As negociações vão focar-se na primeira fase do plano de Trump para pôr fim à guerra em Gaza, revelou o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Egito, ou seja, a libertação dos restantes 48 reféns detidos pelo Hamas em troca de prisioneiros palestinianos detidos em Israel.

Numa publicação nas redes sociais, na noite de domingo, o presidente dos EUA disse que as negociações estavam a avançar rapidamente, acrescentando que a primeira fase “deveria estar concluída esta semana”. O incentivo surgiu enquanto Israel continuava os ataques a Gaza, matando 63 pessoas nas últimas 24 horas. As negociações na cidade turística de Sharm
el-Sheikh decorrem véspera do segundo aniversário do ataque sem
precedentes do movimento islamita palestiniano Hamas contra Israel, a 7
de outubro de 2023, que desencadeou a guerra.

O enviado dos EUA, Steve Witkoff, deverá participar nas negociações em Sharm el-Sheikh, segundo os meios de comunicação israelitas, além dos negociadores israelitas e de uma delegação palestiniana chefiada por Khalil al-Hayya, vice-chefe do gabinete político do Hamas.

O porta-voz do Governo israelita, Shosh Bedrosian, afimou aos jornalistas que as negociações no Egito estariam “limitadas a alguns dias, no máximo”.

A libertação dos reféns e a troca de prisioneiros significariam o fim imediato dos combates em Gaza, segundo Trump. Desde a aceitação parcial do Hamas do seu plano para
pôr fim à guerra de quase dois anos em Gaza, na sexta-feira, os EUA,
Israel e Hamas têm afirmado acreditar que um cessar-fogo está próximo.

O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, avançou, em entrevista à estação televisiva ABC, que as negociações no Egito foram “o mais perto que estivemos de conseguir a libertação de todos os reféns”. No entanto, alertou que as negociações ainda podem falhar devido à logística e que os detalhes da libertação dos reféns precisam de ser acertados.

Rubio afirmou ainda que existiam desafios a longo prazo na implementação do acordo, em particular a criação de um organismo governamental tecnocrático para supervisionar Gaza no lugar do Hamas. Salientou que a prioridade atual era a libertação dos reféns e a garantia de que as tropas israelitas recuassem para uma linha acordada em Gaza.

Anunciado a 29 de setembro, o plano norte-americano prevê um cessar-fogo, a libertação, no prazo de 72 horas, dos 47 reféns ainda mantidos após o ataque de 7 de outubro, a retirada gradual do exército israelita de Gaza e o desarmamento do Hamas. Em troca, Israel retiraria gradualmente as suas tropas de Gaza e devolveria mais de mil prisioneiros palestinianos. O Hamas afirmou no domingo estar “ansioso por
iniciar imediatamente o processo de troca” de reféns por prisioneiros
palestinianos detidos por Israel.

O acordo libertaria um aumento da ajuda humanitária a Gaza, parte da qual está a passar fome, bem como fundos para a reconstrução.

Na noite de sábado, Trump partilhou um mapa de Gaza que delineava a linha inicial de retirada das tropas israelitas em Gaza, que variava entre dois quilómetros e 6,4 quilómetros no território. O presidente norte-americano acrescentou que, se o Hamas concordasse com a linha de retirada, começaria imediatamente um cessar-fogo.

As forças israelitas deverão recuar completamente para uma zona tampão na fronteira de Gaza, de acordo com os termos do plano, embora o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, tenha afirmado que, independentemente de qualquer acordo, as tropas permanecerão na maior parte de Gaza.Líderes exortam Hamas a Israel a chegarem a acordo

O otimismo em relação a um possível cessar-fogo tem crescido em todo o mundo, com os líderes ocidentais e árabes a exortarem o Hamas e Israel a chegarem a um acordo.

Guilherme de Sousa – Antena 1

No domingo, o chanceler alemão, Friedrich Merz, telefonou a Netanyahu e manifestou apoio ao plano de Trump, descrevendo-o como “a melhor hipótese para a paz”, segundo um comunicado.

Já o presidente do Egito, o país que acolhe as negociações saudou os esforços dos Estados Unidos sobre Gaza.


“Um cessar-fogo, o regresso de prisioneiros e detidos, a reconstrução de Gaza e o lançamento de um processo político pacífico que conduza ao estabelecimento e reconhecimento do Estado Palestiniano significam que estamos no bom caminho para uma paz e estabilidade duradouras”, afirmou Abdel Fattah al-Sisi, durante um discurso que assinalou a guerra israelo-árabe de outubro de 1973 (Guerra do Yom Kippur).

Por seu lado, Teerão, que é aliada do Hamas, expressou apoio a qualquer iniciativa para acabar com “crimes de guerra” e a “limpeza étnica”.

“Apoiamos sempre qualquer iniciativa que envolva o fim da limpeza étnica, dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade em Gaza”, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão, num comunicado divulgado na noite de domingo.

As autoridades israelitas disseram ainda que esperam anunciar o fim da guerra nos próximos dias.

Um alto funcionário do Hamas disse à agência France-Presse que o grupo estava “muito interessado em chegar a um acordo para pôr fim à guerra e iniciar imediatamente o processo de troca de prisioneiros, de acordo com as condições no terreno”.

Trump ameaçou o Hamas com “destruição completa” caso não chegasse a acordo sobre Gaza, numa entrevista à CNN. Disse ainda que Netanyahu apoiava o fim do bombardeamento de Gaza.

Apesar do pedido de Trump para que Israel interrompa os seus ataques e das ordens para que os militares conduzam apenas “operações defensivas”, Israel continuou a bombardear o território palestiniano. Pelo menos oito pessoas foram mortas em ataques separados na Cidade de Gaza, enquanto outras quatro foram mortas a tiro enquanto procuravam ajuda no sul do enclave.

“Embora alguns bombardeamentos tenham realmente cessado dentro da Faixa de Gaza, não há nenhum cessar-fogo em vigor neste momento”, acrescentou Shosh Bedrosian.

Pelo menos 67.139 pessoas foram mortas e cerca de 170 mil ficaram feridas pela campanha militar israelita em Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, que afirmou que cerca de metade delas eram mulheres e crianças. Israel lançou a campanha em retaliação após um ataque de militantes liderados pelo Hamas que matou cerca de 1.200 pessoas e fez com que outras 251 fossem feitas reféns.

A ONU declarou o estado de fome em parte do território sob um rigoroso bloqueio israelita, e os seus investigadores alegam que Israel está a cometer genocídio no território palestiniano. Estas acusações são rejeitadas por Israel.


Considerado uma organização terrorista pela União Europeia e pelos Estados Unidos, o Hamas tomou o poder em Gaza em 2007, dois anos após a retirada unilateral de Israel do território palestiniano que ocupou durante 38 anos.


c/ agências