Numa corrida que começou de forma morna, a temperatura aqueceu nas últimas voltas. George Russell foi o justo vencedor de uma prova sem grandes incidentes, mas repleta de mudanças.

O britânico controlou a corrida brilhantemente, assinando um primeiro stint notável, no qual ganhou mais de nove segundos a Max Verstappen. No entanto, no segundo stint, com pneus duros, não conseguiu manter o diferencial de performance e viu Verstappen e Lando Norris aproximarem-se — ainda que sem nunca colocar em causa a vitória confirmada 62 corridas depois.

A luta pelo segundo lugar do pódio foi intensa. Verstappen iniciou a corrida com um excelente ritmo, mas o seu monolugar começou a apresentar pequenos problemas (trocas de caixa e travagem), o que permitiu a Norris aproximar-se e lançar um ataque nas voltas finais. O neerlandês defendeu-se bem, e Norris teve de se contentar com o terceiro lugar — resultado que, ainda assim, confirmou o título de construtores da McLaren.

Esse, porém, foi o único motivo de celebração para a equipa de Woking. Oscar Piastri mostrou-se muito insatisfeito com o toque de Norris na largada. O britânico foi agressivo no arranque, o contacto aconteceu e Piastri expressou de forma veemente o seu descontentamento, que se manteve durante toda a corrida. No dia em que a McLaren fechou as contas do campeonato, a dinâmica interna ameaça mudar radicalmente.

Kimi Antonelli (sólida prestação) terminou na quinta posição, à frente de Charles Leclerc, que aproveitou o azar de Lewis Hamilton (duas paragens). O britânico da Ferrari ficou sem travões no final da corrida e Fernando Alonso ainda ameaçou o sétimo posto. Hamilton poderá perder o lugar por exceder os limites de pista nas voltas finais.

Alonso realizou uma excelente corrida. Fez um excelente primeiro stint, viu a sua equipa realizar uma paragem extremamente lenta que o atirou para a cauda do pelotão e acabou no oitavo posto, à frente do brilhante Oliver Bearman e do não menos impressionante Carlos Sainz, que largou do 18º posto e terminou nos pontos. O espanhol terminou à frente de Isack Hadjar, que mesmo com um problema na sua unidade motriz, manteve-se na luta pelos pontos até ao fim, em mais uma bela prestação do francês.

A McLaren festeja o bicampeonato — o primeiro desde os gloriosos anos 90. Num ano de domínio e de lutas equilibradas entre os seus pilotos, que também disputam o título individual, o incidente de hoje poderá marcar um ponto de viragem: Piastri dificilmente voltará a querer ser um team player. A partir de agora, tudo indica que será cada um por si.

O filme da corrida

Com 33 °C de temperatura da pista e 29 °C de temperatura do ar, os pilotos preparam-se para enfrentar a corrida mais longa do ano. Com a humidade nos 80%, o mais alto registado durante todas as sessões, os pilotos teriam pela frente um prova exigente do ponto de vista técnico e físico.

George Russell largava da pole, com a companhia de Max Verstappen na primeira linha, vigiados de perto por Oscar Piastri e Kimi Antonelli na segunda linha. Pierre Gasly e Alex Albon tiveram de largar da via das boxes, por desrespeito às condições de parque fechado.

A chuva caiu antes da prova e ainda havia alguma humidade no asfalto do circuito de Marina Bay, diminuindo a aderência nas primeiras voltas de um GP com 62 voltas. Apesar da chuva que caiu e da menor aderência, o top 10 começava com pneus médios, exceto Max Verstappen, Isack Hadjar e Fernando Alonso, com macios.

A azia de Piastri

Na largada, George Russell conseguiu um excelente arranque, mas Lando Norris foi o mais agressivo do top 5, subindo ao terceiro lugar, à custa do seu colega de equipa. Também Charles Leclerc conseguiu subir dois lugares, instalando-se na quinta posição. Fernando Alonso ganhou um lugar e Franco Colapinto conquistou três lugares na largada.

A largada agressiva de Norris provocou danos na asa dianteira, enquanto Piastri se queixava do comportamento do britânico. Nas primeiras três voltas, Russell conseguiu ganhar dois segundos a Verstappen, enquanto Norris se mantinha a menos de um segundo de Verstappen. Na chegada à volta 10, Russell tinha mais de quatro segundos de vantagem para Verstappen, com Norris a gerir a distância para o piloto da Red Bull, enquanto Piastri e Leclerc mantinham as posições.

Na volta 14, Yuki Tsunoda trocou de pneus (para os duros) enquanto Gabriel Bortoleto trocou de pneus e de asa dianteira, danificada depois de um toque de Lance Stroll, na largada. Na mesma volta, Norris tocou no muro da curva 16, sem consequências. Os pneus macios começavam a ceder e os pilotos que começaram com as borrachas marcadas a vermelho começavam a entrar na janela de troca de pneus.

Primeira metade pouco animada

Na volta 20, Max Verstappen entrava para colocar pneus duros, enquanto Norris ficava em pista para tentar o “overcut”. O ritmo inicial de Verstappen era forte enquanto Norris também subia o nível. Na frente, Russell tinha uma almofada de 10 segundos. Leclerc entrou duas voltas depois para colocar pneus duros.

Norris começava olhar para a frente da corrida e a Mercedes aconselhava Russell a dar tudo, uma vez que os McLaren começavam a aproximar-se. Na volta 25, Hamilton entrava nas boxes para colocar pneus duros e na volta seguinte, George Russell entrava nas boxes para colocar pneus duros. Norris assumia a liderança e Piastri seguia atrás. Kimi Antonelli também entrou para colocar os duros enquanto a McLaren conferenciava com os pilotos a ordem para parar. Norris tinha prioridade e entrou primeiro para colocar pneus duros.

Jogadas estratégicas

Norris regressou à pista a cinco segundos de Verstappen, mas com vantagem de ter pneus sete voltas mais novos. Piastri entrou para colocar pneus duros na volta 27, mas a paragem correu mal, mas sem consequências na posição esperada.

A meio da corrida, Russell ia vendo Verstappen a aproximar-se com Norris a não conseguir aproximar-se do #1 da Red Bull. Oscar Piastri estava a 9 segundos de Norris e Leclerc estava a oito segundos de Piastri. Seguiam-se Antonelli, Hamilton, Lawson, Stroll e Sainz.

Na volta 37, Verstappen bloqueou as rodas, queixando-se do carro. Isso permitiu a Russell aumentar a distância para 5 segundos e Norris ficou a menos de dois segundos do Red Bull. Verstappen ia acumulando erros a um ritmo pouco normal, provavelmente motivados pelos problemas que ia sentido no seu monolugar.

Final escaldante na luta pelo segundo posto

A 19 voltas do fim, Russell começou a encontrar os retardatários, mas Verstappen, com problemas no equilíbrio do carro, não conseguia aproximar-se. A corrida ia animando com alguns toques, erros (Nico Hülkenberg perdeu o controlo do carro, sem consequências).

Aproveitando os problemas de Verstappen e os retardatários, Norris começava a aproximar-se, ficando a menos de um segundo do Red Bull, já com uso do DRS. Mas Verstappen defendia-se com valentia e Norris não encontrava soluções para subir ao segundo posto, enquanto Russell se mantinha no topo sem problemas.

Com 10 voltas para o fim da corrida, Norris iniciava o ataque a Verstappen, sem sucesso, permitindo a Piastri que se aproximasse. Mais atrás, Leclerc perdia duas posições, uma para Antonelli e outra para Hamilton (com o britânico a ter a vida facilitada pela equipa e pelo colega de equipa).

A ordem no topo da tabela não se alterou, mas atrás houve ainda muita animação. Lewis Hamilton acabou a corrida sem travões e com a ameaça de Alonso. Apesar disso, Alonso terminou atrás de Hamilton, com Leclerc a recuperar o sexto lugar. George Russell venceu, seguido de Verstappen e Norris, com Piastri e Antonelli no top 5. Leclerc, Hamilton, Alonso, Bearman e Sainz completram o top 10.