Ontem assisti ao documentário que trata, principalmente, de como o protestantismo pentecostal tem influenciado o cenário político do país nos últimos anos. De como a fé, o poder e a identidade religiosa, a polarização e a democracia se misturam no Brasil de hoje.
Para além do tema central, duas coisas me chamaram atenção no filme: as dramáticas cenas da pandemia ― principalmente no período em que a cidade de Manaus ficou sem oxigênio para os pacientes hospitalizados por covid ― e a postura de Lula durante e após o processo que o levou à prisão…
Desde o início da crise global, o governo federal vinha adotando posturas contrárias às orientações da OMS e da comunidade científica brasileira. Em janeiro de 2021, durante o colapso do sistema de saúde do Amazonas, hospitais ficaram sem oxigênio medicinal por vários dias e pacientes morreram asfixiados em seus leitos, à espera dos cilindros.
O Ministério da Saúde foi avisado com antecedência de, pelo menos, seis dias sobre a iminência da falta de oxigênio. Apesar disso, o governo não tomou medidas emergenciais para o rápido envio do insumo ― a FAB só começou o transporte após o colapso. Centenas de mortes poderiam ter sido evitadas.
Por outro lado, a forma como Lula enfrentou a sucessão de ataques que culminou em seu julgamento, sentença e prisão em 2018, diz muito sobre ele e os nordestinos. Não somos mais fortes; porém, aprendemos com o sofrimento, a resistir às situações hostis.
Lula não esperneou, nem se insubordinou contra os poderes constituídos. Não chantageou, não orquestrou golpes, não fez pirotecnias, nem se exibiu, ou foi arrogante. Ele lia e escrevia no cárcere e seu discurso era de “Voltar mais forte”.
O pernambucano demonstrou controle emocional e disciplina, além de capacidade de reorganizar alianças políticas após a derrota e o estigma sofridos. Sua trajetória de superação pessoal e moral expandiu ainda mais o capital político adquirido na década de 80, levando-o à reeleição em 2022.
A produção faz uma leitura moral daquele tempo, mostrando como o negacionismo, a desinformação e a ausência de empatia ainda que vinda de um governo que se assumiu “Terrivelmente evangélico” (e, portanto, supostamente influenciado por seus preceitos) podem levar uma sociedade inteira ao colapso.
Apocalipse nos Trópicos contribui com a reflexão de diferentes questões: preserva a memória de uma tragédia coletiva; mostra as qualidades do maior líder político da América Latina atual, reafirma a importância da ciência e da verdade e convida o país a enfrentar sua história recente com lucidez e sinceridade.
O documentário tem roteiro, produção e direção de Petra Costa. Estreou na Netflix em julho de 2025 e já foi exibido em diversos festivais internacionais, como o Festival de Veneza.