Ativistas pró-palestinianos, participantes da flotilha humanitária Global Sumud, que chegaram este sábado a Istambul, depois expulsos de Israel, disseram à imprensa que foram sujeitos a violência e “tratados como animais”. A flotilha Global Sumud foi intercetada na passada quarta-feira, quando se aproximava da costa da Faixa de Gaza. A bordo da flotilha, que incluía cerca de 45 embarcações, estavam também políticos e ativistas, incluindo a sueca Greta Thunberg.
De acordo o “The Guardian”, a ativista ambiental disse às autoridades do seu país que está a ser alvo de maus-tratos sob custódia das forças israelitas. Segundo correspondência a que o jornal britânico teve acesso, as forças israelitas também terão tirado fotografias em que Thunberg foi alegadamente obrigada a segurar bandeiras israelitas. A informação foi confirmada por várias fontes.
Um funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros sueco, que visitou a ativista na prisão, reportou uma denúncia feia por Thunberg sobre a existência de uma infestação de percevejos na cela em que foi colocada. Às queixas junta-se ainda falta de comida e de água.
“Ela informou estar desidratada. Recebeu quantidades insuficientes de água e comida. Disse também ter desenvolvido erupções cutâneas que suspeita terem sido causadas por percevejos. Falou de maus-tratos e afirmou que esteve sentada durante longos períodos em superfícies duras.”, lê-se no jornal britânico.
De acordo com o ativista turco Ersin Çelik, participante na frota Sumud, Greta foi “arrastada pelos cabelos diante dos nossos olhos, bateram-lhe e forçaram-na a beijar a bandeira israelita“. “Fizeram-lhe tudo o que se possa imaginar, como aviso para os outros”, disse à agência noticiosa Anadolu.
A descrição do ataque israelita no mar
Centenas de ativistas a bordo dos barcos foram detidos pelas forças israelitas e aguardam a deportação. Entre os detidos, encontravam-se os 137 cidadãos de 13 países, incluindo 36 turcos, que chegaram este sábado a Istambul.
“Fomos intercetados por um grande número de embarcações militares”, disse à AFP Paolo Romano, conselheiro regional da Lombardia, em Itália, no aeroporto de Istambul. “Todos os barcos foram atacados por agentes fortemente armados e trazidos para terra”, disse o jovem de 29 anos.
“Obrigaram-nos a ajoelhar, de bruços. E se nos mexêssemos, espancavam-nos. Gozavam connosco, insultavam-nos e batiam-nos“, acrescentou Paolo Romano. “Usavam violência psicológica e física“.
Em Israel, foram levados para uma prisão, onde permaneceram presos sem permissão para sair e sem água, segundo o seu testemunho. “Abriam a porta à noite e gritavam connosco com armas para nos assustar”, acrescentou. “Éramos tratados como animais”.
O jornalista italiano Lorenzo D’Agostino, que também estava a bordo da flotilha, disse à AFP que “foram raptados em águas internacionais enquanto estavam a 55 milhas [pouco mais de 100Km] de Gaza”. “Passámos dois dias infernais na prisão. Agora estamos livres graças à pressão da opinião pública internacional que apoia a Palestina”, afirmou. “Espero sinceramente que esta situação termine em breve, porque a forma como fomos tratados é bárbara”, acrescentou.
Iylia Balais, uma ativista malaia de 28 anos, disse à AFP que a interceção dos barcos por Israel foi “a pior experiência” que já teve. “Fomos algemados com as mãos atrás das costas, não conseguíamos andar, alguns de nós foram obrigados a deitar-se de bruços, depois foi-nos negada água e alguns de nós não receberam medicação”, relatou.
Transporte para Istambul
Os ativistas foram levados para Istambul num avião fretado especialmente pela Turkish Airlines. Os familiares dos ativistas turcos aguardavam a sua chegada na sala VIP do aeroporto de Istambul, agitando bandeiras turcas e palestinianas e gritando “Israel, assassino”. Os ativistas turcos deveriam realizar exames médicos à chegada e comparecer no tribunal no domingo para prestar depoimento, disseram os seus advogados.
A Turquia denunciou a interceção da flotilha por Israel como “um ato de terrorismo” e anunciou na quinta-feira que tinha aberto uma investigação. Numa mensagem publicada no X, o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Hakan Fidan, elogiou os ativistas como “pessoas corajosas que deram voz à consciência da humanidade” e disse que Ancara garantiria o repatriamento de todos os seus cidadãos, sem fornecer um número total.
O ativista líbio Malik Qutait disse não ter medo e prometeu continuar a tentar chegar a Gaza. “Reunirei o meu grupo, organizarei o fornecimento de medicamentos e ajuda humanitária, encontrarei um barco e tentarei novamente”, concluiu.
137 deportados de 12 países
Israel procedeu este sábado à deportação de 137 ativistas pró-palestinianos da Flotilha Global Sumud para a Turquia. De acordo com o Governo israelita, trata-se de cidadãos dos Estados Unidos, Itália, Reino Unido, Suíça, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Argélia, Marrocos, Kuwait, Líbia, Malasia, Mauritania e Tunísia.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Governo português, contactado este sábado pela Lusa, disse que ainda não tem data nem hora previstas para o regresso dos quatro portugueses, participantes na flotilha.
A equipa jurídica da Flotilha Global Sumud em Israel, por seu lado, disse que se reuniu com 80 participantes, de um total de mais de 400 detidos, adiantando que tinham sido realizadas 200 audiências judiciais, entre quinta e sexta-feira, “sem aviso prévio aos advogados” e, por isso, “sem a assistência da ONG Adalah, responsável pela defesa”.