Passos Coelho só tem ido às autárquicas de forma cirúrgica e faz sempre questão de justificar o motivo. Primeiro na Amadora, onde foi candidato autárquico em 1997, e esta segunda-feira em Sintra, onde é eleitor. Mas não se inibe de dizer o que pensa. Antes de Luís Montenegro, foi Pedro Passos Coelho o último primeiro-ministro do PSD a disputar umas eleições autárquicas ao mesmo tempo que ocupava a chefia do Governo e, por isso, são inevitáveis comparações sobre as consequências a nível nacional das eleições locais.
Apesar de reconhecer as particularidades de umas autárquicas, Passos Coelho não nega que há “interferência” e “leituras” nacionais, elevando a fasquia para Luís Montenegro. É que agora, lembra, há uma conjuntura mais favorável do que em 2013 — o último ano em que o PSD foi a votos nas autárquicas ao mesmo tempo que liderava o Governo. Nessa altura, o país ainda vivia sob o jugo da troika e austeridade.
Passos tem sempre contrastado com Montenegro pela forma como normaliza conversações com o Chega e, sem surpresa, manteve a mesma linha. Ao lado do candidato do PSD/IL/PAN, Marco Almeida, o antigo primeiro-ministro afastou a existência de linhas vermelhas na governação do poder local e deixou um apoio, ainda que tímido, a Carlos Moedas. Isto porque, garante, não participará em mais nenhuma ação de campanha fora do município onde vive.
Antes de um pequeno almoço que simbolizou um apoio ao candidato do PSD, Passos Coelho deixou alguns recados e conselhos sobre as eleições de 12 de outubro e a forma como o PSD deve encarar o novo mapa autárquico que surgir deste ato eleitoral.
Pedro Passos Coelho foi o último primeiro-ministro do PSD a enfrentar umas eleições autárquicas a partir do Palacete de São Bento mas, aos dias de hoje, aumenta a fasquia da exigência para Luís Montenegro.
“Nas encostas da crise, quando estávamos a sair, o PSD perdeu câmaras que nunca tinha pensado perder e ganhou outras que nunca tinha pensado ganhar. Qualquer que seja a leitura do ambiente nacional, não pode ser comparado com as provações que passámos muitos anos antes”, frisou o antigo chefe do Governo, sugerindo que a conjuntura atual é mais fácil para Montenegro do que foi aquela que enfrentou em 2013.
Enquanto líder do PSD, Pedro Passos Coelho atravessou duas eleições locais: as de 2013 ainda no Governo e as de 2017 já na oposição. Nenhum das duas correu bem, mas o início da quebra foi em 2013 quando os eleitores castigaram particularmente o PSD. O partido conquistou na altura apenas 106 presidências de câmara contra 150 do PS.
Apesar de reconhecer que “as eleições autárquicas são muito específicas”, Pedro Passos Coelho também assume que “o ambiente nacional tem interferência no resultado” e que “há sempre leituras nacionais”, embora acredite que “as pessoas escolhem atendendo ao que está em jogo, que são as autárquicas”.
Há duas semanas, na apresentação de um livro sobre as parcerias publico-sociais na saúde, Pedro Passos Coelho criticou a política do Governo de “chuta-se a bola para a frente e depois logo se vê como é que se faz” e desta vez, sem acrescentar a essas declarações, lembrou apenas que a conjuntura é mais benéfica para o PSD do que a que enfrentou na liderança. Aliás, já na oposição, em 2017, foi na sequência de um mau resultado eleitoral nas autárquicas que Pedro Passos Coelho decidiu não se recandidatar à liderança do partido.