Os países Balcãs promovem uma verdadeira viagem no tempo, especialmente no que a automóveis diz respeito. Se por um lado a Mercedes-Benz é a marca de automóveis mais popular na Albânia, numa preferência que remonta à era do regime comunista, quando a liderança de Enver Hoxha tornou o nome alemão num símbolo de prestígio, outros países como a Macedónia do Norte têm nas suas estradas um ícone mais peculiar: o Yugo!
Numa viagem recente por alguns países dos Balcãs, uma das coisas que mais me impressionou foi a ainda dominante presença de veículos Yugo: estão por todo o lado e é curioso como se mantêm perfeitamente funcionais, hoje em dia.
Não fará parte da memória de muitos, como não faz diretamente da minha, mas o Yugo foi um automóvel compacto produzido pela empresa Zastava Automobiles, sediada em Kragujevac, na antiga Jugoslávia, atual Sérvia.
Claramente inspirado no Fiat 127, graças a um acordo de licenciamento entre a Zastava e a Fiat, o “Yugo” (de “Yugoslavia”) tornou-se mundialmente conhecido nas décadas 1980 e 1990, especialmente pelo baixo preço, e pela fama de ser um dos carros mais simples e acessíveis do mercado.
Com um design simples e tendo como base a plataforma Fiat 127, o seu desempenho e conforto foi sendo melhorado ao longo dos anos, com versões hatchback, sedã e pick-up a surgirem, também:
- Yugo 45 – lançado em 1980, o primeiro modelo tinha cerca de 45 cv de potência;
- Yugo 55 – lançado no início da década de 1980, com cerca de 55 cv de potência;
- Yugo 60 – lançado em meados da década de 1980, com cerca de 60 cv de potência;
- Yugo 65 – lançado no final da década de 1980, com cerca de 65 cv de potência;
Além destes modelos, o Yugo começou a ser vendido nos Estados Unidos, em 1985, importado pela empresa Malcolm Bricklin. O modelo mais conhecido, o Yugo GV (Great Value), era, na altura, o carro mais barato no mercado norte-americano.
O início do fim do sonho industrial jugoslavo
Embora o preço tenha atraído muitos compradores, a fama do Yugo desvaneceu-se sob argumentos de baixa qualidade de construção e acabamentos pobres; falta de fiabilidade, devido a falhas mecânicas; peças defeituosas; e mau desempenho.
Ainda assim, a produção continuou até 2008, quando a Zastava foi adquirida pela Fiat.
Hoje em dia, é colecionado por entusiastas que apreciam o seu valor histórico e o seu simbolismo, além de ainda rolar nas estradas de alguns países do Balcãs, conforme testemunhei.
O Yugo simboliza o comunismo que escreveu parte da história dos Balcãs
O Yugo surgiu durante os últimos anos do regime de Josip Broz Tito. De forma simplificada, a República Federativa Socialista da Jugoslávia era um país socialista, mas com um modelo próprio e mais aberto do que o dos restantes países do bloco de Leste.
Aplaudido por muitos e repudiado por outros tantos, na altura da sua governação, Tito levou a Jugoslávia a seguir um caminho mais independente da Rússia e mais disposto a cooperar com o Ocidente.
Desta forma, o país mantinha uma economia planificada, mas aceitava investimento estrangeiro, bem como parcerias comerciais com empresas ocidentais.
Foi neste contexto, no final dos anos de 1970, que surgiu a ideia de criar um automóvel acessível e que pudesse ser exportado, com o objetivo de mostrar ao mundo a capacidade industrial jugoslava.
Uma vez que a empresa Zastava Automobiles, uma das maiores fábricas industriais da Jugoslávia, já produzia carros sob licença da Fiat desde os anos 1950, como o Zastava 750 (baseado no Fiat 600), foi responsável pelo Yugo.
O projeto estatal, apoiado tanto pelo governo central como pelas repúblicas, democratizou o acesso ao carro próprio e tornou-se um produto de orgulho nacional.
A rolar pelas estradas dos Balcãs, o Yugo é, hoje em dia, um testemunho histórico de uma república (ainda que federativa), e do seu contexto. Observar os muitos que ainda existem nas estradas incentiva à compreensão das tensões de outros tempos e permite revisitar o percurso de um projeto político que ficou pelo caminho.
Sobre se ainda é possível reparar um Yugo nas oficinas, um local respondeu que sim, mas que é mais simples fazê-lo em casa, uma vez que “qualquer um consegue fazer as próprias peças”.