Candidato ao Benfica desvaloriza os resultados da gestão das suas empresas, garante que tem rendimentos de trabalhos de consultadoria e de cargos em empresas internacionais, mas, ao contrário de Rui Costa e Luís Filipe Vieira, se ganhar as eleições não tenciona abdicar do salário de presidente, previsto nos novos estatutos do clube
João Noronha Lopes, candidato à presidência do Sport Lisboa e Benfica, é sócio de quatro empresas com resultados financeiros frágeis ou atividade limitada: Vira Frangos, Porta Branca, AOL – Greatfoodbrand e Monte da Comenda – Agroturismo. As suas empresas juntas acumulam prejuízos de quase três milhões de euros, ou não têm atividade.
A mais relevante é a Vira Frangos, Lda., empresa de restauração que acumulou prejuízos superiores a 2,8 milhões de euros entre 2021 e 2024. A empresa, participada por Noronha através da Porta Branca, Lda., registou resultados líquidos negativos de -516.229,40 euros em 2021, -1.111.650,45 euros em 2022, -691.966,09 euros em 2023 e -500.332,98 euros em 2024. O capital próprio em 2024 é de apenas 32.418 euros, com um passivo de 1,71 milhões de euros e um ativo de 1,74 milhões, o que configura uma situação de falência técnica.
Já a Porta Branca, empresa de consultoria com sede em Lisboa, apresenta um capital social de cinco mil euros e apenas um funcionário. Em 2024, registou um resultado líquido de 34.471 euros, uma queda de 56,5% face ao ano anterior. A empresa gere investimentos superiores a 846 mil euros e participa em várias sociedades, incluindo a Vira Frangos, a AOL – GREATFOODBRAND, S.A. e a Clever Ventures, Lda.
Os gastos com pessoal em 2024 foram de 41.210 euros, dos quais 33.952 euros correspondem a remunerações dos órgãos sociais.
Por sua vez, a AOL – GREATFOODBRAND, S.A., anteriormente designada como AOL – Cozinha Portugal, S.A., está temporariamente inativa desde setembro de 2023. Constituída em 2017, a empresa apresenta prejuízos consecutivos desde a fundação: -122.397 euros em 2018, -286.958 euros em 2019 e -249.173 euros em 2020. O capital próprio é negativo em mais de meio milhão de euros. A auditoria às contas de 2020 foi qualificada, com os revisores a alertarem que “as Demonstrações Financeiras da Empresa apresentam, de forma recorrente, resultados negativos consideráveis, os quais estão, presentemente, a afetar o equilíbrio financeiro da Empresa.”
A quarta empresa ligada a Noronha Lopes é o Monte da Comenda – Agroturismo, Lda., localizada em Santa Justa, Évora. A participação do candidato é de 5%. Em 2024, a empresa registou um prejuízo de 16.408 euros, após ter apresentado um resultado positivo de 68.951 euros em 2023. O capital próprio é de 575.495 euros, com um volume de negócios de 961.808 euros e um EBITDA positivo de 71.875 euros.
Para Paulo Anjos, contabilista certificado, no que diz respeito à empresa Vira Frangos, há um risco de insolvência desde o início da sua atividade. “Este risco tem sido coberto por sucessivos aumentos de capital, mas sem ser superado, uma vez que são os sócios que têm coberto os prejuízos”, sublinhou o especialista, acrescentando que, no que diz respeito à sociedade Porta Branca, empresa através da qual Noronha Lopes disse estar a pagar a sua campanha, esta tem apenas uma liquidez de sete mil euros e é uma empresa familiar. Ou seja, os sócios são Noronha Lopes e a mulher.
Numa análise global, Paulo Anjos sublinhou o facto de Noronha Lopes, pelo menos a nível nacional, apresentar-se como sócio ou gerente de empresas de pequena dimensão que, ou dão prejuízo, ou têm resultados mínimos, ou já estão inativas.
Questionado pelo Exclusivo da TVI /CNN Portugal sobre a inconsistência dos resultados das suas empresas com a forma como se tem apresentado como um bom gestor com um “percurso profissional de 20 anos em grandes empresas de todo o mundo”, o candidato ao Benfica desvalorizou a questão, sublinhando que “faz parte” dos investimentos e explicou o seu ponto de vista focando-se na sociedade Vira Frangos.
“A empresa que refere é uma empresa que tenho com dois amigos. Queremos fazer com que seja a maior marca de restauração portuguesa no mundo. É uma startup e uma startup requer grandes investimentos no princípio”, disse, acrescentando que aquilo que têm feito é “exatamente grandes investimentos nessa empresa”.
“Afinar o conceito para depois exportar lá fora. Quem gere as empresas sabe que é exatamente isso que acontece em empresas de pequenas dimensões”, afirmou, sustentando que “a empresa foi considerada a marca mais inovadora em termos de retalho”.
“Quem está a fazer esses investimentos são os sócios porque têm capacidade financeira para o fazer. Já podíamos ter financiado a empresa de outra maneira, mas não o queremos fazer porque os sócios têm essa capacidade e bastava termos vendido uma das lojas para ter resultados positivos num ano”, justificou.
“Já abrimos uma loja em Espanha e temos a perspetiva de abrir uma loja até ao final do ano no Médio Oriente. Esta empresa vai ser a maior marca de restauração portuguesa no mundo. É um motivo de orgulho para nós e acho que vai ser um motivo de orgulho para os portugueses”, frisou.
Sobre a Porta Branca limitou-se a dizer que “não tem prejuízos”.
Tendo em conta estes resultados, de que vive o candidato ao Benfica?
Noronha Lopes disse que vive da sua “consultadoria”. “Eu continuo a ser administrador em várias empresas no estrangeiro, na América Latina e na Europa. Vivo do meu trabalho e dos rendimentos acumulados durante uma vida enquanto gestor internacional”, argumentou o candidato à presidência do clube dos encarnados, que também disse que, se ganhasse, tencionava receber a remuneração que passou a estar prevista nos novos estatutos para os membros da direção.
“É uma questão de princípio e uma questão de transparência. Foi essa a decisão dos sócios do Benfica e, portanto, estando a tempo inteiro juntamente com os meus vice-presidentes, se estiverem a tempo inteiro, vou cumprir esse desejo dos benfiquistas”, sublinhou, acrescentando: “Não é o salário que me move para ser presidente do Benfica. Aliás, eu concorri nas últimas eleições, onde isso não era possível.”
Já quanto ao valor do salário, Noronha Lopes disse logo que não seria determinado por si. “Vai ser uma Comissão de Remunerações, criada pelos próprios estatutos, que inclusivamente também prevê um limite aos salários. É um bom mecanismo para garantir que essas remunerações são razoáveis e de acordo com aquilo que é o clube.”
De sublinhar que da comissão de remunerações farão parte membros da candidatura vencedora.
No caso de Noronha Lopes os nomes que irão integrar a Comissão de Remunerações, se ganhar, já foram apresentados: João Moreira Rato (presidente), Pedro Penalva (vice-presidente), Carlos Pedrigão, Susana Farinhas (vogais) e Tiago Almeida (secretário).
Segundo os novos estatutos do Sport Lisboa e Benfica, aprovados em 2025, o artigo 68.º estabelece que: “O montante global das remunerações fixas e variáveis da totalidade dos membros da Direção não pode ultrapassar 0,5% (meio por cento) do valor da faturação consolidada de todas as sociedades participadas, direta ou indiretamente, pelo SPORT LISBOA E BENFICA no ano anterior à fixação da remuneração.”
Isto significa que o teto para os salários e prémios da Direção é diretamente proporcional ao volume de negócios consolidado do grupo Benfica no exercício anterior. No caso da época 2025/26, esse valor de referência é a faturação consolidada do exercício de 2024/25, que, segundo os dados financeiros divulgados pelo clube, atingiu os 411,5 milhões de euros – o maior valor de sempre.
Aplicando a fórmula prevista nos estatutos: 0,5% de 411,5 milhões de euros corresponde a 2.057.500 euros. Este é, portanto, o limite máximo permitido para o conjunto das remunerações da Direção na época 2025/26.
Noronha Lopes concorre para a presidência do Benfica com João Diogo Manteigas, Martim Mayer, Cristóvão Carvalho, Rui Costa e Luís Filipe Vieira. As eleições realizam-se a dia 25 de outubro.