A ex-vice presidente dos Estados Unidos Kamala Harris anunciou que não irá concorrer ao cargo de governadora da Califórnia, algo que tinha admitido estar a ponderar depois da derrota frente a Donald Trump nas presidenciais de 2024.
“Nos últimos seis meses, passei algum tempo a reflectir sobre este momento na história do nosso país e sobre a melhor forma de continuar a lutar pelo povo americano e a promover os valores e ideais que me são caros”, afirmou Harris num comunicado divulgado pelo seu gabinete na quarta-feira.
No comunicado citado pela Associated Press (AP), Harris diz que pensou “seriamente em pedir ao povo da Califórnia o privilégio de servir como sua governadora”, mas que, “após profunda reflexão”, decidiu não o fazer.
A decisão, segundo a AP, prolonga a especulação sobre o seu futuro político, deixando em aberto a possibilidade de que a ex-vice de Joe Biden queira concorrer às presidenciais de 2028.
O New York Times (NYT) escreve que Kamala Harris entraria nas eleições primárias presidenciais de 2028 como a democrata mais reconhecida e com a mais ampla rede de angariação de fundos, mas que, ao mesmo tempo, carregaria a bagagem de umas eleições que não trazem boas recordações ao partido.
Em 2024, Harris substituiu Biden na recta final da campanha, quando começaram a surgir questões relacionadas com a idade e saúde do então Presidente norte-americano, e acabou por perder em todos os chamados swing states, os estados onde o resultado das eleições é imprevisível porque não existe um candidato que seja claramente favorito e que acabam por ser decisivos para os resultados.
Se por um lado o futuro político de Kamala Harris continua a ser uma incógnita, o NYT também destaca que os seus colegas democratas estão há meses a preparar-se para um futuro em que não estão a contar com ela: “Os ambiciosos governadores, senadores e ex-funcionários da Administração Biden já estão a viajar pelo país, a gravar podcasts e a construir bases para lançar campanhas nacionais, que têm como objectivo deixar Harris e o ex-Presidente Joseph R. Biden Jr. para trás.”
Para um partido que procura reconquistar a confiança dos eleitores da classe trabalhadora, Kamala Harris “seria tudo menos um rosto novo”.
Citada pelo diário norte-americano, a ex-senadora da Califórnia Laphonza Butler, aliada e amiga de Harris, diz que não se devem “tirar conclusões precipitadas de que esta decisão teve alguma coisa a ver com 2028”, mas acrescenta que “todas as opções estão em aberto, caso [Harris] queira concorrer novamente à presidência”.
O cargo de governador da Califórnia é hoje ocupado por Gavin Newsom, que ganhou mediatismo depois do braço-de-ferro com a Casa Branca em Junho, desencadeado pelos protestos contra as detenções em massa de imigrantes e que resultaram em medidas extraordinárias decretadas por Trump, como o envio de milhares de militares da Guarda Nacional e a mobilização de 700 elementos do Corpo de Fuzileiros da Marinha, para reprimir os manifestantes.
Há quem veja em Newsom, claro opositor de Donald Trump, um futuro candidato a representar os democratas na próxima corrida presidencial. O NYT menciona ainda outras figuras que poderiam rivalizar com Kamala Harris se esta decidisse concorrer, como o governador Tim Walz, do Minnesota, o governador Josh Shapiro, da Pensilvânia, o governador Andy Beshear, do Kentucky, o governador Wes Moore, de Maryland, e o ex-secretário dos Transportes Pete Buttigieg.