De acordo com a Harvard Health Publishing, não se sabe se as tatuagens são causa ou fator de risco para o linfoma, mas há razões plausíveis para investigar se pode existir alguma conexão. A tinta injetada sob a pele contém diversos produtos químicos classificados como potencialmente cancerígenos, e sabe-se que os pigmentos podem acumular-se nos gânglios linfáticos pouco tempo depois de uma tatuagem ser feita.
Além disso, segundo o artigo, as células imunológicas da pele podem reagir a esses produtos químicos e migrar para os gânglios linfáticos próximos, desencadeando uma resposta imunológica em todo o corpo. Esse tipo de mecanismo é semelhante ao observado noutros fatores que se associam ao linfoma, como a exposição a pesticidas.
O que dizem os estudos?
A Harvard Health Publishing explica que a possível relação entre tatuagens e linfoma ainda não foi bem estudada. Até ao momento, existem apenas dois estudos publicados que exploraram essa hipótese, e nenhum deles conseguiu demonstrar uma ligação convincente.
O primeiro estudo comparou 737 pessoas com linfoma não-Hodgkin (o tipo mais comum de linfoma) com um grupo de controlo sem a doença. O resultado foi claro: não houve diferenças significativas na frequência de tatuagens entre os dois grupos.
Já um estudo sueco publicado em maio de 2024, que motivou várias manchetes alarmistas, analisou 1.398 pessoas com linfoma e 4.193 sem a doença, mas com sintomas semelhantes. Nesse trabalho, o linfoma foi 21% mais comum entre pessoas com tatuagens. No entanto, a Harvard Health Publishing sublinha que as diferenças encontradas não foram estatisticamente significativas, o que significa que os resultados podem dever-se ao acaso.
O mesmo estudo observou ainda que o risco de linfoma variava conforme o tempo desde a tatuagem:
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nos dois primeiros anos, o risco foi 81% mais elevado;
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entre três e dez anos, não se observou aumento significativo;
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após onze ou mais anos, o risco foi 19% superior.
Importa referir, contudo, que não foi encontrada relação entre o tamanho ou o número de tatuagens e o risco de linfoma, o que enfraquece a hipótese de uma ligação direta.
Fatores a considerar
Como ressalta a Harvard Health Publishing, mesmo que o risco pareça ligeiramente maior em alguns subgrupos, não há provas de que tatuagens causem linfoma. Estudos de associação, como este, não permitem determinar causalidade — podem existir outros fatores comuns entre as pessoas com tatuagens que expliquem os resultados.
Além disso, se as tatuagens fossem de facto um fator de risco relevante, seria de esperar um aumento nas taxas de linfoma ao longo dos anos, acompanhando a crescente popularidade das tatuagens. Porém, isso não tem sido observado nos Estados Unidos nem noutros países ocidentais.
Outros riscos conhecidos
A Harvard Health Publishing lembra também que, apesar de o risco de linfoma ser incerto, existem outros riscos reais e conhecidos associados às tatuagens, sobretudo quando não são realizadas em locais certificados ou com cuidados de higiene adequados. Entre eles estão:
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infeções bacterianas da pele ou hepatite viral;
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reações alérgicas à tinta;
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cicatrizes;
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e, mais raramente, cancro da pele (como melanoma).
Apesar do alarme gerado por algumas manchetes, não há evidências convincentes de que tatuagens aumentem o risco de linfoma, conclui a Harvard Health Publishing. São necessários mais estudos rigorosos e de longo prazo para compreender melhor esta possível ligação.
Enquanto isso, a recomendação dos especialistas é clara: quem desejar fazer uma tatuagem deve procurar profissionais certificados, garantir que as condições de higiene são adequadas e dar prioridade à segurança e à saúde da pele.