes foram “sistematicamente violados” e refere que os activistas foram privados de água, saneamento, medicamentos e acesso imediato aos seus representantes legais, “em clara violação dos seus direitos fundamentais ao devido processo legal, julgamento imparcial e representação legal”.
A equipa jurídica italiana que representa a flotilha confirmou que os detidos foram deixados “durante horas sem comida ou água — até horas tardias na noite”, com excepção de “um pacote de batatas fritas entregue a Greta e mostrado às câmaras”. Os advogados também relataram casos de abuso verbal e físico.
Durante uma visita a Ashdod na noite de quinta-feira, o ministro da Segurança Nacional de Israel, de extrema-direita, Itamar Ben-Gvir, foi filmado perto dos activistas enquanto os chamava de “terroristas”.
“Estes são os terroristas da flotilha”, disse, apontando para dezenas de pessoas sentadas no chão. O seu porta-voz confirmou que o vídeo foi filmado no porto de Ashdod na noite de quinta-feira. Ben-Gvir já tinha apelado ao Governo israelita para que os activistas fossem presos em vez de deportados.
Esta é a segunda vez que Thunberg é presa por Israel, juntamente com outros membros da flotilha, após uma tentativa semelhante no início deste ano ter terminado com a prisão e deportação dos activistas.
Baptiste André, um médico francês que estava num dos barcos da flotilha em Junho, disse a jornalistas franceses que testemunhou agentes de fronteira israelitas a troçar dos detidos e a privar deliberadamente os passageiros de sono, em particular Thunberg.
O representante do ministério sueco disse no email que as autoridades israelitas solicitaram a Thunberg que assinasse um documento, mas que esta expressou incerteza acerca do significado do texto e não quis assinar nada que não entendesse. Foi-lhe então fornecido aconselhamento jurídico.
A Adalah afirma que, embora as autoridades israelitas tenham um histórico de participantes recorrentes em flotilhas de ajuda humanitária, activistas como Thunberg são geralmente tratados da mesma forma que pessoas que viajam pela primeira vez — ou seja, sujeitos a uma detenção de curto prazo e a deportação.
O The Guardian diz que contactou o Serviço Prisional de Israel, as Forças de Defesa de Israel (IDF) e o Ministério das Relações Exteriores de Israel, mas nenhum deles respondeu a um pedido de comentário.