Em funções há menos de um mês, o recém-nomeado primeiro-ministro francês estava debaixo de críticas da oposição e da direita e de ameaças de censura depois de ter revelado, no domingo à noite, parte do seu Governo


A primeira parte do Executivo revelado por Sébastien Lecornu era constituída na sua maioria por ex-ministros e pessoas próximas de Emmanuel Macron, nomeadamente: Gérald Darmanin (Justiça), Bruno Le Maire (Forças Armadas), Bruno Retailleau (Interior), Elisabeth Borne (Educação) e Rachida Dati (Cultura).O regresso do ex-ministro da Economia, Bruno Le Maire, ao governo foi alvo de duras críticas. Le Pen considera “patético” o regresso do “homem que levou a França à falência”, já Éric Ciotti “um insulto aos franceses”. 

Após uma reunião de mais de uma hora com Emmanuel Macron, esta manhã, no Palácio do Eliseu, em Paris, a Presidência francesa anunciou que Emmanuel Macron aceitou o pedido de demissão apresentado por Sébastien Lecornu. 


O primeiro-ministro demissionário convocou os seus ministros para uma reunião em Matignon às 13h00 de Paris (12h00 em Lisboa) e dirigiu-se ao país ao final da manhã para explicar a sua decisão.


“As condições não estão reunidas”


Sébastien Lecornu considera que a tarefa de governar é “difícil” e “sem dúvida ainda mais neste momento” e argumenta “que as condições não estão reunidas”, devido à atitude dos partidos políticos. O mais breve primeiro-ministro de França garante que estava “disposto a fazer cedências” antes de abandonar o cargo mas que “os partidos fingiram não ver os avanços”.


O chefe de Governo demissionário explica que “faltava pouco para que pudéssemos conseguir” e que a composição do seu governo “não foi fluída” e denuncia o “apetite partidário” de certas formações políticas relacionado com a aproximação das eleições presidenciais.”É preciso sempre preferir o país ao partido”, afirma Lecornu,
lamentando a existência de “muitas linhas vermelhas” entre as
oposições. 

Face a um cenário de crise política, Lecornu apela aos políticos para que demonstrem “humildade e talvez também um pouco de modéstia em relação a certos egos” e que sejam desinteressados.


Como explica a correspondente da RTP em França, Rosário Salgueiro, a bolsa francesa (CAC 40) está em queda livre desde o anúncio da demissão de Sébastien Lecornu, com uma perda superior a 1,7%. Também os bancos franceses perdem entre 4% e 5%.


Apelos à dissolução da Assembleia e demissão de Macron


O presidente do partido de extrema-direita Rassemblement National (RN), de Marine Le Pen, apela a Emmanuel Macron para que dissolva a Assembleia Nacional. “Sem dúvida que o efémero primeiro-ministro não tinha margem de manobra”, reagiu Jordan Bardella, que disse “estar consternado” com o Governo de continuidade nomeado na véspera. 


A líder do deputados do RN, Marine Le Pen, sauda “uma medida de sabedoria” tomada por Sébastien Lecornu e apela também à dissolução da Assembleia Nacional, questionando a capacidade de Macron de “resistir à dissolução”.




“Apelo a que dissolva a Assembleia Nacional, estamos no fim do caminho. Não haverá mais amanhã. A piada acabou, a farsa já durou o suficiente”, afirmou Le Pen, em declarações aos jornalistas. 

Já no campo oposto o líder do partido da esquerda radical La France Insoumise exige a análise da moção de destituição do chefe de Estado. “Após a demissão de Sébastien Lecornu, solicitamos a análise imediata da moção apresentada por 104 deputados para a destituição de Emmanuel Macron”, escreveu na rede social X. 


A mesma pressão é exercida pela líder dos deputados do La France Insoumise, Mathilde Panot, que considera que “a contagem decrescente começou” e apela também para que o presidente da República “saia”. “Três primeiros-ministros derrotados em menos de um ano”, denuncia.