As moções de censura apresentadas contra a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, após o seu discurso sobre o Estado da União Europeia, foram rejeitadas esta quinta-feira pelos grupos de centro-direita e centro-esquerda do Parlamento Europeu, que pela segunda vez em três meses voltaram a cerrar fileiras em torno da alemã e do executivo comunitário, perante os ataques das forças políticas nos dois extremos do hemiciclo.
Numa votação inédita – nunca até agora tinham sido apresentadas, discutidas e apreciadas duas moções de censura em simultâneo –, os eurodeputados chumbaram a proposta avançada pelo grupo da direita populista e nacionalista dos Patriotas pela Europa, com 378 votos contra e 179 a favor, e imediatamente depois rejeitaram uma proposta semelhante subscrita pelos membros do grupo d’A Esquerda, que só conseguiu o apoio de 133 dos 594 eurodeputados que participaram na votação, recebendo 383 votos contra.
Tanto os Patriotas pela Europa, como A Esquerda justificaram os seus pedidos de demissão de Von der Leyen com o resultado das negociações comerciais com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para Jordan Bardella, líder da bancada da direita radical e da União Nacional francesa, o acordo para a imposição de tarifas de 15% às exportações da UE correspondeu a uma “rendição”. A líder d’A Esquerda, Manon Aubry, eleita pela França Insubmissa, acusou Bruxelas de “vassalização” face a Washington.
Num curto discurso em que reconheceu as “preocupações legítimas” dos membros do Parlamento Europeu com os desenvolvimentos do Verão, em relação ao comércio ou às guerras na Ucrânia e em Gaza, Von der Leyen lamentou que as bancadas radicais perdessem o tempo do Parlamento Europeu com “truques políticos” para alimentar a confusão e a divisão. “Isto é uma armadilha e não podemos cair nela”, afirmou, acusando Bardella e Aubry de serem “amigos obedientes” de Vladimir Putin.
No início de Julho, o Parlamento Europeu já tinha rejeitado a primeira moção de censura contra a presidente da Comissão com 360 votos contra, 175 a favor e 18 abstenções. Para serem aprovadas, as propostas tinham que obter uma maioria de dois terços dos votos expressos representando a maioria dos membros que compõem o Parlamento.
Como há três meses, os membros das bancadas social-democrata, liberal e dos Verdes exigiram uma série de contrapartidas para manter a confiança em Von der Leyen e na sua equipa. “O nosso apoio não é incondicional”, disse a líder dos Socialistas & Democratas, Iratxe García, que quer ver várias das propostas do seu grupo vertidas no programa de trabalho que a Comissão vai apresentar em Novembro.
Os dirigentes do grupo Renovar a Europa e dos Verdes também lamentaram a falta de “progressos” em áreas que classificam como prioritárias: a execução do plano delineado pelo ex-presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, para promover a competitividade da UE, no caso dos liberais; a acção climática e a resposta à crise da habitação, para os ecologistas.
Quando foi reeleita para um segundo mandato à frente do executivo comunitário, depois das eleições europeias de 2024, Ursula von der Leyen conseguiu 401 votos a favor e 284 contra.