Uma tese acadêmica, intitulada Melhoria contínua de processos sob a ótica da Saúde Pública e do Requisito Regulatório: estudo de caso da produção do Insumo Farmacêutico Ativo da Vacina de Febre Amarela Atenuada, ajudou a duplicar e baratear a produção de vacinas contra febre amarela da própria Fundação. Defendida em 2022 no Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) da Fiocruz, a pesquisa de doutorado foi desenvolvida pela farmacêutica Caroline Ramirez, que, na época, era chefe do Laboratório de Febre Amarela de Bio-Manguinhos, unidade da Fiocruz onde a proposta foi implementada. “Minha tese é baseada no conceito de melhoria contínua de processos, que é estudado na iniciativa privada, mas pouco explorado em instituições públicas”, explica a pesquisadora.
Foto: Pedro Paulo Gonçalves (INCQS/Fiocruz)
O primeiro passo do trabalho de Ramirez foi analisar uma plataforma estabelecida pela iniciativa privada, denominada Metodologia de Análise e Melhoria de Processo (Mamp). A farmacêutica testou e adaptou a Mamp à realidade da planta fabril de Bio-Manguinhos. “Por exemplo, as empresas usam essas plataformas para aumentar o lucro econômico. Eu acrescentei a isso o impacto à saúde pública, o que pode ser entendido como o lucro social”, explica. A adaptação acabou gerando uma nova matriz, denominada Basicor, cuja sigla deriva nas iniciais dos seguintes conceitos: Benefício à Saúde Pública; Abrangência dos resultados; Satisfação do cliente interno e dos objetivos organizacionais; Investimento requerido; Cliente externo satisfeito; Operacionalidade simples; Requisito Regulatório. A farmacêutica esclarece a principal diferença entre a Mamp e a Basicor: “A primeira foca em resolver um problema no processo de produção; no nosso caso, contudo, não havia um problema, mas o processo poderia melhorar; ou seja, fazer mais com menos, daí nasce a Basicor”.
Após uma série de testes e ensaios, a pesquisadora observou uma oportunidade em relação à proporção de água e número de embriões de galinha usados para a produção do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) da vacina contra a febre amarela. “Percebi que podíamos ter mais água e menos embriões e extrair mais vírus para o IFA”, conta. O resultado foi a duplicação da produção por um custo menor: “barateamos, já que a água para injetáveis é produzida pela própria fábrica de Bio-Manguinhos”, conclui.
O trabalho de Ramirez foi incorporado a um projeto de melhorias da vacina contra febre amarela, iniciado em 2008. Em fevereiro de 2024, os frutos foram colhidos e Bio-Manguinhos duplicou sua produção; e, inclusive, incrementou sua exportação para países da América Latina e África. Para Armi Nóbrega, orientador da tese e atualmente assessor da Direção do INCQS, “o trabalho de Caroline foi um dos melhores que passaram por mim”. E completa: “havia um déficit na produção de vacinas de febre amarela; essa pesquisa, que mescla laboratório como análise de produção permitiu aumentar essa oferta. Uma contribuição inestimável para o SUS e para a Saúde Pública em geral”.