A fuga de um conjunto de documentos, verificados por um dos mais importantes think tanks de defesa e segurança, revela que a Rússia pode estar a ensinar a China como largar tanques e tropas de um avião. Trata-se de uma arriscada manobra da Guerra Fria, que a força aérea russa chama de aterragem “em comboio”.

Um antigo oficial dos serviços secretos ucranianos, que ajudou a analisar os documentos, diz que é claro o interesse da China em aprender a fazer isto.

“É, de facto, um componente fundamental, necessário para que a China esteja pronta para invadir Taiwan”, afirma Oleksandr Danylyuk.

Este ex-agente e uma equipa do Royal United Services Institute (RUSI) examinaram 800 páginas de documentos divulgados por piratas informáticos, que sugerem que as forças aerotransportadas mais experientes da Rússia podem estar a ajudar a China a preparar-se para invadir Taiwan.

Moscovo pode também fornecer veículos blindados, armas e treinar um batalhão de paraquedistas chineses, dizem os documentos.

“Se houver um regimento aéreo completo a aterrar em solo taiwanês, e à volta da capital, a capital pode ser tomada em poucos dias”, aponta Oleksandr Danylyuk.

Os estrategas militares chineses há muito que procuram formas de tomar o controlo marítimo e aéreo de Taiwan nas primeiras 72 horas, antes de os Estados Unidos e outros aliados de Taiwan tenham tempo de responder.

A CNN não verificou os documentos divulgados e não é claro se o acordo entre Moscovo e Pequim está em vigor.

O ministério dos Negócios Estrangeiros de Taiwan diz que “tomou conhecimento” da recente cooperação militar entre as duas potências.

A CNN também pediu esclarecimentos aos ministérios da defesa da China e da Rússia, mas, até agora, não obteve qualquer resposta resposta.

Os serviços secretos dos EUA dizem que o Exército de Libertação Popular da China (ELP) está também a expandir rapidamente a sua força de mísseis, bem acima de 3.000 mísseis, e novas bases de mísseis ao longo da costa chinesa, viradas para Taiwan.

Esta base que se mostra acima foi construída em apenas dois anos, segundo imagens de satélite de 2020 e 2022. E até estão a colocar novas bases em edifícios antigos.

“É aqui que está estacionada a brigada de artilharia do 73.º grupo do exército. O que é único é que utilizaram uma fábrica têxtil abandonada como base”, explica à CNN Joseph Wen, investigador de código aberto em Taiwan.

Nos últimos quatro anos, Wen tem utilizado imagens de satélite para mapear a enorme pegada militar da China.

“O que se vê neste mapa é Pingtan, o ponto mais próximo da China de Taiwan. E há muitas unidades de artilharia de longo alcance neste local, instaladas no final de 2022, logo após a visita de Nancy Pelosi a Taiwan”, indica.

Segundo o investigador, “nos últimos anos, o ELP tem-se concentrado mais em artilharia de menor custo e maior volume, relativamente de longo alcance, o que poderia esgotar a reserva de mísseis de defesa aérea de Taiwan”.

A força de mísseis da China tem sido abalada por escândalos de corrupção e ninguém sabe qual o desempenho dos seus mísseis em combate real.

Mas Taiwan não está parada à espera e tem reagido com exercícios militares, transformando as ruas da cidade em zonas de combate, estações de metro em campos de batalha simulados e uma mensagem clara para a população: estejam preparados.

Em Taipé, as pessoas teriam apenas alguns minutos de aviso se a China disparasse um míssil, é essa a rapidez com que podem chegar à ilha.

Os especialistas dizem que o reforço militar da China é o maior que o mundo já viu desde antes da Segunda Guerra Mundial, e embora o Exército de Libertação Popular tenha ultrapassado a Rússia em quase todas as áreas, a força aérea é uma exceção. Isso deve-se ao facto de as forças aerotransportadas russas terem experiência de combate, enquanto o ELP não tem, mas parece estar a preparar-se.