Numa altura em que mais de metade dos jovens europeus se sentem excluídos do debate político, a uma semana de novas eleições autárquicas, a geração Z faz campanha em prol do debate e participação activa dos jovens nos centros de decisão politica, dizem candidatos sub-25 à presidência de câmaras municipais, ao P3.

Com apenas 18 anos, João Arroz Nunes é o mais jovem candidato à presidência da Câmara Municipal das Caldas da Rainha. Natural de Nossa Senhora do Pópulo, freguesia do concelho a que se candidata, o estudante universitário assumiu as rédeas da primeira candidatura do Livre ao município. Apaixonado pela história nacional e internacional, admite que o interesse pela política surgiu desta paixão e, aos 17 anos, tornou-se membro partidário.

A uma semana da corrida às urnas, o objectivo passa por “provar que os jovens não têm uma visão apática da participação política” e que é necessário “sangue novo” nos centros democráticos locais. “Neste momento, em muitos centros de decisão, os jovens não têm voz. Devido ao facto de não estarmos representados o suficiente, começou a achar-se que não temos vontade de participar na política, o que não é verdade”, reitera, ao explicar que, no Parlamento, a média de idades sobe a cada ano.




João Arroz Nunes, de 18 anos, é o mais novo candidato às eleições autárquicas
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O programa eleitoral, que visa mudar o paradigma autárquico caldense, procura implementar novas ideias para “resolver problemas transversais ao país”, como a crise na habitação, na mobilidade e na cultura da região, que recebe diversos estudantes e jovens profissionais formados na Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha (ESAD.CR). Nas arruadas, João sente o apoio de pessoas mais velhas, mas principalmente de jovens “que apoiam esta necessidade de mudança e querem ser representados por alguém que também sofre com os problemas desta geração”.

Para Duarte Raposo, candidato da CDU também à Câmara Municipal de Caldas da Rainha, todos os dias surge “sangue novo” interessado em mudar o paradigma político actual. A caminho de terminar a licenciatura em Estudos Europeus na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o jovem de 21 anos é membro da Juventude Comunista Portuguesa e conta com um “percurso de luta pelo associativismo no ensino superior”.




Duarte Raposo, de 21 anos, é o candidato da CDU à Câmara Municipal das Caldas da Rainha
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“Nós somos uma força com uma grande percentagem de juventude na defesa por um concelho melhor”, diz, apresentando uma candidatura que não procura a “afirmação política da juventude”. Para o candidato e estudante universitário, esta surge “com naturalidade, um bocadinho todos os dias”, na conversa e no contacto com “jovens, reformados e trabalhadores dos mais variados sectores” no terreno, que o “incentivam [a] uma participação activa na vida política”.

Apesar da idade, mais a norte, em Santa Maria da Feira, Eduardo Couto já não é nenhum estreante em corridas eleitorais. Em 2021, o candidato do Bloco de Esquerda (BE) foi o mais jovem do país a concorrer às eleições autárquicas, na altura, à Assembleia de Freguesia de Fiães, freguesia do concelho a que, agora, se candidata. Com 22 anos, o jovem, que ainda concorreu nas eleições legislativas de 2021 e 2024, revela que muitos oponentes tentaram desacreditar estas candidaturas por causa da idade.




Eduardo Couto, de 22 anos, do Bloco de Esquerda, concorre pela segunda vez às eleições autárquicas
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“Eu creio que estes ataques, que colocam em causa a minha própria idade, mobilizam também muito do eleitorado jovem, que tem sido posto de lado”, confessa. Muitas vezes, como acaba por explicar, “as pessoas acreditam que os mais jovens não têm nada a dizer sobre a política”, embora seja uma geração que sofre, principalmente, com a “grave crise na habitação”. “Acredito que, numa simbiose de gerações, os jovens têm mesmo de desempenhar um papel dianteiro perante o momento político que atravessamos”, completa.

O panorama político nacional também motivou a participação mais activa de Ana Rita Moreira. A socióloga de 24 anos, natural de Covilhã, é a candidata do Pessoas-Animais-Natureza (PAN) à Câmara Municipal de Aveiro. Agora a viver no município, para onde se mudou para completar o mestrado em Gerontologia Aplicada, em 2024, deu o “passo natural” de se juntar ao partido que fomenta a “luta e participação jovem”.




Ana Rita Moreira, de 24 anos, é a candidata do PAN à Câmara Municipal de Aveiro
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Sendo a juventude o “verdadeiro motor da comunidade”, Ana Rita Moreira visa dar voz aos jovens na vida política local, de forma a trazer “novas ideias e uma perspectiva diferente” ao concelho. “O sangue novo é essencial”, como refere, para combater o “descrédito e distância em relação à política”. “É de louvar o facto de tantos jovens se mobilizarem em defesa de causas que consideram importantes. Isso mostra que existe vontade de participar e o município tem a responsabilidade de não deixar morrer esse sentimento de pertença”, conclui.

Jovens lutam por um interior esquecido

No interior do país, cada vez mais despovoado e envelhecido, três jovens candidatos remam contra a maré e combatem estereótipos. Os candidatos da Aliança Democrática (AD), Chega e Partido Socialista (PS) procuram potencializar as regiões e atrair antigos e futuros habitantes.​

Apesar de ser natural de Oliveira do Douro, em Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto, Eduardo Sousa aponta à valorização de Tarouca, município do concelho de Viseu, que se encontra “esquecido e estagnado no tempo”. O segundo mais novo candidato às autárquicas no país, com 19 anos, foi o eleito pelo Chega para “combater o despovoamento e manter os tarouquenses na região”, ao valorizar a cultura, a agricultura e a tradição.




Eduardo Sousa, de 19 anos, é o segundo candidato mais novo às eleições autárquicas
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A frequentar o segundo ano da licenciatura de Arqueologia na Universidade do Minho, depois de já ter passado pelas juventudes do PSD e CDS, Eduardo não vê a idade como um problema. “Temos assistido ao abandono das freguesias devido à falta de oportunidades para os jovens e à incapacidade de valorizar as riquezas do concelho. Apesar da minha idade, nas ruas, tenho recebido bastante apoio nesse sentido”, refere ainda.

Já Diogo Ramalho, de 24 anos, filiado no PS desde os 15, é o candidato à presidência da Câmara Municipal de Alcobaça, em Leira. Natural de Maiorga, uma freguesia do concelho, o jovem é autarca na Assembleia Municipal de Alcobaça e na Assembleia de Freguesia de Maiorga. Apesar de nunca ter sentido entraves à participação política devido à juventude, o panorama mudou de figura quando se assumiu como candidato à presidência do município.




Diogo Ramalho, de 24 anos, é o candidato do PS à Câmara Municipal de Alcobaça
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“As pessoas ainda têm estereótipos e vêem o presidente de Câmara como um homem de meia-idade. Como a minha candidatura não corresponde a esta imagem, senti que as pessoas não tinham confiança em mim e achavam que ainda não estava preparado para assumir a responsabilidade”, explica o técnico superior financeiro, ao referir que, independentemente do resultado, a candidatura já conseguiu mostrar que um jovem pode “ter uma participação activa na vida política, mesmo num grande partido”.

Este sentimento é partilhado por João Morgado, de 25 anos, candidato da AD à Câmara Municipal de Abrantes. “Nascido e criado” no concelho, o jovem membro da Assembleia da União de Freguesias de São Miguel do Rio Torto e Rossio ao Sul do Tejo e presidente da Juventude Social Democrata Distrital de Santarém vê a juventude como uma “vantagem e necessidade”. “Vivemos num concelho que está estagnado e muitos votaram pela juventude e necessidade de mudança. Aliás, sinto que os eleitores reconhecem que estão a dar uma oportunidade aos jovens”, começou por dizer.




João Morgado, de 25 anos, é o candidato da AD à Câmara Municipal de Abrantes
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Nas ruas, os eleitores mostram apoio a “uma candidatura mais jovem, com uma equipa com experiências em vastas áreas e congregadas por um líder jovem”. “Nas arruadas, dizem que é preciso pessoas novas e novas pessoas à frente do destino de Abrantes. Queremos criar condições para que muitos não tenham de sair e que outros possam regressar”, completa.

Notícia actualizada às 16h

Texto editado por Renata Monteiro