Cansada de esperar por ajuda dos aliados, a Ucrânia decidiu avançar com os seus próprios meios para atingir a Rússia onde dói mais. Os efeitos, esses, já se vão notando
Mais alto, mais longe e mais profundo. A Ucrânia está a intensificar os ataques contra as infraestruturas energéticas, procurando atingir por si os alvos que há muito quer que o Ocidente ataque, ainda que com outras armas.
Enquanto Estados Unidos e União Europeia vão dizendo que é preciso atacar a indústria petrolífera russa economicamente, a Ucrânia vai fazendo o mesmo, mas com armas.
O objetivo é o mesmo, a maneira de lá chegar é que é diferente. Em vez de esperar pelas discussões nos escritórios de Washington ou de Bruxelas, Kiev decidiu avançar de forma decisiva, utilizando autênticos enxames de drones para atingir a Rússia naquele que é o seu verdadeiro motor de guerra.
Os ataques mais a sério começaram em agosto, com refinarias de petróleo a serem atacadas um pouco por todo o território russo. Mas os ataques que pareciam só durar algumas semanas já vão para meses, começando a ficar cada vez mais intensos e eficazes.
Exemplo disso é o que aconteceu em Novorossiysk, no Mar Negro, mas ainda mais no complexo do Bascorcostão, a mais de 1.300 quilómetros de alcance da Ucrânia. Este último ataque mostra que a Ucrânia não só está empenhada em continuar a atingir a economia russa, como tem capacidade para o fazer a distâncias que se julgariam impensáveis.
O ataque a Chuvashia, a cerca de mil quilómetros, é outro exemplo disso mesmo, tal como o ataque a Yaroslavl, que provocou uma disrupção tal que a Rússia veio justificar-se com problemas “técnicos” para explicar porque é que a produção foi afetada.
Pelo fim do primeiro mês de ataques a agência Reuters já dava conta de que 17% da capacidade de refinação da Rússia tinha sido danificada. Um dado que subiu de forma considerável: a revista The Economist aponta que 40% das infraestruturas foram atingidas, sendo que 20% da produção chegou a estar sem funcionar em simultâneo.
Uma perda que representa uma quebra de produção de um milhão de barris de petróleo por dia, segundo a Energy Aspects.
“As capacidades do complexo militar-industrial do inimigo foram significativamente reduzidas; podemos ver isso no campo de batalha”, afirmou o chefe das Forças Armadas da Ucrânia, Oleksandr Syrsky.
E isso deve-se, em grande parte, mais aos ataques realizados contra a indústria petrolífera do que às operações contra locais de armazenamento de armas.
Citado pelo The Economist, Benedict George, que faz análise de preços para a Argus Media, indica que já foram atingidas 16 das 38 refinarias da Rússia, sendo que alguns dos locais foram alvejados por três vezes.
Entre esses alvos está a refinaria de Ryazan, localizada a 200 quilómetros de Moscovo e capaz de produzir 340 mil barris por dia. É a maior central de transformação de petróleo e, por isso, um dos alvos primordiais.
Outro dado que explica o impacto dos ataques é a exportação. A Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo, mas a venda deste produto caiu 30% em apenas um ano, o que também está a afetar a economia interna.
Na longínqua cidade de Vladivostok, por exemplo, foram vistas filas de um quilómetro em postos de abastecimento. É em locais como esses que já está a haver racionamento de combustível, num sinal claro de que há problemas.
E se os problemas já chegaram aos civis, a Ucrânia acredita que o continuar desta operação possa atingir o Kremlin de duas formas: primeiro perderá algum apoio popular, já que há maior escassez de produtos; depois, se o problema continuar, a máquina de guerra ficará mais difícil de alimentar.