Na semana passada, os países do Grupo dos Sete (G7) – EUA, Japão, Canadá, Grã-Bretanha, França, Alemanha e Itália – concordaram em coordenar e intensificar as sanções contra Moscovo pela sua guerra na Ucrânia, visando os países que compram petróleo russo e, assim, permitem a fuga às sanções.
Os países não foram nomeados, mas a Índia, a China, a Turquia, membro da NATO, e outros aumentaram significativamente as suas compras de crude russo desde que Moscovo invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022.
Os EUA impuseram uma tarifa adicional de 25 por cento sobre as importações da Índia para pressionar Nova Deli a interromper as suas compras de crude russo com desconto, elevando o total das tarifas punitivas sobre os produtos indianos para 50 por cento.No entanto, Washington não tomou medidas semelhantes
em relação a outros importadores de crude russo. Também não é claro se a
Casa Branca apoiaria novas sanções contra o Kremlin.
“Esta é a grande incógnita da situação“, revelou o enviado da União Europeia para as sanções, David O’Sullivan, à Reuters, em entrevista.
“Há sinais de que ele (Trump) está a perder a paciência com o presidente Putin… mas se isso o levará a concluir que os Estados Unidos devem impor sanções adicionais à Rússia é uma questão em aberto”, alertou, acrescentando que os EUA precisam de alcançar o resto do G7 em termos de sanções, após o seu foco anterior na paz entre a Rússia e a Ucrânia.
Por exemplo, a União Europeia, o Reino Unido e o Canadá reduziram o teto de preços do crude russo do G7 para 47,60 dólares por barril no início de setembro, face aos 60 dólares anteriormente, mas os EUA não aderiram, uma medida que David O’Sullivan classificou de “lamentável”.Trump tem pressionado por tarifas sobre os
principais importadores de crude russo, mas O’Sullivan afirmou que
muitos países da União Europeia, bem como o Canadá e a Grã-Bretanha,
estão “menos convencidos” de que isto funcionaria e acreditam que a
pressão sobre os portos, a frota paralela e as refinarias seria mais
eficaz.
As potências ocidentais querem capitalizar a desaceleração da economia russa cortando uma maior parte das receitas ainda significativas de Moscovo com o petróleo e o gás.
O’Sullivan sustentou que acolheria com satisfação uma maior pressão dos EUA sobre a Eslováquia e a Hungria, membros da União Europeia, para que encerrem as suas compras de petróleo e gás por oleodutos – uma questão delicada para o bloco.
Entretanto, a União Europeia quer acelerar a eliminação gradual das suas importações russas de gás natural liquefeito (GNL) no seu 19.º pacote de sanções proposto.
Para O’Sullivan as sanções ocidentais contra a Rússia estão claramente a funcionar. “Todos os indicadores da economia russa estão a piscar a vermelho“.
“Tudo isto é indicativo da extensão da pressão que a Rússia sofre em consequência das nossas sanções. Mas, claro, estão constantemente a criar novos meios de contornar estas sanções e novas ideias sobre como as contornar, e precisamos de fechar estas lacunas.”China é o principal facilitador
Com a incerteza sobre o compromisso dos EUA com sanções adicionais, a União Europeia está a adotar uma estratégia paralela, visando o principal facilitador da Rússia: a China.
A União Europeia, a Ucrânia e os seus aliados veem a China como um nó central na rede de evasão de sanções de Moscovo, facilitando o fluxo de produtos de guerra e microeletrónica avançada utilizada em drones e mísseis. Os esforços para envolver Pequim estagnaram, uma vez
que a China nega ter feito algo para além do “comércio normal” com a
Rússia três anos após o início da guerra na Ucrânia.
“Por exemplo, os drones, que talvez sejam tecnicamente não militares até se tornarem militares – mas… não aceitam que esta seja uma forma de contornar a situação”, esclareceu O’Sullivan.
“Estamos lentamente a começar a abordar a questão dos maus atores na China”.
Bruxelas começou a listar entidades mais significativas em países terceiros nas suas recentes sanções. O seu 18.º pacote adicionou dois bancos chineses e o segundo maior complexo de refinação da Índia, enquanto o 19.º pacote, que ainda está em negociação, deverá listar refinarias chinesas independentes e bancos da Ásia Central.
“Vemos evidências de que a China é uma plataforma para a importação e reexportação para a Rússia de um número bastante significativo de bens de guerra. Preferíamos infinitamente ter um diálogo mais construtivo e sistémico com a China, mas até agora parecem pouco dispostos”, rematou David O’Sullivan.
c/ Reuters