Quando uma mulher opta por colocar uma prótese de silicone, seja por reconstrução mamária após o câncer de mama ou por escolha estética, espera encontrar segurança, autoestima e qualidade de vida.

O que jamais se espera é que esse produto, vendido como sinônimo de confiança, possa desencadear uma nova e devastadora doença.

O Linfoma Anaplásico de Grandes Células associado ao implante mamário (BIA-ALCL) é um tipo de linfoma não Hodgkin de células T. Ou seja, não é um câncer que se desenvolve no tecido mamário, mas sim um câncer do sistema imunológico, que aparece na cápsula fibrosa formada pelo corpo ao redor do implante de silicone.

Por isso, costuma-se dizer: um câncer na mama que não é de mama.

A falsa ideia de raridade

Muitas fabricantes e órgãos reguladores insistem em classificar o BIA-ALCL como raro.

Mas, na prática, o número de mulheres afetadas é significativo, e os casos vêm crescendo à medida que o tema é mais estudado e divulgado.

Patrocino ações de vítimas diagnosticadas com essa doença que enfrentaram tratamentos duríssimos: dezenas de sessões de quimioterapia, cirurgias de explante e até transplante de medula óssea.

Para essas mulheres, pouco importa a estatística: a dor é concreta, e a vida foi marcada para sempre.

Adoecer por confiar

Ninguém adquire um produto médico esperando adoecer.

Essas mulheres confiaram na qualidade e na promessa de segurança que lhes foi vendida.

No entanto, foram surpreendidas com um diagnóstico que mudou radicalmente suas vidas.

Elas adoeceram porque confiaram.

A importância do acompanhamento médico

É fundamental que todas as mulheres com implantes mamários tenham acompanhamento médico regular.

Exames de imagem e consultas periódicas são essenciais para identificar precocemente alterações, como acúmulo de líquido em torno da prótese, dor, inchaço ou nódulos.

A informação é a maior aliada.

Não basta colocar a prótese: é preciso monitorar.

Muitas vezes, o diagnóstico do BIA-ALCL só é confirmado após a retirada do implante e biópsia da cápsula que o envolve.

Por isso, atenção e vigilância são medidas que podem salvar vidas.

O direito de buscar reparação

As vítimas de BIA-ALCL têm direito a buscar uma reparação.

A responsabilidade das fabricantes é clara: se o produto ofereceu risco e causou doença, há obrigação de indenizar.

O CDC assegura o direito à informação clara, ao produto seguro e à reparação integral em caso de danos.

A luta dessas mulheres não é apenas pessoal. É também social e jurídica. Responsabilizar os fabricantes é proteger não só quem já sofreu, mas também todas as futuras pacientes.

O peso do tratamento e quem realmente lucra

Nem todas as mulheres diagnosticadas com BIA-ALCL conseguem arcar com os altos custos de um tratamento oncológico.

Muitas recorrem aos planos de saúde ou ao SUS – Sistema Único de Saúde para terem acesso a exames, cirurgias, quimioterapia ou até transplante de medula óssea.

Enquanto essas pacientes enfrentam filas, negativas de cobertura e, sobretudo, o peso emocional de uma doença grave, quem verdadeiramente lucra são as fabricantes de próteses mamárias.

O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de implantes, movimentando um mercado bilionário.

São empresas gigantes, líderes globais do setor, que enriqueceram ao vender a promessa de autoestima e bem-estar, mas que não assumem de forma proporcional a responsabilidade pelos riscos de seus produtos.

Essa realidade escancara uma contradição: de um lado, mulheres fragilizadas, adoecidas e em busca de tratamento digno; de outro, corporações que acumulam lucros às custas da saúde e da confiança de milhares de consumidoras.