“Eu gosto é de morrer de sede/ É de beber teu beijo/ É de tocar teu corpo/ Molhado de suor”, canta Alceu Valença em “Molhado de Suor”, do disco homônimo lançado em 1974. Suor é o título de uma canção de Joyce Moreno (“Sim, trabalhar é bom/ Doce é se cansar/ É fazer nascer, crescer, criar/ Lindo é o suor correr”) e aparece também nos versos de “Infinita Highway”, dos Engenheiros do Hawaii: “Mas tudo o que eu sentia era que algo me faltava/ E à noite eu acordava encharcado de suor”.

Acordar no meio da madrugada encharcado de suor, mesmo sem esforço físico ou calor, é desagradável. Para quem convive com essa disfunção, pode ser bem constrangedor. Existem quadros, como a hiperidrose, que não são malignos, mas provocam essa situação desconfortável.

Segundo a Academia Americana de Dermatologia, pessoas com a condição – quando as glândulas sudoríparas trabalham além da conta – transpiram até cinco vezes mais do que o necessário, inclusive durante o sono. As áreas mais comuns de sudorese excessiva são as axilas, as mãos e os pés, mas também podendo ocorrer no rosto, no couro cabeludo, nas virilhas e sob as mamas.

É comum pensar que o suor noturno é só consequência de calor ou febre, mas nem sempre é apenas isso. Variações hormonais, como menopausa e gravidez, uso de medicamentos – antidepressivos, por exemplo – e até infecções mais graves, como tuberculose, HIV e linfomas, podem estar por trás do suor excessivo.

Segundo Sávio Neves, médico endocrinologista da Santa Casa BH, para diferenciar uma sudorese noturna normal de um caso que pode estar associado a alguma doença mais grave, é necessário levar em conta fatores como intensidade da sudorese, frequência em que os sintomas ocorrem, presença de febre e outros sintomas associados que possam sugerir alguma causa específica, como tosse, expectoração, perda de peso e linfonodos aumentados. Havendo esses sinais, é preciso procurar a orientação de um especialista.

“A sudorese noturna pode impactar a qualidade do sono, resultando em sintomas como cansaço, falta de energia e sonolência diurna. De maneira inversa, pacientes com distúrbios do sono, como apneia obstrutiva, têm mais chance de apresentar queixas de sudorese noturna, que podem melhorar com o tratamento”, afirma Sávio Neves.

A busca por ajuda médica não tem exatamente um prazo fixo, mas deve ser considerada sempre que o sintoma for intenso a ponto de molhar roupas ou lençóis com frequência, ocorrer repetidamente sem explicação aparente ou vier acompanhado de sinais de alerta, como febre, perda de peso, tosse persistente ou linfonodos aumentados, ou ainda comprometer o sono e a qualidade de vida. 

“Nesses casos, a investigação clínica é fundamental e começa, geralmente, com exames de sangue e urina, podendo avançar para avaliações mais específicas, de acordo com a necessidade identificada pelo médico”, explica o médico clínico geral Saulo Vianna.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da sudorese noturna deve começar pela exclusão de causas simples, como fatores ambientais, hábitos alimentares e uso de álcool ou cafeína, seguido da revisão de medicamentos que possam causar o sintoma. De acordo com Saulo Vianna, é importante investigar sinais de alerta que indiquem outras doenças, como febre, perda de peso, fadiga, alterações hormonais ou sintomas de apneia do sono.

Caso não se encontrem causas externas ou médicas associadas, considera-se a hiperidrose primária, um distúrbio crônico sem origem definida que provoca sudorese excessiva, geralmente localizada em axilas, mãos e pés, mas que também pode ocorrer durante o sono.

“O tratamento idealmente deve ser da causa de base. Para casos mais benignos de sudorese, em que não há uma doença por trás, o tratamento inclui o uso de antitranspirantes, aplicações de toxina botulínica e, para casos mais graves, a cirurgia de simpatectomia”, observa o médico endocrinologista Sávio Neves.  

Quando a hiperidrose noturna não está relacionada a doenças ou ao uso de medicamentos, a primeira medida recomendada é adotar mudanças simples de hábitos. Manter o quarto bem ventilado, usar roupas de cama e pijamas de tecidos leves, além de reduzir o consumo de álcool, cafeína e alimentos picantes nas horas que antecedem o sono ajudam a evitar o suor noturno. Especialistas também indicam práticas de relaxamento e meditação, especialmente quando a sudorese excessiva está associada ao estresse ou à ansiedade.

Homens e mulheres: causas diferentes

Embora muitas causas de suor noturno excessivo sejam comuns a homens e mulheres, como infecções, efeitos de medicamentos, apneia do sono, tuberculose, HIV, linfomas e hipertireoidismo, as variações hormonais específicas influenciam a manifestação do sintoma.

Nas mulheres, pontua o clínico geral Saulo Vianna, a principal responsável é a menopausa, cujas flutuações de estrogênio provocam ondas de calor que frequentemente se manifestam à noite. Alterações hormonais do ciclo menstrual e da gravidez, diz o especialista, também podem contribuir.

“Já nos homens, embora menos frequente, suores noturnos podem surgir devido à deficiência androgênica ligada ao envelhecimento ou, mais comumente, como efeito do tratamento hormonal para câncer de próstata”, conclui Vianna.