(dr) Unidade Local de Saúde Gaia e Espinho
Tudo foi feito de acordo com o protocolo. “Não há uma equipa médica à porta da urgência”, lembra a directora clínica do hospital de Gaia.
A diretora clínica da Unidade Local de Saúde de Gaia e Espinho apresentou a versão do hospital sobre o caso do bebé que nasceu na recepção do hospital em Vila Nova de Gaia.
Aconteceu no sábado passado: um bebé nasceu no chão da receção das urgências do Hospital Santos Silva, e terá batido com a cabeça no chão ao nascer.
A mãe, Fernanda, tinha sido enviada para casa pelos médicos duas horas antes do parto, apesar dos avisos aos médicos sobre um parto rápido (é o terceiro filho, os outros dois foram breves). Quando voltou, já estava em fase avançada, com contracções de quatro em quatro minutos.
Ana Margarida Fernandes, directora clínica, falou com os jornalistas nesta terça-feira. Contou que, quando se aperceberam que a mulher estava a entrar em trabalho de parto, “rapidamente foi activada a equipa de emergência do hospital e veio uma maca para socorrer”.
“Foi uma questão de segundos, poucos minutos. São situações que não conseguimos prever” – e ninguém se apercebeu de que era urgente? “Sim, a equipa médica reagiu logo. A mãe entra, a criança nasce, foi uma questão de segundos”, repetiu.
“Não há uma equipa médica à porta da urgência, como deve entender”, comentou a responsável.
Ana Margarida não confirma que o bebé bateu com a cabeça no chão ao nascer, dizendo que não houve testemunhas. Mas os jornalistas lembraram que um bombeiro viu o momento e que as câmaras de vigilância podem confirmar. “Do que eu sei, não há testemunhas”.
Vai ser aberto um inquérito, com revisões de processo e de procedimentos.
Mas a directora afasta negligência hospitalar: “A equipa médica, que está de consciência tranquila e a fazer o seu trabalho tranquilamente, actuou de forma imediata de acordo com os protocolos do hospital”.
“Independentemente disso, o bebé foi de imediato avaliado e internado no serviço de neonatologia”, mas não fez qualquer TAC. A equipa médica agiu “na suspeita de alguma condição clínica que pudesse colocar em risco a vida do doente”.
Agora o bebé “está bem, esteve sempre bem”, já teve alta de neonatologia e está a ser acompanhado com cuidados habituais para um recém-nascido.
A ginecologista-obstetra Evelin Pinto assegurou que quem tratou do caso foi uma equipa médica experiente. Na primeira observação, pouco antes deste momento, foram feitos os “exames adequados” e a mulher estava em “fase latente” de trabalho de parto. “Com segurança teve alta, até porque vive perto do hospital”.
“Em obstetrícia há situações imprevisíveis, como trabalhos de parto precipitados, que são raros”, comentou Evelin.
A médica garantiu ainda que todos os procedimentos foram revistos e foi tudo feito de acordo com o que está estabelecido pelo hospital.
Já Isabel Carvalho, directora do serviço de pediatria e neonatologia do hospital, contou que o bebé está junto da mãe, a mamar bem, a evoluir bem: “Continuará em vigilância até entendermos que pode ter alta”.
“Xenofobia”
A notícia já chegou ao Brasil. Na Globo, o Portugal Giro salienta declarações do pai do bebé, o brasileiro Frederico: “No primeiro atendimento, houve xenofobia. Gozaram com a minha esposa por estar a sentir dores e por estar a reclamar, já que era o terceiro filho. Não deram crédito ao que ela estava a sentir”.
Frederico acha que este caso foi uma mistura de xenofobia, burocracia e falta de preparação dos profissionais: “Foi falta de preparação. Eu a gritar por uma maca, havia polícias, bombeiros – todos a olhar passivamente. Cena revoltante, ao ponto de todos os outros pacientes ficarem indignados”.
O pai reforça que o historial já indicava que haveria uma dilatação rápida dilatação neste parto.
Ao contrário da versão do hospital, Frederico contou que o casal pediu acompanhamento, mas no hospital não fizeram nenhum exame. E ofereceram uma cadeira de rodas a Fernanda, “inadequada para seu estado clínico”.
O brasileiro apresentou queixa ao hospital, à Inspecção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) e à Ordem dos Médicos, por violação dos protocolos de emergência.
Nuno Teixeira da Silva, ZAP //