O primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, apresentou esta segunda-feira a demissão a Emmanuel Macron, 27 dias após a nomeação e na véspera de apresentar a sua declaração de política geral à Assembleia Nacional francesa. O Presidente francês aceitou o pedido, de acordo com o Le Monde.
“Não se pode ser primeiro-ministro quando as condições não estão reunidas”, afirmou o primeiro-ministro demissionário após o anúncio da sua saída, sublinhando que “tentou construir um caminho […] em questões que foram alvo de bloqueios“, como o subsídio de desemprego e a segurança social.
Para Lecornu, existem três razões pelas quais já não podia estar no cargo de primeiro-ministro. Em primeiro lugar, menciona a dificuldade de os partidos políticos reconhecerem a decisão de “não recorrer ao artigo 49.3 da Constituição” — que permite a aprovação de leis sem votação parlamentar —, acrescentando que “já não havia pretexto para uma censura prévia”.
Além disso, “os partidos continuam a adotar uma postura como se todos tivessem maioria absoluta na Assembleia Nacional”, lamentou o agora ex-chefe do executivo francês, referindo-se à dificuldade de existir consenso dentro do parlamento.
Em terceiro lugar, Lecornu apontou para a formação do novo governo dentro do “bloco comum” não ter decorrido de “forma fluida”, uma vez que o processo foi marcado pelo “despertar de alguns apetites partidários, por vezes não alheios […] às próximas eleições presidenciais”.
A demissão do primeiro-ministro ocorreu apenas 13 horas depois de Emmanuel Macron ter anunciado, no domingo à noite, a composição do Governo em que Lecornu estava a trabalhar desde a sua nomeação (a 9 de setembro), após a queda do seu antecessor, François Bayrou.
A presidente do grupo da Assembleia Nacional da França Insubmissa, Mathilde Panot, reagiu à demissão do primeiro-ministro na rede social X, acreditando que “a contagem decrescente começou”. A líder do grupo parlamentar LFI pediu, ainda, para que Macron “saia”.
Lecornu démissionne.
3 Premiers ministres défaits en moins d’un an.
Le compte à rebours est lancé.
Macron doit partir.
— Mathilde Panot (@MathildePanot) October 6, 2025
O líder da França Insubmissa, Jean-Luc Melénchon, propôs “uma reunião esta tarde com os partidos de esquerda para “considerar todas as possibilidades abertas por esta situação”. “Está a surgir uma situação política sem precedentes históricos. Temos o dever de responder dando novamente voz ao povo“, escreveu, visando uma nova dissolução da Assembleia Nacional.
Une situation politique sans précédent historique se présente.
Nous avons le devoir d’y répondre en redonnant la parole au peuple.
Victorieux sur la base du programme de rupture du NFP il y a un an, nous avons voté ensemble la semaine dernière pour nos candidats aux fonctions…
— Jean-Luc Mélenchon (@JLMelenchon) October 6, 2025
Também o presidente da União Nacional, Jordan Bardella, considerou que “o primeiro ministro efémero não tinha margem de manobra”. “Foi claramente Emmanuel Macron quem formou este Governo”, disse o líder do RN à BFMTV, acrescentando que “não pode haver estabilidade sem o regresso às urnas e sem a dissolução da Assembleia Nacional”.
Por seu turno, Marine Le Pen destacou “a decisão sábia” após a demissão de Sébastien Lecornu. A líder dos deputados do RN questionou, também, a capacidade de Emmanuel Macron para “resistir à dissolução”. “Peço-lhe que dissolva a Assembleia Nacional. A dissolução é absolutamente incontornável. Chegámos ao fim da linha. Não haverá mais amanhã. Chegámos ao fim da piada. A farsa já durou demasiado tempo”, sublinhou Le Pen.
Il n’y a pas de solution, il n’y en aura pas demain : j’appelle le président de la République à dissoudre l’Assemblée nationale. pic.twitter.com/z9TfxNK8ke
— Marine Le Pen (@MLP_officiel) October 6, 2025
“Perguntava-me se ainda havia um gaullista neste país. Havia um, e acaba de renunciar com dignidade e honra“, escreveu Olivier Faure, primeiro-secretário do Partido Socialista francês, no X.
Je me demandais si il restait un gaulliste dans ce pays. Il en restait un, et il vient de démissionner avec dignité et honneur.
— Olivier Faure (@faureolivier) October 6, 2025
Por sua vez, o líder do grupo parlamentar do Modem, Marc Fesneau, afirma que tem “vergonha da vida política” de França. “Quero, aqui, dizer as coisas como elas são. A irresponsabilidade individual, as ambições presidenciais e os cálculos mesquinhos estão a mergulhar o país no caos. No final, as únicas vítimas serão os franceses. Tenho vergonha de ver tudo isto exposto aos olhos dos nossos concidadãos, que têm motivos legítimos para estar zangados”, escreveu no X, acrescentando: “Tenho vergonha das consequências que se seguirão se não houver uma reação, pois elas afetarão primeiro os mais modestos e os mais frágeis”.
J’ai honte de notre vie politique. Je veux, ici, dire les choses telles qu’elles sont.
L’irresponsabilité individuelle, les ambitions présidentielles et les petits calculs mesquins sont en train de faire sombrer le pays dans le chaos. Au bout, les seules victimes seront les…
— Marc Fesneau (@MFesneau) October 6, 2025
“Nós, no MoDem e no grupo parlamentar Les Démocrates, não nos desviaremos das nossas responsabilidades. Não desistiremos e lançaremos todas as nossas forças nesta batalha para encontrar um compromisso histórico para França”, sublinhou, ainda, Marc Fesneau.
A presidente da Assembleia Nacional, Yaël Braun-Pivet, afirmou, também, que “é urgente definir um pacto de estabilidade e responsabilidade que corresponda às expectativas” dos cidadãos franceses. “Os nossos concidadãos esperam que nos sentemos à mesa”, diz, apelando à “responsabilidade” de todos.
La voie du dialogue est encore possible. Nos concitoyens attendent que nous nous mettions autour de la table. Il est urgent de définir un pacte de stabilité et de responsabilité pour répondre à leurs attentes. Cela doit être notre seul guide. C’est notre responsabilté à tous,…
— Yaël Braun-Pivet (@YaelBRAUNPIVET) October 6, 2025