Demorou muitos dias até ver a sua situação resolvida enquanto continuava a somar faltas injustificadas aos treinos do Sporting, percorreu muitos mais quilómetros quando finalmente rumou ao único clube que queria. Viktor Gyökeres não demorou a ter um impacto reconhecido depois de ser apresentado como novo reforço do Arsenal: as camisolas 14 bateram recordes de vendas (com a loja online a estar mesmo em baixo durante um par de horas), os companheiros foram mostrando grande abertura nos primeiros dias, Mikel Arteta teve um cuidado especial em trabalhar com o avançado em todos os treinos. O melhor período da carreira durante os dois anos em que esteve em Alvalade fazia parte do passado mas ninguém se esquecia do sueco.

“Sabemos o quão assustador é jogar contra ele”: Saliba está “feliz por jogar” com Gyökeres (que bateu recorde de vendas de camisolas)

Nem tudo foram rosas na hora do adeus. Depois da divisão entre reconhecimento, saudade e críticas pela forma exaustiva (na ótica de quem tinha essa opinião) como o clube anunciou a saída do avançado nas redes sociais, a frase “Quanto maior é a espera, melhor é o sabor” também não caiu bem a alguns adeptos, vendo nessa afirmação uma crítica para todo o processo. Ainda assim, e nas entrevistas que foi dando aos meios do Arsenal, o sueco passou quase sempre ao lado do Sporting, apontando apenas o foco à nova etapa na carreira e à possibilidade de jogar pela primeira vez na Premier aos 27 anos após passagem pelo Championship.

“Sinto-me fantástico mas ao mesmo tempo foi muita coisa… É um sentimento fantástico mas não foi fácil chegar até aqui. Senti-me, várias vezes, sozinho e que as coisas não correram como queria, mas ao mesmo tempo aprendi muita coisa. Cresci e aprendi aquilo que tinha de fazer para jogar a um nível alto, para ser melhor, jogador mas também pessoa. Creio que cresci bastante durante os últimos anos e isso deu-me a oportunidade de estar aqui. Quero retribuir no campo. Número 14? Claro que conheço a história do Arsenal e da camisola 14, para mim é uma grande honra poder jogar com o 14. Só quero retribuir no campo e quero marcar golos”, apontou numa dessas entrevistas, quase que virando a página após toda a novela.

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No entanto, esta quarta-feira, Gyökeres deu uma entrevista ao canal sueco WTV onde falou um pouco mais sobre o processo que levou à saída duas semanas depois da data inicialmente prevista para se apresentar aos trabalhos… em Portugal. “Havia alguns clubes em Inglaterra e Itália mas também no Médio Oriente. Havia algumas opções, muito boas opções… É claro que pensas naquilo que tens à tua frente. Tens de tomar uma decisão mas desde o primeiro segundo que senti que era isto [o Arsenal] que queria. Não foi uma decisão difícil. Toda a gente teve de fazer sacrifícios para chegar aqui. Não foi um caminho fácil mas para chegar tão alto, às vezes é preciso algum tempo”, referiu o internacional escandinavo nessa conversa.

“Claro que tive altos e baixos. Acima de tudo, o último mês foi bastante difícil. Falou-se muito sobre o que aconteceu ou não aconteceu nas redes sociais mas as pessoas não sabem verdadeiramente o que aconteceu. Foi difícil, mas também sei que me tornou mais forte. Coisas que não eram verdade? Não é algo que queira falar publicamente, está arrumado. Sinto-me melhor olhando em frente e não quero meter as culpas em ninguém. Não preciso de atirar porcaria para cima de ninguém… Não preciso de dizer o que os outros fizeram ou decidiram. Não faço isso, apesar de haver pessoas que parece que precisam de dizer como é que os outros se devem comportar. Não sou assim. Como futebolista, quero sempre o topo”, acrescentou.

Já Jonathan Chalkias, um dos agentes que trabalha na empresa que gere a carreira do avançado, foi menos comedido nas críticas ao Sporting, dizendo até que foi o clube que dispensou o sueco de apresentar-se aos trabalhos (algo que, na verdade, nunca aconteceu – pelo contrário). “Se o [Hugo] Viana ainda estivesse no Sporting, o negócio tinha-se feito numa hora. Estava tudo escrito mas não tínhamos tempo para iniciar uma batalha legal. Não percebo como é que um jogador que marcou tantos golos e conquistou três troféus não mereceu mais respeito. Foi o Sporting que lhe concedeu férias extra”, comentou, recuperando essa ideia de que havia um documento escrito para a saída por 60+10 milhões… que nunca foi mostrado.

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“Esta indústria é sobre confiarmos nas pessoas. Os sacrifícios que fizemos foi, provavelmente, o ponto de viragem para que o negócio se fizesse. Ofereceram-no ao Real Madrid, fizeram manchetes com o Real e até com o United mas desde o primeiro dia que havia um compromisso com o Arsenal. O Viktor confiou sempre no projeto do Hasan [Çetinkaya]: acordaram ir para uma liga com menor exposição, como a portuguesa, para ganhar títulos e para conseguir voltar à Premier League”, completou Jonathan Chalkias, na véspera da provável estreia do internacional escandinavo pelo Arsenal, num particular com o Tottenham.