Abir Sultan / EPA

Homenagem às vítimas do ataque do Hamas no festival de música Nova
Um alerta da segurança interna israelita sobre atividades suspeitas em Gaza enviado horas antes dos ataques de 2023 foi recebido pela polícia apenas meia hora depois de terem começado, segundo um relatório divulgado esta segunda-feira.
A agência de segurança interna de Israel Shin Bet enviou um alerta preliminar sobre o ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023 às 03:03 locais, meia hora depois de os ataques terem começado, quando detetou que membros do Hamas tinham ativado telemóveis com cartões israelitas.
A informação consta de um relatório, divulgado na véspera do segundo aniversário dos ataques do Hamas pelo jornal Haaretz , que foi elaborado pelos serviços de informações da polícia com base nas comunicações recebidas do Shin Bet.
“De acordo com as informações de que dispomos, há indícios da utilização e atividade da rede SIM em várias brigadas do Hamas. Até ao momento, não temos informações sobre a natureza da atividade”, avisou o Shin Bet, segundo o relatório citado pelo Haaretz.
“No entanto, é importante notar que se trata de um agregado invulgar e, tendo em conta outras indicações, isso pode indicar uma atividade ofensiva do Hamas”, acrescentou o Shin Bet.
Também a própria Mossad, uma das mais temíveis e conceituadas agências de inteligência do Mundo mas que foi apanhada de surpresa pelo ataque, tem sido colocada em causa pelos israelitas, que estavam calmamente a relaxar ou rezar durante o fim de semana de um feriado religioso quando ouviram soar as sirenes.
Na manhã do ataque da organização terrorista palestiniana, as sirenes começaram a soar nas localidades junto à fronteira com Gaza às 06:29, e os milhares de jovens que na altura assistiam ao festival de música Nova, perto do ‘kibutz’ Re’im, foram avisados minutos depois para se proteger.
No entanto, o alerta do Shin Bet só chegou à polícia às 07:03, já os ataques estavam em curso há meia hora, concluíram os investigadores no relatório divulgado pelo Haaretz.
Altos responsáveis da polícia citados no relatório disseram que na noite anterior ao ataque houve uma “atualização de sistemas” de comunicações, o que provocou o atraso na receção do alerta do Shin Bet.
“Ninguém se apercebeu disso até de madrugada”, segundo a informação publicada no jornal israelita. Supostamente, os serviços de informações da polícia começaram a analisar os dados horas depois e só os enviou a todos os distritos policiais àss 08:00.
Nessa altura, já tinham começado os ataques contra a cidade de Sderot, os ‘kibutz’ mais próximos da Faixa de Gaza e o massacre no festival de música Nova já tinha ocorrido.
Os ataques de 7 de outubro foram o maior desastre de segurança da história do país. Nunca tantos judeus foram mortos num só dia desde o holocausto.
Embora tanto o exército como o Shin Bet tenham elaborado relatórios para tentar esclarecer os erros e as causas que os permitiram, o Governo de Benjamim Netanyahu recusa-se a lançar uma investigação estatal às falhas na identificação da ameaça iminente.
Os relatórios do exército e do Shin Bet, ou pelo menos as partes que foram tornadas públicas, quase não trouxeram revelações novas, e muitos dos detalhes já tinham sido divulgados meses antes pela imprensa nacional.
Por essa razão, uma grande parte da sociedade israelita, em especial as famílias dos 251 reféns feitos pelo Hamas na data do ataque, tem exigido que o Governo crie uma “comissão estatal de inquérito”, com amplos poderes para investigar e convocar responsáveis públicos.
Até ao momento, apenas seis altos responsáveis israelitas, tanto do exército como do Shin Bet, deixaram os cargos por não terem conseguido prevenir ou limitar os ataques de há dois anos.
Os ataques sem precedentes do grupo extremista palestiniano causaram cerca de 1.200 mortos e o rapto de 251 pessoas que foram levadas como reféns para a Faixa de Gaza.
A retaliação de Israel, com uma ofensiva militar imediata contra o Hamas na Faixa de Gaza, provocou até hoje mais de 67 mil mortos e a destruição de grande parte do pequeno enclave palestiniano com cerca de 2,1 milhões de habitantes.
Uma comissão de inquérito internacional nomeada pela ONU acusou Israel em setembro de estar a cometer genocídio na Faixa de Gaza, que o Governo de Netanyahu nega.